Prof. Dr. A. A. Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e curadoria
científica
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N° 18 (1992: 4)
O conceito de "método analítico" na pedagogia musical tornara-se
conhecido, no século XIX, sobretudo através da obra Guide de la méthode élémentaire et analytique de musique et de
chant, divisé en deux parties (Paris 1821-1824), de Guillaume-Louis Wilhem (1781-1842), o grande
nome do movimento orfeônico francês. No Brasil, o conceito une-se
à orientação pedagógica geral seguida nas Escolas Modêlo de São
Paulo, pela passagem do século. No prefácio desta obra (O Ensino da musica pelo Methodo Analytico, Publicação da Escola Normal de S. Paulo, São Paulo: Typ. Siqueira,
Nagel & Comp.-Rua Alvares Penteado 7,1914), os seus autores esclarecem
os motivos da adoção do método também na educação musical. A justificativa
da adaptação à música de um método defendido sobretudo para o
ensino da língua baseou-se na similaridade vista entre a música
e a linguagem:
"Duas foram as causas determinantes da nova feição que pretendemos
dar ao ensino da musica: a methodologia e a educação musical.
Encarando a questão sob o ponto de vista pedagogico, temos a dizer
que o methodo analytico, o methodo em que se parte do geral para
o particular, de todo para as partes, dos effeitos para as causas
é, exactamente, o que applicamos no nosso ensino primario.
As vantagens experimentadas com a execução deste methodo são extraordinarias,
maxime no ensino da leitura e da linguagem, cujos resultados são
surprehendentes e cuja porcentagem, na Escola Modelo 'Caetano
de Campos', já attingiu a 91/1/2 %.
Esse methodo tornou-se extensivo a todas as disciplinas escolares,
menos á musica; ora, elle não seria completo si não se podesse
estendel-o a todo o ensino, sem excepção.
Ainda mais, não é possivel admittir que a base do ensino, o methodo,
possa variar com cada uma das disciplinas.
Para que elle seja preciso e proporcione a unidade no ensino e
o encadeamento logico, é indispensavel que tenha uma unica orientação.
A Musica é a disciplina que mais analogia tem com a linguagem
- ella é a linguagem da alma, a linguagem do coração.
Manifestamos o nosso pensamento por meio da palavra falada, ou
escripta do mesmo modo que com a palavra musical - o compasso,
escrevendo ou entoando, entretemos a nossa vida de relação.
Na linguagem temos os symbolos formando as palavras e as palavras
formando as proposições e na musica temos os signaes formando
os compassos e os compassos constituindo a phrase e a phrase compondo
o pensamento musical.
Resalta a paridade entre essas duas disciplinas; não é possivel,
pois, disparidade em methodo.
Havendo tanta analogia entre a musica, a leitura e a linguagem,
rebusquemos alguns factos destas disciplinas, partindo, assim,
de uma questão debatida, discutida e vencida, para uma questão
que se procura divulgar.
O alumno lê, correntemente, com precisão, com desembaraço as sentenças
formadas com palavras que lhe são conhecidas.
Nós lemos, immediatamente, apenas os vocabulos que nos são familiares
e temos necessidade de decompôr os que não conhecemos; precisamos,
pois, analysar para procedermos a sua leitura.
Fazendo uma bellissima conferencia sobre o ensino da leitura pelo
methodo analytico, já o grande educador brasileiro João Köpke
provou, exuberante e intelligentemente, o que vimos de dizer,
usando de um artificio convincente, de um meio irrefutavel. Elle
fez tres composições, uma com palavras que, habitualmente, não
são empregadas, outra com palavras escriptas em orthographia phonetica
e outra com palavras escriptas na ordem inversa.
'O nobicogo nume appareceu naquella gigantomachia tremenda com
a infula hieratica trazendo na guirlanda, atada pelo lemnisco,
o apoththegma tradicional.
Um du poetismo eix que xega com jéxtu rumânêsku i observaçan-u
au jimnasta.
Otebahpla olep raçemoc etneinevnoc, otrec ed, é oãn.
