Prof. Dr. A. A. Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e curadoria
científica
© 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1999 by ISMPS e.V. © 2006
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N° 63 (2000: 1)
Congresso Internacional Brasil-Europa 500 Anos MÚSICA E VISÕES Sob o patrocínio da Embaixada da República Federativa do Brasil Akademie Brasil-Europa Pres. Dr. A. A. Bispo- Dir. Dr. H. Hülskath em cooperação com/in Zusammenarbeit mit:
Internationaler Kongreß Brasil-Europa 500 Jahre
MUSIK UND VISIONENColonia, 3 a 7 de setembro de 1999
Köln, 3. bis 7. September 1999
Unter der Schirmherrschaft der Botschaft der Föderativen Republik
Brasilien
ISMPS/IBEM
Deutsche Welle
Musikwissenschaftliches Institut der Universität zu Köln
Institut für hymnologische und musikethnologische Studien
Profa. Dra. Maria Augusta Calado
Univesidade Federal de Goiás
Weiterreichende wissenschaftliche und kulturphilosophische Studien
der Kultur der Karajá der Gegenwart basieren auf dem Mythos vom
Ursprung dieses Volkes aus dem Wasser des Araguaia-Flusses. Dieser
Mythos wurde von der Verfasserin bereits 1967 aufgezeichnet und
wird in diesem Beitrag wiedergegeben. Ihr wurde auch der Sinn
des charakteristischen Zeichens des Karajá-Stammes, das sie auf
ihr Gesicht malen, erläutert. Es handelt sich um Kreise, die eine
symbolische Handlung darstellen, die einen Zugang zum Verständnis
der Weltsicht der Karajá ermöglicht. Das Kreisförmige herrscht
in der Dorfgestaltung, im Häuserbau, in der Choreographie und
in vielen anderen Aspekten der Kultur vor. Zugang zum Verständnis
der Welt- und Menschenauffassung sowie des Gemeinschaftslebens
der Karajá bieten auch die Puppen aus Ton, die inzwischen zu den
bekanntesten Kulturgütern der Indianer Brasiliens geworden sind.
Às margens do BEROHOKY- para os índios karajá, nome do rio Araguaia-, habitam os índios que se autodenominam INY, que na sua língua mater quer dizer: gente. Consideram-se navegadores. Karajá, foram os brancos que os cognominaram.
Sua ligação com o rio é fundamental, seja pela importância da pesca que é sua principal fonte de alimentação, seja o caminho fluvial, seja o mito da origem desses índios pois em Aruanã acreditam que vieram das águas.
Diz o mito que o peixe Aruanã saindo do fundo do rio Berohoky encantou-se com a beleza das praias, das flores, dos pássaros, enfim da natureza que ali existia. Chamou seus semelhantes e todos ficaram deslumbrados com o que divisavam. Pediram então a Kynyxiwe que os deixassem permanecer ali, fora da água. Kynyxiwe argumentou que para permanecerem nas praias perderiam a imortalidade. A beleza avistada foi tão extraordinária que para poder desfrutá-la preferiram tornarem-se mortais.
Colhi este mito em 1967, entre os caboclos da cidade de Aruanã.
Ali, entre eles ela aparece numa forma mais lírica, mas coincide
com a que o cacique Hawakati contou-me sobre o mito WOUBEDU:
Os karajá viviam debaixo do fundo da água, não viviam aqui fora,
na terra. WOUBEDU era o cacique desta aldeia (submersa). Engraçado
que ele tinha duas mulheres e uma mulher dele ganhou nené e o
índio sempre costuma oferecer mel à mulher que dá à luz. Diz que
lá no fundo não tinha árvore e eles pegavam mel no cupim, arrebentava
e tirava o mel. Quando foi certa tarde ele foi andando na praia
e afastou bem longe. Quando chegou num certo ponto da praia ele
abriu a ponta da água e saiu fora e viu um mundo diferente que
era aqui. Ele olhou e viu tudo diferente, viu árvores, pássaros,
muita caça e então saiu todo para fora. Fruta que lá não existia
ele olhou e passou a experimentar e de cada fruta ele foi colhendo
uma, fez uma cestinha de palha e foi colhendo. Chegou numa árvore
e ficou olhando e viu o mel, bem diferente, numa árvore, ele cortou
e usava uma cabaça, porque os índios usavam a cabaça para colocar
o mel. Disse que deu mel de sobra, encheu a cabaça e deixou mais
mel. Com isso, ele voltou, chegou lá na sua aldeia, chamou os
índios e foi distribuindo de um por um cada fruta para eles experimentar.
