Prof. Dr. A. A. Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e curadoria
científica
© 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1999 by ISMPS e.V. © 2006
nova edição by ISMPS e.V.
Todos os direitos reservados
»»» impressum -------------- »»» índice geral -------------- »»» www.brasil-europa.eu
N° 16 (1992: 2)
Antonio Alexandre Bispo
(Excertos)
Como exemplo de estudos editados por comunidades evangélicas do
Brasil pode ser aquí citada a publicação em homenagem aos 25 anos
da Igreja Evangélica de São Paulo, realizada pelo pastor Martin
Begrich, em 1933 (Festschrift zur 25. Wiederkehr des Einweihungstages
der Deutschen Evangelischen Kirche in São Paulo: Ein Beitrag zur
Geschichte des Deutschtums in São Paulo, São Paulo 1933).
O autor, que lembra das comemorações realizadas em São Paulo em 1933, pela passagem dos 50 anos de morte de Richard Wagner (1813-1883), estabelece um questionável contexto entre Música, Confissão religiosa e Política: "Quando, no Teatro Municipal desta cidade, com a música do Mestre, 300 cantores fizeram ressoar potentemente o coral da Reformação de Hans Sachs: 'Wach auf! Es nahet gen den Tag!', todos nós ficamos orgulhosos de que esse canto era dirigido ao grande alemão Martinho Lutero, cujo 450° aniversário comemoramos no dia 10 de novembro na igreja e no Wartburghaus." (Begrich, op.cit. 5) O mal-estar causado por conotações político-ideológicas nesta e em outras publicações da época prejudica até o presente a consideração imparcial de tais estudos.
Ao tratar do passado da cultura alemã e do Protestantismo em São
Paulo, M. Begrich cita Heliodor Eobanus (1569), um habitante
de Hesse, morador em São Vicente, que, em 1565, à frente de uma
tropa de nativos e mamelucos correu em auxílio a Estácio de Sá
na luta contra os franceses do Rio de Janeiro. H. Eobanus era
filho do poeta neo-latino e humanista Helius Eobanus Hessus [Koch]
(1488- 1540), professor de Poética em Nürnberg, de História em
Marburg e cognominado "Rex Poetarum".
As primeiras décadas da história do Brasil apresenta, portanto,
vínculos com significativos círculos do Humanismo centro-europeu.
Neste contexto cumpre citar a obra clássica de Hans Staden (1525-ca,1576),
cujo valor histórico-etnológico e musicológico já foi salientado
por diversos autores.M. Begrich menciona a atuação de alemães
em engenhos de São Vicente em meados do século XVI e ação de personalidades
como Heinrich Boehm, comandante nas lutas de fronteiras no Sul
(1775-1778), Johann Jakob Baumann, responsável pela ordem pública
em São Paulo à época da Independência, Johann Karl August von
Oeynhausen-Gravenburg, então à testa da mesma capitania (1819-1821),
Daniel Pedro Müller, construtor e culto universalista de São Paulo,
também fundidor de sinos, Wilhelm Ludwig Eschwege (1777-1855)
que, com seus escritos - também de interesse musicológico - muito
contribuiu ao conhecimento do Brasil na Europa, Friedrich Ludwig
Wilhelm Varnhagen e outros.
Bei Familie Henrique Hässel aber fanden wir ausser einer deutschen
Fibel und einem Erdkundenbuch aus dem Jahre 1780 einen reformierten
Psalter und ein hamburgisches Gesangbuch, Ausgabe 1823, vor. Nun
wissen wir, dass die Hamburger Bibelgesellschaft schon ab 1824
den Auswanderern Bibeln und Gesangbücher mitgegeben hat. Obwohl
der alte Kolonist nicht lesen und schreiben konnte, und seine
Frau, wie er selbst, auf meine Frage: "Fala tambem Allemão?" die
lakonische Antwort gaben: "Nett", waren dort in dem Gesangbuch
bestimmte Seiten markiert und zerlesen. So Nummer 432 das Begräbnislied:
Begrich, op.cit. 36
De particular importância na obra de M.Begrich é o capítulo dedicado
ao "Germanismo" na região de Santo Amaro. (op.cit. 25ss) A família
Henrique Hässel conservava aquí um Saltério reformado e um livro
de cantos religiosos de Hamburgo, editado em 1823, provavelmente
distribuído pela Sociedade Bíblica de Hamburgo em 1824. Alguns
desses cantos gozaram de ampla difusão entre os colonos (N° 432,
o canto de entêrro "Stärke, die zu dieser Zeit, da wir Herr dir
singen [...]"; N° 411, o canto de fé "Was sorgst du ängstlich
für dein Leben [...]"; e o N° 346, de amor ao próximo, "Für unseren
Nächsten bitten wir [...]".
