Prof. Dr. A. A. Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e curadoria
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N° 12 (1991: 4)
(Excerto)
O diretor e um dos fundadores do Instituto Musical de São Paulo,
João Gomes de Araújo Júnior, autor do hino patriótico "São Paulo
de Piratininga", com letra de Carmen Lia, compôs, logo em seguida
à execução do "Hino" de Paulo Florence, em agosto de 1932, o seu
"Canto Patriótico: Ser Paulista" (impresso pela Off. Typo-Lythop-Calcographica
CEMB, N° 4120). Nessa época prosseguiam as operações na região
de onde provinha a família do compositor, o Vale do Paraíba.
Esse hino foi oferecido aos "bravos voluntários paulistas, Dr.
Carlos de Moraes Andrade, Manoel Masullo, Luiz M. de Andrade Pina
Massariol e Felício Araújo". O texto, de Carmen Lia, conceitua
a essência do Paulista: "Ser paulista é ser bravo, é ser forte, é luctar sem temer a
fadiga, é encarar com sorrisos a morte quando a sorte da Patria
periga." O "Ser Paulista" exigia a busca dos "thesouros nos recessos que a Patria occultou" e a prontidão de morrer pela "lei justa e sabia que o Brasil culto e nobre" teria sonhado. O "Ser Paulista" seria dar sangue e vida, "dar tudo que a Patria reclama Quando a voz da consciencia desperta
o dever que o amor patrio proclama". O "Ser Paulista" caracterizava-se por "almejar a ventura de um governo legal, justo e humano". E, finalmente, "Ser Paulista" seria "sentir fervilhar o seu sange Aos desmandos de um jugo tyrano!"
João Gomes de Araújo Júnior, formado na Itália e já há muito uma das principais personalidades do ensino musical em São Paulo (Escola Modêlo do Carmo, Escola Prudente de Morais, Escola Normal Caetano de Campos), autor de obras didáticas e compositor de óperas e música sacra, foi um dos grandes nomes na história do movimento orfeônico no Brasil como introdutor do método do "manosolfa" em São Paulo (Félix de Otero, "Opinião Valiosa" in: O Ensino da Música pelo Methodo Analytico, Carlos A. Gomes Cardim e João Gomes Júnior, São Paulo, 1914, 13).
Já na sua atuação junto à Escola Normal de São Paulo seguia João Gomes de Araújo a norma preconizada por Carlos A. Gomes Cardim:
"Na escola, é que devemos fazer surgir o gosto artístico, e o conseguiremos executando-se boas musicas, boas vozes e bons córos. / Antes do início do ensino, propriamente, da musica, devem os alumnos cantar hymnos, canções, barcarolas, marchas, sem preoccupação da letra e depois com a respectiva letra." (op.cit., 9)
No seu "canto patriótico", João Gomes Júnior procurou conciliar uma melodia relativamente fácil de ser aprendida por alunos com uma harmonização elaborada. Embora sem a solenidade quase religiosa do hino de Paulo Florence, perpassa o seu "canto patriótico" um sentimento de grandeza do "Ser Paulista" como "Ser Soldado", na "bravura séria da fatalidade do seu caráter". Enquanto as palavras "encarar com sorrisos a morte" é sublinhada com um movimento descendente da melodia e do acompanhamento à região mais grave atingida no âmbito do hino, a apoteose final é atingida com um movimento cromático ascendente do baixo.