Prof. Dr. A. A. Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e curadoria
científica
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No. 89 (2004: 3)
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Estudos urbano-rurais em contextos internacionais
450 ANOS DE SÃO PAULO
COLÓQUIO INTERNACIONAL DE ESTUDOS INTERCULTURAIS
ACADEMIA BRASIL-EUROPA
Paço Municipal de Joanópolis, 18 de março de 2004
No âmbito dos trabalhos do Colóquio Internacional de Estudos Interculturais
pelos 450 anos de São Paulo efetuaram-se sessões de estudos das
relações urbano-rurais no Instituto Brasileiro de Estudos Musicológicos
e no Paço Municipal de Joanópolis.
A primeira sessão foi dedicada a reflexões sobre o a história
das idéias concernentes a expressões culturais conotadas como
rurais, camponesas, sertanejas ou caipiras. A sessão foi presidida
pela profa. Isolda Bassi-Bruch, São Paulo, os trabalhos moderados
pelos professores Dr. Sebastião de Pinho (Universidade de Coimbra)
e Dr. A.A.Bispo (Universidade de Bonn).
Introdutoriamente, lembrou-se das dificuldades relacionadas com
o entendimento daquilo que é urbano ou rural dentro de uma concepção
que considera a processualidade da urbanização. Recordou-se a
discussão do conceito de "folk" dos anos sessenta e setenta, a
sua influência na conceituação de Folclore e a situação de reorientação
dos estudos culturais na atualidade. Esta é caracterizada em grande
parte pelo abandono de categorizações do objeto de estudo e de
essencializações ou "naturações", o que também vale para o caso
de uma cultura designada como interiorana, rural, caipira ou sertaneja.
Alguns nomes da história do pensamento no Brasil foram então relembrados
e considerados nos seus vínculos com correntes de idéias européias.
Entre êles, consideraram-se alguns nomes do início dos estudos
de tradições populares no Brasil, tais como Couto de Magalhães,
Sílvio Romero e Mello Moraes Filho. A atenção foi dirigida porém
principalmente ao século XX, lembrando-se o significado de Amadeu
Amaral para São Paulo.
Após conferência dedicada a esse estudioso, às suas publicações
e concepções, ouviu-se um trabalho referente a Cornélio Pires.
Retomou-se, aqui, à luz desses estudiosos, o debate relativo à
cultura caipira desenvolvido em eventos passados da Academia Brasil-Europa
no seu centro de estudos de Joanópolis. A principal parte da sessão
foi dedicada a Mário de Andrade, salientando-se mais uma vez a
necessária contextualização de suas idéias em determinada época
da história das idéias e, portanto, a de sua relativação. Foram
considerados, em especial, a questão de problemas de identidade
européia e o papel do Brasil em paralelos entre Jean Cocteau e
Mário de andrade.
Ouviu-se e debateu-se, a seguir, um trabalho de Sarah Collas de
título Identificação de grupos e preconceitos nos estudos culturais.
Por fim, tratou-se, em alguns pontos, o fenômeno da atual reconscientização
dos valores de uma cultura com conotações rurais.
Palavras de saudação
Dr. Ari Cardoso, Prefeito de Joanópolis
Interdisciplinaridade e estudos interculturais: Estética e Etnomusicologia.
Trabalhos orientados: 1974-2004
Dr. Antonio Alexandre Bispo
Questões de gênese de paisagens culturais nos estudos americanos
Christine Kossel (Alemanha)
Relações interculturais na Europa Central e sua extensão na América:
Polonia e Silésia
Kataryna Kauder (Polonia)
Relações interculturais entre o universo índico e o Ocidente
Indira Busse (Ilhas Maurícias)
Relações interculturais teuto-russo-judaico-ucranianas: Experiências
de vida
Nataljia Miller (Ucrânia)
Algumas das atuais publicações foram comentadas nas suas linhas
principais. Salientou-se que esse fenômeno não é apenas brasileiro,
podendo ser constatado em outros países da América Latina, nos
Estados Unidos e na Europa. Deve ser diferenciado daqueles da
valorização da cultura tradicional de determinadas fases político-culturais,
em geral nacionalistas, seja de direita ou de esquerda. Entretanto,
salientou-se que a análise da inserção política ou das associações
político-culturais desse fenômeno de valorização da cultura constitui
uma tarefa a que não se pode fugir, apesar de suas dificuldades.