Stärke, die zu dieser Zeit, da wir Herr dir singen, Müde, stumm,
in kaltem Schweiss mit dem Tode ringen...
in altes Kirchenlied, das so recht zur Not einsamer Kolonisten
stimmen mochte. Ferner besonders oft gelesen Nr.411 das Lied des
Gottvertrauens:
Was sorgt du ängstlich für dein Leben
Es Gott Gott gelassen übergeben, ist wahre Ruh und deine Pflicht.
M. Begrich descreve uma festa religiosa entre os habitantes de Colonia Velha, dirigida por rezadores e cantadores leigos. O rezador, Pedro Helfenstein, sabia de memória um trecho do rito de entêrro, que cantava no estilo de tom salmódico. Ele possuia um livro de cantos para protestantes publicado em Zweibrücken (Rheinbayern), em 1823, e editado por ordem do rei da Baviera, Joseph Maximilian. Esse cantor possuía notícias escritas a respeito dos cantos a serem entoados por ocasião de um entêrro. O primeiro, na igreja, era o de N° 494, com 12 estrofes ("O Gott, welch' tiefe Trauer hat unsern Blick umhüllt!"); o segundo, a caminho, era o de N° 421, com 5 estrofes ("Mein Gott, ich weiss wohl, das ich sterbe"); o terceiro, na descida do caixão, era o de N° 484, com 10 estrofes ("Dem Staube geben wir den Staub") e o quarto, após o entêrro, era o de N° 495 ("Trocknet eures Jammers Tränen"). (op.cit. 37) Os colonos, já há muito católicos, cultivavam ainda cantos protestantes de seus antepassados.
Bei einem anderen Besuch, bei dem der Generalkonsul, Herr Dr.
Speiser, zugegen war, fand gerade bei den Kolonisten um Colonia
Velha eine Art Kirchenfest mit Prozession statt, aus Anlass der
glücklichen Wiederkehr eines Helfenstein vom Militärdienst. Das
Fest wird von Laien als Vorbeter und Vorsänger geleitet. Wir konnten
den Vorbeter, einen 70-jährigen Alten, des Namens Helfenstein,
der noch deutsch sprach, antreffen. (...) Dieser Pedro Helfenstein
zitierte nach dem Gedächtnis in fast unverständlichem Deutsch
in der Art des lateinischen Murmeltones ein Stück Begräbnisliturgie.
Auf unser Drängen zeigte er das "Kirchenbuch", ein Gesangbuch
für protestantitsche evangelische Christen aus Zweibrücken (Rheinbayern)
vom Jahre 1823 "auf Anordnung des bayrischen Königs Joseph Maximilian
gedruckt.". Begrich, op.cit. 37
M.Begrich fornece dados a respeito do início da comunidade evangélica de São Paulo, em 1871. Entre os membros fundadores encontrava-se Carlos Weith (Stralsund, 29.10.1817 - 3.05.1893), construtor de instrumentos e comerciante de pianos. A música de culto estava a cargo do Sr.Beck, que desempenhava o papel de Cantor nos domingos e feriados. Após Luiz Bamberg sen. ter doado um livro de cantos à comunidade, realizou-se uma subscrição para a compra de um Harmonium. No dia 9 de março de 1879, este instrumento, juntamente com outros utensílios da extinta comunidade, foi entregue por Paul Eberlein à Luiz Bamberg jun. para ser conservado e utilizado na escola alemã. Mais tarde parece ter sido esse instrumento utilizado nos cultos em Jundiaí.
Em 1906, a comunidade evangélica de São Paulo foi vinculada à
Igreja da Prússia e submetida ao Conselho Superior Eclesiástico
Evangélico de Berlim. Para a construção da igreja contribuíram
financeiramente, entre outros, os professores de música L. Chiaffarelli
(1856-1923) e P. Florence (1864-1949). Para essa finalidade, o
regente do coro, Sr. Pavlovski, preparou vários concertos beneficientes.
No ato de lançamento da pedra fundamental, Cyrillus Assam, da
Sociedade Masculina de Canto "Lyra" pronunciou as seguintes palavras:
"Floresça sempre o que é aperfeiçoado pela fé, pelo amor e pela
esperança.". (op.cit. 64-65) O programa da solenidade de inauguração
do templo, no dia 25 de dezembro de 1908, foi o seguinte:
Coro: Lobt Gott ihr Christen (sob a regência de P. Florence);
Oração; Coro: Der Herr ist mein Hirte; Canto Comunitário: Dies
ist der Tag den Gott gemacht..; Liturgia; Coro: Es ist ein Reis
entsprungen; Canto Comunitário: Jauchzet ihr Himmel, frohlocket
ihr Engel...;Pregação de Natal; Canto Comunitário: König der Ehren,
aus Liebe geworden...; Coro Masculino "Lyra" (sob a regência de
J. Neddermeyer): Wir treten zum Beten. (op.cit. 71)