Prof. Dr. A. A. Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e curadoria
científica
© 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1999 by ISMPS e.V. © 2006
nova edição by ISMPS e.V.
Todos os direitos reservados
»»» impressum -------------- »»» índice geral -------------- »»» www.brasil-europa.eu
N° 15 (1992: 1)
Publicações do início do século QUER DURCH SÜD-AMERIKA
1822-1992: 170 anos da Independência do Brasil: Música nas relações
culturais - Mundo de língua alemã/Mundo de língua portuguesa
Materiais: Fontes gerais pouco consideradas
("ATRAVÉS DA AMÉRICA DO SUL)
WILLI ULE
(Excertos)
No dia 15 de março de 1910, numa sessão da Sociedade de Geografia de Berlim, Wilhelm Filchner apresentou pela primeira vez o plano de uma nova expedição alemã à Antártica. Apesar da ousadia do projeto, foi este apoiado pelos geógrafos presentes, entre eles o sueco Otto Nordenskiöld, famoso explorador do Polo Sul. O chefe da expedição era conhecido na Alemanha pelas suas viagens de pesquisas no Pamir e no Tibet Oriental. Entre os propagandistas do projeto achava-se Willi Ule, colega de W. Filchner. Um irmão de W. Ule achava-se no Brasil como pesquisador de Botânica. W. Ule, especialista de ciências marítimas, participou apenas de parte da viagem com a finalidade de realizar pesquisas oceanográficas. No dia 3 de maio de 1911, após visita do príncipe Heinrich, o navio da expedição ("Deutschland") partiu de Hamburg; no dia 7 deixou Bremerhaven.
A primeira parada da expedição deu-se na Ilha de São Miguel. Enquanto as Ilhas Canárias e a Madeira já tinham sido bem estudadas por geógrafos alemães, pouco havia na literatura a respeito dos Açores. Ao lado de detalhadas descrições da vegetação e da população, o autor vivenciou as vésperas de Pentecostes. Durante à sua viagem à Caldeira observou os tradicionais usos da festa do Espírito Santo, sobretudo a distribuição de pães aos pobres. (op.cit. 64) Descrevendo as procissões, notou o uso de rojões durante o dia, costume que se encontraria nos países do sul da Europa. (op.cit. 71) Também registrou a tradição da "Coroa do Divino Espírito Santo" em Ponta Delgada:
"À tarde tivemos oportunidade de participar de novo de uma grande procissão. Ela só deu uma volta ao redor da igreja. Muito povo tinha-se reunido, as moças muito bem arrumadas, em parte com roupas modernas, em parte também com trajes típicos, de preferência em tecido cor-de-rosa. Também havia barraquinhas e mesas com todo o tipo de doces. Sobretudo, soltaram-se de novo vários foguetes, apesar de ser 3 horas da tarde. Na procissão tomaram parte grande quantidade de crianças. Todas estavam vestidas de branco e uma trazia uma coroa prateada. A procissão movimentava-se séria e solenemente pela rua. À frente ia a música, e alguns homens com bandeiras e um estandarte. No público reinava um silêncio total, e todos tomaram parte na procissão com profundo respeito." (op.cit. 72)
A obra de W. Ule oferece detalhadas impressões de Recife e de
sua população. De particular interesse é o relato de uma retreta:
"O motivo de nossa vista no jardim público não foi o de ver plantas e animais, mas sim um concerto militar, que segue aqui o mesmo costume das cidades do Sul da Europa. Nessas ocasiões reúne-se toda a elite da cidade. Nós tivemos a oportunidade de conhecer alguns costumes singulares dos brasileiros. Enquanto entre nós um concerto desses é usado em primeiro lugar para que os jovens e as moças se encontrem, aquí não ví um único desses pares. É contra os bons costumes e a lei. [...]" (op.cit. 115)
Após viagem de trem de Recife a Maceió, W. Ule seguiu a Salvador de navio, visitando Penedo e Aracajú. A bordo, o autor travou conhecimento com uma família brasileira:
"Um dos homens mais jovens cantou repetidas vezes, acompanhando-se com o violão. Era um canto meio monótono, mais uma fala do que canção. Também o acompanhamento era monótono, essencialmente sempre os mesmos acordes, em compassos regulares. Mas mesmo assim as suas apresentações receberam muitos aplausos. Os brasileiros não parecem ser muito musicais. Ouve-se das casas freqüentemente soar o piano, mas é na maior parte dos casos um lastimável arranhar de teclas." (op.cit. 141-2)
Einer der jüngeren Herren sang wiederholt zur Guitarre. Es war
ein etwas eintöniger Gesang, mehr ein Sprechen. Auch die Begleitung
war monoton, im wesentlichen immer dieselben Akkorde in regelmäßigem
Takte. Doch fanden seine Vorträge großen Beifall. Sehr musikalisch
scheinen die Brasilianer überhaupt nicht zu sein. Man hört zwar
oft aus den Häusern Klavierspiel, aber es ist meist ein jämmerliches
Geklimper. Ule, op.cit. 141
De sua estadia em Salvador, Alagoinhas, S. Felix, Rio de Janeiro,
Petrópolis, Ouro Preto Belo Horizonte e outras localidades, o
autor nada registrou de interesse musical.
Em São Paulo, porém, vivenciou a inauguração do Teatro Municipal. O edifício deixou-lhe arquitetonicamente melhor impressão do que o do teatro do Rio de Janeiro:
"A cidade de São Paulo está localizada num planalto, 750 metros
acima do mar. Bairros periféricos rodeiam por todos os lados as
partes centrais de comércio. O centro da cidade, com as suas filas
cerradas de casas, possui muitas lojas elegantes e algumas grandes
casas de comércio, vários prédios públicos e belos jardins. A
cidade externa é amplamente disposta, rica em jardins, nos quais
se levantam belas e grandes mansões.
No dia da minha chegada reinava grande agitação entre os habitantes.
À noite iria ser inaugurado o bem bonito Teatro. Esse acontecimento
ocupava toda a cidade, e quase que se não se falava de outra coisa
. Diziam-me, porém, que o interesse logo passaria. O brasileiro
gosta de coisas novas como uma criança. Quando, porém, o objeto
perdeu a atração do novo, é deixado simplesmente de lado. Em algumas
semanas mais ninguém vai se importar com o teatro." (op.cit. 218-219)
De sua estadia nas regiões de colonização alemã, cumpre mencionar que o autor foi recebido com canções alemãs em Blumenau e que, ao terminar a sua visita da escola local, crianças de várias classes entoaram conjuntamente canções, "o que fez com que a visita da escola terminasse quase que solenemente." (op.cit. 240)
An dem Tage, an dem ich ankam, herrschte unter den Bewohnern große
Aufregung. Am Abend sollte das neuerbaute, recht ansehnliche Theater
eröffnet werden. Dieses Ereignis beschäftigte die ganze Stadt,
und es wurde an dem Tage kaum von etwas anderem gesprochen. Man
erzählte mir, daß das allgemeine Interesse bald abflauen werde.
Der Brasilianer freut sich über etwas Neues gerade wie ein Kind.
Wenn der Gegenstand den Reiz des Neuen verloren hat, wird er aber
einfach beiseit gelegt. Nach wenigen Wochen schon werde sich kein
Mensch mehr um das Theater kümmern. Ule, op. cit. 219