A possibilidade de falsas interpretações do fenômeno por estudiosos
externos, não familiarizados com as sutilezas do complexo político-cultural
correspondente é grande. Salientou-se sobretudo a questionabilidade
de trabalhos de etnomusicológos formados na Europa, mesmo latino-americanos,
que agora descobriram a cultura caipira e, com base em limitadas
estadias no Brasil e partindo apenas da volumosa produção do mercado
de gravações, difundem opiniões sem a necessária consideração
da já longa história do debate específico.
Em sessão realizada no Paço Municipal de Joanópolis, presidida
pelo Prefeito Municipal Dr. Ari Cardoso, vários dos participantes
estrangeiros do Colóquio apresentaram trabalhos relativos ao complexo
do urbano/rural em diferentes regiões do mundo.
A sessão foi dedicada ao tema "Continuidade e transformações do
trabalhos interdisciplinar em 30 anos de estudos das relações
entre o processo urbanizador e a música". Lembrou-se, assim, do
primeiro curso do gênero, o de "Música e Evolução Urbana de São
Paulo", realizado em 1973/4 na Faculdade de Música e Educação
Artística do Instituto Musical de São Paulo em cooperação com
a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São
Paulo. Nesse curso, a discussão entre o rural e o urbano constituiu
importante aspecto e levou à realização de trabalhos acadêmicos
dedicados à cultura conotada como rural e relacionada com a viola
e instrumentos similares. Nos últimos anos, tem-se realizado na
Europa, em estreito relacionamento com o trabalho da A.B.E., seminários
dedicados às relações entre música e arquitetura. Assim, na Universidade
de Bonn, teve lugar um seminário superior dedicado ao tema "Música
e Urbanística", no qual muitos dos presentes haviam participado.
Cumpria refletir, nessa sessão, se houve continuidade no debate
de três décadas ou se está havendo repetições e contínuos descobrimentos
de "ovos de Colombo" pelos estudiosos europeus.
Dentre os vários temas tratados pelos conferencistas, salienta-se
aquele voltado a questões de Geografia Urbana e História da Cultura
nas Américas sob perspectivas interamericanas. Christine Kossel,
Alemanha, tratou de questões de gênese de "paisagens culturais"
nos estudos americanos. Aqui salientou-se, em conferência à parte,
a necessidade do estudo das culturas indígenas na sua inserção
no processo urbanizador de acordo com os trabalhos já desenvolvidos
e em desenvolvimento da A.B.E..
Outro complexo que mereceu particular consideração em diferentes contextes foi o da própria inserção de estudiosos, ou seja, o das relações internacionais nos estudos interculturais em função de problemas de identidade.
Dois casos foram exemplarmente apresentados a partir da experiência de vida de suas autoras. Um deles disse respeito a questões de identidade de pesquisadora da Ucrânia, Nataljia Miller, de ascendência judaica, emigrada para a Alemanha e que aqui estudava temas relacionados com processos urbano-culturais.
Outro dos temas foi tratado por pesquisadora proveniente das Ilhas
Maurícias, Indira Busse, de ascendência indiana, também emigrada
para a Alemanha.
Sob esse aspecto, discutiu-se a necessidade de consideração de
novos aportes dos estudos culturais - pós-colonialismo, estudo
de migrações e de culturas marginalizadas - com relação ao próprio
estudioso e correntes de concepção e de metodologia. Com isso,
salientou-se o escopo da Academia Brasil-Europa, pioneiramente
por ela estabelecido, de uma necessária vinculação dos Estudos
Culturais à Ciência da Ciência, ou seja, ao estudo dos pressupostos
sociais e culturas do próprio trabalho científico ("science of
science").