É claro, evidente e indiscutivel que esses trechos não são lidos,
pela primeira vez, correntemente, e a causa é, ou porque entram
na composição vocabulos com os quaes não estamos familiarizados,
ou porque entram palavras escriptas em um systema orthographico
não generalizado, ou porque, finalmente, as palavras foram escriptas
com os symbolos dispostos em ordem differente da que estamos habituados
a vêr.
Esta observação do grande pedagogista é uma prova concludente
que lemos com precisão as palavras cuja imagem já foi registrada
no cerebro.
Ainda são de Köpke as seguintes idéas que synthetisam, com fidelidade,
a verdadeira base do methodo analytico no ensino da leitura:
'A palavra escripta ha de impressionar os nervos opticos; essa
impressão ha de registrar-se no cerebro; a esse registro se prenderá
a imagem já estampada pelos outros sentidos; e a repetição desse
relacionamento acabará por fazer coincidir a imagem que evoca
com a voz que a exprime.'
Realmente, estas asserções constituem a summula do methodo analytico
no ensino da leitura.
O individuo liga a imagem de uma palavra á sua significação, quando
a palavra é conhecida, e, quando é desconhecida, elle, com os
elementos fornecidos pelas palavras cujas imagens já foram retidas,
tem os elementos necessarios para o conhecimento da nova palavra,
e, desta maneira, mais uma imagem é registrada no cerebro.
Deve, entretanto, o professor, no ensino desta disciplina, dar,
aos seus alumnos, palavras bastante conhecidas, para que elles
só tenham a preoccupação de guardar suas imagens; e é, exactamente,
dessas palavras que elles vão tirar os elementos de formação dos
vocabulos cujas imagens e significações são desconhecidas.
Dadas estas idéas geraes no ensino da leitura pelo methodo analytico,
vamos mostrar que esses phenomenos, mutatis mutandis, se reproduzem
no ensino da musica.
Ali elle aprende o valor do phonema tirado de sua propra funcção,
aqui, da phrase musical, tiramos o valor da figura e a intensidade
do som.
O segredo da leitura e do solfejo musical resume-se no conhecimento
do valor das figuras e dos intervallos; ora, ambos conhecimentos
são dados aos alumnos, pelo methodo que seguimos, de um modo simples,
interessante e attrahente." (op.cit. 3-5)
O método analítico propugnado pouco diferia, portanto, do método
defendido pelo Barão de Macahubas, também este partindo inicialmente
da prática, na verdade do "canto de ouvido". (cf. número anterior
desta publicação) Sob o argumento do ensino da música pela própria
música, os autores desse método faziam questão de negar a utilidade
de métodos de escrita de sistemas pedagógicos europeus. Por outro
lado, introduziram a prática do manosolfa, que se tornaria muito
difundida no ensino das escolas de São Paulo, muito antes das
décadas de apogeu do Canto Orfeônico sob H. Villa-Lobos:
"Convém deixar consignado, desde já, que, absolutamente, não seguimos
a processuação de Chevé, Gallin ou o conhecido pela denominação
Tonic Solfa, por sermos contrarios, em absoluto, a todo o processo
cifrado no ensino da musica. Somos partidarios do methodo natural,
estudamos a musica pela musica.
Não vemos, absolutamente, vantagem em apresentar as notas que
são, universalmente, conhecidas por do, ré, mi, etc. pelas letras
d, r, m, etc., ou pelos numeros 1,2,3, etc.
Adoptar qualquer destes processos é determinar duas convenções
para uma unica cousa, é procurar duas difficuldades para a resolução
de uma só questão.
[...]
A estes exercicios de caracter graphico alliamos outros de exclusiva
educação de ouvido.
Com o auxilio dum pequeno harmonium portatil, denominado 'Guide-Chant',
procuramos educar o ouvido dos nossos alumnos, com pequenos dictados
musicaes e cujos resultados têm sido excellentes.
Por meio do ensino do solfejo pelos dedos, denominado pelos gallinistas
'main musicale', que com diversas modificações que fizemos, cognominámos
'manosolfa', fazemos exercicios de notação vocal, intervallos
simples, intervallos alterados com suas inversões, escalas, accordes
maiores e menores com suas inversões e respectiva tonalidade e
solfejo a uma e mais vozes em diversos tons.