Aí falou de onde ele trouxe, de um lugar diferente que ele tinha
encontrado, o mel também. Aí ele fez uma reunião à tarde e perguntou
para o pessoal dele que quem fosse a favor e quisesse vir para
fora, levantasse a mão, e quem não quisesse vir para fora, ficasse
quieto. A metade levantou a mão para cima e esses no outro dia
acompanhou ele. Quando chegou no mesmo lugar que ele tinha saído,
da mesma forma como ele fez antes, ele abriu e foi saindo. Ele
saiu na frente e os outros atrás. Aí chegou KOBOÍ que tinha um
barriga muito grande, ele tentou sair e não conseguia. Aí os filhos
dele saíram na frente, queriam tanto sair, mas não podiam deixar
o pai. Aí o pai observou e disse: "Não filho, lá no fundo dágua
onde nós vivemos não existe morte, vocês vêem que não tem nada
morto e aqui vocês podem observar que o vento aqui é quente e
olha para lá, tem uma árvore morta ali, naquele outro lugar tem
um pássaro morto, e lá não é assim, aqui existe tristeza". Aí
ele voltou para as águas. O resto desse pessoal que saiu para
fora chegaram perto da ponta da ilha do Bananal. Eles falam que
tem o lugar, muita gente Karajá já foi conhecer esse lugar. Eu
tenho vontade de conhecer esse lugar aonde aconteceu isso. Chegando
lá eles se dividiram, uns iam para baixo outros iam para cima.
Dizem que existe o lugar de onde saíram. Assim é que os karajá
passaram a viver aqui fora. Só que a origem vem do fundo do rio.
Sempre que pergunto aos mais antigos, a história é sempre a mesma,
sempre a mesma. Até hoje os mais antigos não tiveram outra explicação
de onde vieram os karajá. Acho que por isso é que não saem da
beira do rio.
Este mito foi também narrado pelo mesmo índio Hawakati ao antropólogo Dr. Desidério Aytai em 30 de março de 1984, editado pelas "Publicações do Museu Histórico de Paulínia" (1993:57).
O mito Kaboí coletei com o karajá da ilha do Bananal João Werreria, tendo sido esse, publicado na "Revista Goiana de Artes" Vol 5 nº 2, Jul/Dez 1984. Nessa versão o nome é Kaboí, que sai do mundo subterrâneo, como também referiu Lipkind (1940:248) citando logo em seguida: "a morte não existia no fundo das águas" (1940:249), aludindo à crença ao mundo do fundo das águas.
KUMARULÊ: a marca Karajá
Os karajá distinguem-se dos demais índios brasileiros e americanos,
por tatuarem um círculo contínuo em cada maçã do rosto. A índia
karajá Jandira Diryty nascida na ilha e residente em Aruanã há
32 anos, disse-me chamar essa marca de komarulê, porém Mário Ferreira
Simões em seu livro "Cerâmica karajá e outras notas etnográficas"
(1992:37) chama esta marca tribal de omarury. Heloísa Fenelon,
denomina-a komnarirê (1978:58). Irmhild Wüst, audamanure (1975:104).
Couto Magalhães em seu "Dialeto dos Carajás" de 1889 registrou-a
como waaoumaourai (1975:199)35.
Ele é o símbolo, a marca karajá. Dizem os karajá que "é para que
sejam reconhecidas entre todos os índios, para não serem confundidos
com outras tribos". Existem ainda marcas faciais que são desenhos
lineares, mas a que os faz inconfundíveis são os círculos e esse
símbolo já não sabem o que significa apesar de alguns dizerem
representarem o sol e a lua.
O círculo facial komarulê é uma "ação simbólica" cujo sentido implica na visão do mundo karajá. Circulares eram suas antigas habitações. Círculos formam as figuras da dança tanto no pátio feminino quanto no pátio masculino, do ciclo ritualistico Aruanã que evoca o mito dos seres do fundo do rio, magistralmente registrada e analisada por Suely Brígido. (1994/1995:271-395)
Na cultura karajá, o círculo está representado em elementos diveros: casa, coreografia, tatuagem.
