Prof. Dr. A. A. Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e curadoria
científica
© 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1999 by ISMPS e.V. © 2006
nova edição by ISMPS e.V.
Todos os direitos reservados
»»» impressum -------------- »»» índice geral -------------- »»» www.brasil-europa.eu
No. 84 (2003: 4)
![]() |
||||||
Entidades promotoras Direção geral |
||||||
![]() |
||||||
© Foto: H. Hülskath, 2002 Archiv A.B.E.-I.S.M.P.S. |
DO CONVÍVIO COM OS ÍNDIOS
[resumo da conferência gravada]
Valber Dias
(Palavras em Krahô)
Com essas palavras, eu estou saudando a todos. O Krahô saúda assim.
Dizem que Vocês estão aqui juntos, reunidos mais uma vez nesta
noite. Para que estão aqui reunidos? O que é que vou falar para
Vocês? Eu vou falar um pouco da cultura Krahô, particularmente
da vida comunuitária Krahô. Se eu fosse um musicólogo, depois
de uma experiência de muitos anos morando em aldeias Krahô, eu
teria coisas maravilhosas para contar. A nossa conferencista que
nos brindou com a sua belíssima pesquisa sobre o Krahô, está se
mostrando uma especialista nessa cultura, nos falou que o canto
é importantissimo. De uma importância extraordinária. O povo canta
muito. É uma verdade absoluta. O Krahô canta e canta e canta e
canta.
Infelizmente, não posso dizer muita coisa a respeito da cultura Xerente, por isso vou limitar-me ao canto Krahô.
Pode-se dizer que há três espécies principais de canto Krahô.
Temos um canto que é um canto solo, individual. Foi um desses
cantos que o Krahô entoou no início da nossa reunião. Ele canta
sozinho. Esse canto que ele entoou é um dos muitos cantos de Otu,
a casa de reunião, a casa comunitária. Há casa de homens e de
mulheres. As mais usadas são as dos homens. Se a aldeia é muito
grande, possui duas casas. "Casa" se denominada Otan. Sempre que
os homens vão fazer uma corrida, um ritual, se reunem nessa casas.
Há um canto de uma pessoa só, sendo que o grupo reunido apenas
escuta. É um conto de estória, de um caso, de um episódio engraçado,
de um um pequeno rito, de alguma estória antiga. Esses são assuntos
principais. Pode ser também um canto que fala da vida de um animal.
É um canto próprio de reunião. Deve-se mencionar também o canto
de ritual, aquele que é próprio de um rito, por exemplo o de luto.
Há o canto de Honkrepoy, o do coro das mulheres. É comunitário,
porque todos se reunem no pátio da aldeia, as mulheres formando
fila, ou seja, o coral. O cantador faz o canto com o maracá para
as mulheres. Foi aquele aqui apresentado. Os rapazes fazem passos
de dança atrás do cantador. As outras mulheres, aquelas que não
cantam, as velhas, ficam sentadas no chão, contando algumas estórias.
Toda a comunidade reune-se ao redor do cantador. Existem muitas
correntes de canto, muitas "escolas". Hoje diminuídas, muitas
delas se perderam. Falam elas de todas as coisas do universo.
Uma criança pequena, que alí se encontra, está apreendendo todo
o universo, conhecendo tudo antes de ter oportunidade de ver.
Exemplo de um canto de Honkrepoy, o canto do maracá.
Apresento aqui o desenho esquemático de uma aldeia Krahô. A sua forma parece uma roda de direção dos barcos ou de bicicleta com os seus raios. Todas as aldeias Krahô são redondas e, ao longo do círculo, no final dos raios, há uma rua circular. Nas beiradas de fora estão localizadas as casas. No meio da roda há uma outra roda menor, o pátio central da aldeia. Os caminhos são como raios que levam das casas até o patio central. Essa forma provém de uma maravilhosa sabedoria dos antigos. Esses teriam organizado o sistema de vida Krahô e todos os pontos principais de sua cultura, a sua espinha dorsal. Os seus nomes não permaneceram, porque a história Krahô não é baseada em nomes e datas. Apenas um nome é conhecido, que é o que representa toda a história dos antigos que legaram para os Krahô a organização tribal, a vida comunitária, os pontos basicos de sua cultura.
A aldeia Krahô possui muitos significados. É uma significação
tão rica que é muito dificil tratá-la resumidamente, em poucas
palavras. Pode-se dizer que a parte central da aldeia, com os
raios, é como o sol. Essa parte central é realmente o lugar do
sol. Ou seja, daquilo que o representa, do que personifica o sol.
É o lugar de tudo o que perfeito, local da energia e da luz. É
o lugar comunitário. Daqui irradiam os raios do sol que vão até
as casas. Eles são os condutores da energia para as casas, para
as famílias, trazendo vida. Nesse centro é que as reuniões são
realizadas e decididas todas as coisas comunitárias. É o lugar
principal do ritual. É o centro da comunidade, o lugar da vida,
da vida plena no sentido mais alto. É o lugar do começo, da festa
da vida, de todo o ritual do Krahô, ritual que é o de construir
o perfeito convívio de todos os habitantes da aldeia: a festa
da vida, a festa da alegria de viver. É chamado também da reunião,
a união por excelência.