Aproveitámos o processo gallinista, unicamente, como complemento
ao nosso ensino de solfejo, servindo, exclusivamente, como meio
rapido de solfejo; com este caracter a sua vantagem é incontestavel
pois que faz conservar, mentalmente, os intervallos, prestando,
assim, bom auxilio ao nosso methodo de ensino." (op.cit. 6-8)
A semelhança das idéias pragmatistas dos defensores do Método
Analítico com as do Barão de Macahubas, fundamenta-se na influência
norte-americana a que estavam sujeitos:
"Manuseando alguns livros de nossa bibliotheca fomos encontrar
uma opinião que vem corroborar com o que acabámos de expôr. Esse
facto encheu-nos, sobremaneira, de immenso prazer, pois verificarmos
que illustres pedagogistas perlustram a mesma senda que nós e
exploram os mesmos ideaes pelos quaes nós nos batemos.
Diz, pois, Rendu - 'As professoras americanas encarregadas, em
geral, das classes inferiores, começam por fazer cantar pedaços
de musicas e depois córos conhecidos muito simples. Nesta edade
limitam-se a cultivar o ouvido; não se exige da criança sinão
uma repetição intuitiva; ellas devem cantar de ouvido, isto é,
a professora vae ao piano e canta uma phrase musical muito facil
de modo que os alumnos possam repetil-a em seguida.'
É, exactamente, deste modo que nós procedemos nos primeiros annos
do curso primario.
'Nos annos subsquentes, com quadros de leitura musical e em vivos
caracteres, a musica é explicada, fazendo-se sentir o rhythmo
batendo-se o compasso, contando-se os tempos e apreciando-se o
valor comparativo das figuras.'
Mais ou menos, uma parte do nosso processo é observada pelos professores
americanos e esse facto, gostosamente, aqui reproduzimos, para
patentearmos, de modo inconcusso, que não estamos sós neste tentamen."
(op.cit. 8)
Por fim, os autores passam a fazer considerações sobre a Educação Musical em geral, partindo da conceituação da música, da formação auditiva e das finalidades do ensino musical para chegar à necessidade de elevação do nível de educação musical do público:
"Façamos algumas considerações ligeiras sobre a educação musical,
assumpto que, infelizmente, tem sido tão descurado entre nós.
O fim principal da musica é a educação do ouvido e a educação
do sentimento.
A musica é a combinação dos sons e o som só existe para quem póde
receber a sua impressão no orgam auditivo.
Ora, si a percepção só é feita pelo ouvido, é claro que o ensino
da musica deve ser iniciado pela educação do ouvido.
O alumno deve, primeiramente, saber sentir, saber apreciar a combinação
harmonica dos sons bem como repellir a dissonancia.
De que vale um discipulo conhecer as figuras musicaes, a divisão
dos compassos, as claves, estar senhor dos rudimentos da musica,
si não tem idéa do som expresso pela nota musical?!
Elle tem a idéa material da figura musical, mas do que a respectiva
nota exprime, que é o essencial, não tem, absolutamente, noção.
De nada lhe serve conhecer, com precisão, os rudimentos de musica,
pois que elle não é capaz de ler a mais simples phrase musical.
E quanto ao gosto esthetico é geral, desoladora e revoltante a
ignorancia. Quantas vezes uma composição musical, sem valor, banal,
sem forma, sem arte, tem sido victoriada e, entretanto, verdadeiras
joias de arte são menosprezadas?!
Dir-se-á, naturalmente, que na primeira houve inspiração e na
segunda houve arte.
É, exactamente, contra a inspiração sem arte que nos devemos insurgir.
O sentimento repelle a arte sem inspiração; é necessario que a
educação musical repilla a inspiração sem arte.
Na escola, é que devemos fazer surgir o gosto artistico, e o conseguiremos
executando-se boas musicas, boas vozes e bons córos.
Antes do inicio do ensino, propriamente, da musica, devem os alumnos
cantar hymnos, canções, barcarolas, marchas, sem preoccupação
de lettra e depois com a respectiva letra.
Desta maneira elles aprendem a sentir a musica e, mais tarde,
quando se fizer a juncção da letra, verificarão que a musica já
havia despertado o sentimento que a letra, posteriormente, traduziu.