Esse símbolo possivelmente permaneça "inconciente como se refere
Geertz (1975:145), mas, talvez intencionalmente eles não nos deixam
penetrar em suas manifestações simbólicas, como a mim expõe esse
aspecto Raul Havakati, em entrevista em 27/07/95:
"O karajá nunca foi de esclarecer profundamente a tradição dele.
(...)O medo do karajá esclarecer é por causa desse problema da
tradição, porque isso envolve todo mundo, não só ele que relatou
como a sua família. (...)Aí é que está o grande mistério, até
hoje ninguém falou bem claro como é a tradição".
RITXÒÒ/RITXÒKÒ - TIOKÒ
Na língua dos karajá, quer dizer boneca. E a cerâmica figurativa, representação plástica da vida tribal karajá.
Essa bonecas foram descritas em 1888 por Ehrenreich, quando. passou pelo Araguaia em direção ao Xingu(MT). Krause, em estudos etinológicos pelo rio Araguaia em 1908, também observou atentamente a cerâmica karajá. Posteriormente mereceram o estudo de Baldus em 1936, Lipkind em 1948, Simões em 1954, Faria 1959, Chiara 1970, Fenelon Costa 1978, Ribeiro, D. 1983 e Ribeiro, B. em 1989.
Segundo aqueles que conviveram com os karajá ao longo do rio Araguaia, na temporada de pesca de ago/set nos idos de 20, 30, 40, e também sertanistas e fazendeiros que com eles mantinham camaradagem por estarem sempre em Leopoldina (hoje Aruanã-GO) por motivos cordiais ou comerciais, diziam que na realidade estas bonecas despertaram o interesse das pessoas, quando em 1940 ocorreu a "Marcha para o Oeste" conclamada pelo então presidente Getúlio Vargas. Sertanistas, pesquisadores, adentrando o sertão, encantaram-se com esta arte karajá. Outro fator que contribuiu para sua divulgação foi em 1937 a mudança da capital para Goiânia, cidade projetada, que atraiu gente de S. Paulo, Rio de Janeiro. Ao conhecerem essas bonecas nas "Casas Alencastro Veiga" e "Casas Karajá", adquiriram-nas admirados da estética e aprimoramento da cerâmica figurativa karajá.
A mulher karajá é excelente ceramista, seja utilitária ou figurativa.
As peças da década de 40 possuem cabelos em cera de abelha destacando o tufo de cabelo, corte característico do karajá. Uma cinta de palha de milho envolve os quadris desses tiokós e nas maças do rosto sempre o komarulê.
Apesar de Simões (1992:16) referir-se a lenda que lhe foi contada
pelo karajá da ilha do Bananal, Arutana, aludindo à pobreza da
mãe que não possuía brinquedo para dar à filha, originando-se
aí os tiokós, o que se sabe através dos antigos sertanistas, caboclos
e karajá de Aruanã, é que estando as ceramistas modelando suas
panelas, potes, ao depositá-los para secar, suas crianças vinham
manusia-las, movendo as peças, quebrando-as quase sempre, Como
os karajá não castigam os filho, astuciosamente as mães passaram
a modelar figuras humanas e da fauna a local para desviar a ação
dos filhos que então entretidos passaram a brincar com as bonecas
e assim não mais perturbaram o trabalho delas, Isso é que os antigos
contavam.
Essa prática tornou-se uma atividade lúdico-pedagógica pois ao
retratarem a figura humana com sua pintura corporal relacionada
com a identidade na tribo, transmitem regras hierárquicas, e sociais
quando reproduzem cenas do cotidiano como índias ralando mandioca,
carregando o pote, cenas de pesca, transporte por canoa etc.
Existe uma figura feminina que chame atenção por possuir duas ou mais cabeças. Os índios dizem que é porque a mulher fala muito, uma só fala por duas, três mulheres juntas.
Com respeito às figuras anômalas, esses mesmos antigos diziam que simbolizavam a passagem peixe/homem em sua metamorfose ao sair do fundo do rio. Por isso, uns são inteiros, sem braços e pernas. Em outra fase surge a bifurcção das pernas; noutra, despontam os braços. Essas formas distintas evoluem em estágios representando a transição do mito. Fenelon Costa (1978:56,57) trata este assunto "figuras estranhas" como a reprodução de "personagens de tradição karajá", conceito que remete a narração dos nossos antigos.
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