O círculo de fora, o das casas, o da vida do dia-a-dia, com as
dificuldades, com os problemas, alegrias e tristezas, o quotidiano
das famílias, representa a vida que acontece a cada minuto. Essa
roda é como o caminho da lua. O sol é perfeito, é luz, energia,
e as casas representam o lugar da lua. As horas do quotidiano
são ora boas, ora mais difíceis. A lua surge como sendo a sombra
do sol, pois não tem luz própria.
Há um significado mais espiritualizado da aldeia. Fazendo referência
ao universo, o Krahô a localiza dentro do universo e dentro das
forças que o compõem. Essa aldeia atualiza e representa para o
Krahô, a todo o momento, o mito da criação. Temos, entre nós,
esse mito representado. Representado pelo jovem cantador que entre
nós se encontra, uma figura de extrema importância na cultura
Krahô.
Como vimos, o pátio central da aldeia é o lugar do sol e da comunidade.
Quem é que governa esse pátio? São os velhos, ou melhor, o Conselho
dos Velhos. O dono desse lugar de energia é chamado de Cantador.
O Cantador é aquele que traz para a comunidade, com o canto, todo
o universo. Ele tem parte com a sabedoria do Criador. O canto
do Cantador, dentro do pátio, com o coral das mulheres, com a
comunidade reunida, é o ponto alto da vida comum. Esse canto tem
várias correntes, linhas, que são passadas de um Cantador para
outro. O Cantador que se encontra entre nós recebeu o seu canto
de um outro Cantador. De modo geral, esse canto traz todo o universo
para o momento presente, descrevendo a harmonia e a beleza de
todo o universo. Toda a natureza é cantada, cada animal, até mesmo
os insetos possuem os seus cantos. Também os peixes, as árvores,
e as cores! Trata-se da atualização da Criação.
O índio vive uma vida de comunidade. Há níveis e intensidades
diferentes de vida comunitária. Entre os índios de língua Tupi,
as comunidades domésticas, as grandes familias são aquelas que
formam a comunidade. Elas possuem um patriarca que é um chefe
da aldeia. Os grupos de língua Gê, do Brasil Central, entre eles
os Menhi, um deles os Krahô, desenvolveram ao maximo a convivialidade.
O Krahô é um grupo que busca freneticamente a perfeita convivência,
o seu objetivo é a paz. Isso vai inclusive influenciar os seus
relacionamentos com outras aldeias e até com os brancos, seus
vizinhos e aqueles de outras localidades que por acaso tenham
contacto com eles.
Na busca dessa convivência, os Krahô são educados com muito esmero
para a vida comunitária. Nós chamamos de aldeia, mas os Krahô
eles possuem uma tradução diferente para a palavra aldeia. Nós
pensamos nas casas, eles pensam nas pessoas que compoem a comunidade.
A tradução de aldeia é, na verdade, comunidade, a comum união.
Assim, quando os brancos falam de alguma aldeia, os Krahô dizem
"Comunidade dos moradores de .....". A educação para convivialidade
começa desde cedo e todos os mecanismos da vida social da aldeia
estão dirigidos segundo essa linha de respeito entre as pessoas,
de compreensão mútua. De tal maneira que a vida comunitária torne
a vida alegre, sem problemas. Quando surgem problemas, empecilhos,
que perturbam a vida boa, reconhecem que é preciso fazer uma festa,
cujo nome é palavra-chave da vida Krahô. O que para os Guarani
é "a terra sem males", para os Krahô é Amekim, que significa literalmente
amar-se. A vida em que as pessoas estão ligadas umas com as outras
é constituída pela alegria de viver. É o que eles buscam, sempre!
Este é um objetivo não só comunitário, mas também individual.
Buscam sempre estar num estado de Amikin, ou seja, de alegria
de viver.
*
O que para os Tupi Guaraní representa a comunidade doméstica, para os Gê, em geral, é a aldeia, ou seja, a composição de familias diferente. Quando há apenas uma família na casa então não se fala em comundiade. Para se falar em comunidade tem-se de partir do diferente, do estranho. É aqui que vai surgir a vida de convívio. O diferente é importante. É o confronto de partes diferentes que age na criação de uma comunidade.
###
Confronto de duas metades sexuais. Dois seres com diferenctes
para contrpoem para formar uma unidade. Nao e um confronto para
ser infeliz, em um confronto para se compor uma unidade. Isso
existe em toda a naturzea. Imitado na vida hnumana. Por exemplo
o sol e a lua, diferentes. MDentro da naturzea as metades, dois
lados de noite e dia, terra e o ceu, varias outras confrontacoes.
Os proprios Kraho estao dividios em dois grupos.
Desde que nascem, eles est6ao divididos em dois grupos diferentes.