Daremos, em seguida, execução ao ensino da musica pelo methodo
analytico e depois, como complemento educativo, para as classes
secundarias, executaremos o programma seguinte:
Canções populares: nacionaes, portuguezas, hespanholas, italianas,
francezas, allemãs, russas, inglezas
Educação rhythmica do ouvido: marchas, valsas, polkas, mazurkas,
schottischs
Estudo dos timbres e da tessitura das vozes: baixo, barytono,
tenor, contralto, meio-soprano, soprano
Musica de uma e mais partes: solos, duettos, tercettos, etc.
Generos de musica: phantasias, symphonias, musicas descriptivas,
musicas funebres, musicas sacras
Genero de operas: dramaticas, lyricas, bufas, comicas, zarzuelas
Operas e operetas em diversas escolas: nacionaes e estrangeiras
Danças antigas: gavota, minuete, tarantella, giga, sarabanda
Genero classico: Mozart, Beethoven, Paisielo, Haydn, Bach, Scarlatti,
Marcello, Cherubini
Genero romantico: Wagner, Chopin, Mendelssohn, Schumann, Brahms,
Verdi, Carlos gomes, Donizetti, Bellini" (op.cit. 9-11)
A esses esclarecimentos dos autores do 'Método Analítico' segue-se uma 'Opinião valiosa', da pena de Felix de Otero (1868-1946):
"A convite do sr. dr. Oscar Thompson, muito digno director da
Escola Normal da Capital, e com a devida autorização do sr.dr.
Secretario do Interior, fui, em pessôa, conhecer os resultados
obtidos nesse estabelecimento, com o emprego do methodo analytico
applicado ao ensino da musica e, com o emprego do systema de solfejo,
cognominado 'manosolfa', aqui introduzido pelo sr. professor João
Gomes Junior.
Deve-se ao fino criterio pedagogico do sr. professor Carlos A.
Gomes Cardim, naquella Escola, a applicação á musica do methodo
analytico, já adoptado alli no ensino de outras disciplinas.
Numa conferencia, ha tempos, realisada por este professor sobre
o ensino da musica seguindo o methodo analytico, disse s.s. e
com razão, que 'qualquer disciplina se póde aprender e muito bem
por qualquer methodo e com qualquer processo; que para o educador,
porém, havia a necessidade de procurar dentre os methodos e processos
conhecidos aquelle que maiores vantagens apresente, tendo em vista,
principalmente, o desenvolvimento das faculdades mentaes.'
Partindo desse ponto de vista, o sr. professor Gomes Cardim comprehendeu,
e acertadamente, que, tendo o methodo analytico applicado ao ensino
da leitura e da linguagem obtido surprehendentes resultados, valia
muito a pena experimental-o na sua applicação ao ensino da musica
nas Escolas.
A base desse methodo está em partir 'do geral para o particular,
do todo para as partes, dos effeitos para as causas' - pois, precisamente,
na sua applicação ao ensino da musica é esse o processo a seguir.
Parte-se do pratico para o theorico, - isto é, o ouvido é primeiramente
impressionado e depois a vista, que permitte, então, estabelecer,
theoricamente, o que o discipulo aprendeu, praticamente, pelo
ouvido.
Em geral, no ensino da musica cogita-se, primeiramente, de ministrar
ao discipulo o conhecimento das notas, dos valores, etc. - é a
theoria, portanto, e só depois, paulatinamente, se faz o alumno
solfejar; pelo methodo analytico o discipulo ouve primeiramente,
e repetidas vezes, phrases melodicas já conhecidas, aprende a
solfejal-as, seguindo as indicações do professor, e aos poucos
vae solfejando outras melodias desconhecidas, dessas derivadas,
com desembaraço e firmeza.
Só então, á proporção que essas phrases melodicas apparecem, é
proporcionado ao discipulo o conhecimento das definições theoricas
que ellas encerram.
Guiado pelo meu distincto collega sr. professor João Gomes Junior,
que, incansavel, me forneceu todos os esclarecimentos precisos
para a justa comprehensão do methodo nos seus menores detalhes,
pude verificar as vantagens extraordinarias que este systema leva
sobre os outros methodos empregados.