A metade dos que pertencem ao verao, tempo seco, e outro da chuva,
umido, inverno. Os que sao do inverno.. diferentes nomes. Esses
dois grupos nao se guerreiam. Respeito e de convivencia. Certas
disputas sadias, para corridasd. de tora. Cada grupo corre com
uma tora. Vao disputando com uma tora que vai chegar primeiro.
É o grupo, nao a pessoa. A vida Kraho está cheia de confrontacoes
para as complementacoes. Centro e periferia. Duas partes importantes,
diferentes do nosso modo de descrever as coisas. NBos falamos
individuo e sociedade. Os Kraho nao tratam muito da vida do in
divíduo. Eles consideram o Comunitário e o Familiar. Soao as duas
partes que compoem a aldeia. Direitos e deveres da Comunidade
e Familia. Se con frontam para compor uma harmonia, uma coisa
perfeita. ?Uma vida que estao ligadas. umas as outras.
Coisas praticas para se entender o sistema comunitario. Como constroiem.
O Kraho abomina o poder. porque o Poder no entender do Kraho é
fonte que traz como consequencia violência. E ele quer construir
a paz. Nao existe chefia com Poder na Comunidade Kraho. Quem coordena
mais na aldeia. Quem tem autoridade na Aldeia é o coneselho dos
velhos. Alem disso a autoridade se faz de maneira rotativa. Em
cada estacao existe uma autoridade. Na do inverna a aturodade
e dos que pertence a metade do inverno. E assim no verao. Rotativa,
exercicio da autoridade. O conselho dos velhos e propriamente
autoridade nas aldeias. OLs velhos que sao da metade do inverno
sao os que tem a iniciativa. Comecar a puxar as coisas, que vamos
fazer, vamos resolver, teem a palavra. Todos os dias os homens
se reuniem de manha e de tarde no patio central da aldeia. De
manha para combinar o trabalho do dia. Combinar qualquer atividade
que vao fazer. Todas as tarefas coletivas. Na noite, da tarde,
é a reuniao do relex, para acontar estoaias, discusso de assuntos
mais delongados. E momento de comecar a combinar entendimento
de maior peso, mais longo. Comeca a conversar para as terceiras
mentes para meditar, para saber o que decidir. No comeco, para
convocar, um velho vai para o meio do patio e chama os homens
para a reuniao. O CHAMADOR, é uma velho do inverno ou do verao.
Convoca as pessoas, chamando nome por nome. Se vira para uma casa
e chama e indica o partido do verao ou inverno, a metade. A autoridade
do que se chama Cacique, o chefe? No Amazonas há tribos que falam
de Morubixaba. Ele funciona para fora da aldeia autorizada para
relacoes exteriores. Autorizado pela aldeia. Dentro da aldeia:
traz as questoes externas para discussoes. Quem da as decisoes
é o conselho dos velhos. O cacique pode ser de qualquer partido.
Se esta no tempo do inverno, entao o cacique se for desse grupo,
entao ele tem autoridade, porque é o grupo esta com autoridade.
Pronto para tomar atitudes importantes, vivacidade. ALem disso,
em toda a vida do Kraho existem varioa pequenos mecanismos, aspectos,
modo de conviver, de viver, tudo enjcaminha no sentido da convivência.
Na educacao das criancas. Uma que comeca a ficar arredia, ou que
nao sabe repartir as coisas, estar bem, briga...Problemas de convivência.
Entao com muito carinho e oportunidade os pais osu irmaos ou avos
e tios vao : voce está sendo que nao sabe conviver. A convivencia
do casal. O homem quando entra dea casa, entra manso. Se a mulhe
diz palavra mais dura, nao responde. Ela puxa os cabelos, ele
nao fala, em nome da convivencia. Tudo o que se ofende, se desculpa.
Nada é indesculpável. Quando estao juntos e alguem tenha que sair.
Todos devem saber onde cada um vai e o que vai fazer.
Alguns aspectos do modo de vida desse povo. Que desenvolve agora
com muito mais dificuldade devido tudo o que entra. Mantem a gana,
a vontade de construir uma convivencia aharmoniosa, a paz, um
ambiente em que há a alegria de viver.
Musik, Projekte und Perspektiven. A.A. Bispo u. H. Hülskath (Hgg.).
In: Anais de Ciência Musical - Akademie Brasil-Europa für Kultur-
und Wissenschaftswissenschaft. Köln: I.S.M.P.S. e.V., 2003.
(376 páginas/Seiten, só em alemão/nur auf deutsch)
ISBN 3-934520-03-0
Pedidos com reembolso antecipado dos custos de produção e envio
(32,00 Euro)
Bestellungen bei Vorauszahlung der Herstellungs- und Versandkosten
(32,00 Euro):
ismps@ismps.de
Deutsche Bank Köln (BLZ 37070024). Kto-Nr. 2037661
Todos os direitos reservados. Reimpressão ou utilização total
ou parcial apenas com a permissão dos autores dos respectivos
textos.
Alle Rechte vorbehalten. Nachdruck und Wiedergabe in jeder Form
oder Benutzung für Vorträge, auch auszugsweise, nur mit Genehmigung
der Autoren der jeweiligen Texte.