O que, segundo pude constatar, se consegue no mais curto lapso
de tempo pelo processo ora adoptado, seria impossivel obter seguindo
processo diverso. Verifiquei que alumnas do primeiro anno da Classe
Primaria, após tão sómente dois mezes de exercicios, solfejam
melodias simples, por certo, mas desconhecidas, com firmeza e
afinação, conseguem escrever com bastante segurança os dictados
que lhes são feitos, e já têm absoluta consciencia das regras
e definições que essas melodias encerram.
Onde, porém, mais surprehendido fiquei, foi no terceiro e no quarto
anno da Escola Modelo, cujos alumnos, todos crianças, solfejam
melodias desconhecidas sem a menor hesitação e respondem com perfeita
consciencia as perguntas theoricas que lhes são dirigidas pelo
professor.
Só a excellencia do methodo e á sua racional applicação se devem
tão brilhantes resultados.
O methodo está hoje sendo applicado por todos os professores de
musica dessa Escola nas suas respectivas classes, do Curso Secundario,
de sorte que as futuras professoras assim preparadas, irão transmittir
ás creanças dos grupos escolares, de modo simples e efficacissimo,
os ensinamentos recebidos; e estas, por sua vez, desse modo dirigidas,
vão adquirindo para a sua educação musical uma base extremamente
solida que lhes permittirá o maximo desenvolvimento.
Como complemento ao ensino analytico, adoptou-se o systema de
solfejo, cognominado 'manosolfa'.
Reputo-o de immensa utilidade, não sómente como meio pratico,
rapido e simples de transmittir o solfejo, directamente, aos discipulos,
mas tambem, como factor disciplinador da concentração.
Causa intenso interesse observar com que attenção imperturbavel
os discipulos seguem, os olhares intelligentes cravados nas mãos
do professor, os signaes que elle lhes transmitte pelos movimentos
dos dedos, certos de que a menor desattenção de sua parte redundaria
em prejuizo do trabalho collectivo. Além desses dois systemas
ora applicados ao ensino da musica naquella Escola, notei ainda
a vantagem extraordinaria que ha na adopção da nota sol, da segunda
linha de pauta, como diapasão para o ensino. Essa nota, que é
constantemente repetida aos discipulos afim de que elles possam
retel-a na memoria, é um excellente ponto de partida para achar
os intervallos que della derivam, e constatei, de facto, que as
creanças achavam facilmente, por isso, os intervallos indicados.
Tambem me impressionou, muito favoravelmente, nas classes das
creanças, a preoccupação do professor em não permittir o canto
gritado, descuido esse até ha bem pouco ainda observado nas escolas
e que tão funestos prejuizos causa á infancia.
Está, portanto, a Escola Normal prestando um serviço inestimavel,
graças aos methodos ora adoptados, e, é evidente que as futuras
professoras poderão cooperar de modo muito efficaz na obra de
educação esthetica da creança, o que é de importancia capital,
visto como até aqui o ensino da musica nas Escolas não tem correspondido
ás necessidades que se impõem á cultura esthetica da creança.
Acredito agora que desse modo se esteja preparando uma geração
capaz, no futuro, de comprehender o ensinamento das artes nas
Escolas, não como um factor secundario de educação geral, e sim,
como um factor importante na formação do caracter e do intellecto.
Convém, porém, para que tal se realise, pelo menos, no que concerne
ao ensino da musica, que seu programma seja uniforme em todas
as Escolas do Estado. É mister que os professores de musica das
Escolas Normaes do Interior tenham conhecimentos completos dos
methodos ora adoptados e os saibam empregar conscienciosamente.
Ouso, por isso, appellar para o bem intencionado governo do nosso
Estado, afim de que seja facultada a esses professores a frequencia
das aulas de musica da Escola Normal da Capital durante o tempo
necessario, ou, se isso for difficil, que se faça a publicação
em folheto dos processos seguidos e que esses folhetos sejam,
largamente distribuidos pelos professores do interior.
Convém, ainda, que nos grupos escolares a musica seja dóra avante,
ensinada pelo methodo analytico e, portanto, devem os professores
desses grupos preparar-se, egualmente, de modo a conseguir absoluta
uniformidade do ensino de musica em todas as escolas do Estado."
(op.cit. 13-15)
(A.A.B.)