Prof. Dr. A. A. Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e curadoria
científica
© 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1999 by ISMPS e.V. © 2006
nova edição by ISMPS e.V.
Todos os direitos reservados
»»» impressum -------------- »»» índice geral -------------- »»» www.brasil-europa.eu
N° 11 (1991: 3)
Antonio Alexandre Bispo
(Excertos)
Prof. Dr. Marina de Andrade Marconi e Zélia Maria Neves Presotto,
O conhecimento antropológico teve, neste século, uma ascensão
notável nos meios científicos (...). Atraídos pelo interesse científico,
voltado principalmente para o mundo "primitivo", os especialistas
desenvolveram estudos temáticos, muitas vezes polêmicos, elaborando
teorias e esquemas conceituais, inseridos nas obras que os notabilizaram.
Prefácio, Antropologia: Uma introdução, São Paulo, Atlas, 1985
Universidade Estadual Paulista (UNESP)
Abelardo Duarte (*1900), um dos mais destacados representantes
do pensamento de Alagoas, Professor emérito da Universidade Federal
de Alagoas, Secretário Perpétuo do Instituto Histórico e Geográfico
de Alagoas, Sócio Honorário do Instituto Histórico e Geográfico
de São Paulo e membro de inúmeras outras instituições, autor do
já histórico estudo Um folguedo do povo: O Bumba-meu-boi (Ensaio de História e Folclore) (Maceio, 1957), entre várias outras obras (bibliografia em José
Lages Filho, "Os 80 anos de Abelardo Duarte", Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas XXXVI, 1980, 247-250), distingue-se também por acentuado interesse
por questões "negras" que dizem respeito à musicologia.
Escola de Biblioteconomia: Antropologia, Introdução às Ciências
Sociais, Circulação interna, s/d
Quanto a seus estudos referentes a tradições de relevância musicológica,
porém, deve-se levar em consideração, pelo que tudo indica, não
superadas tendências relacionadas com a sua formação em Medicina
em Salvador, onde foi auxiliar acadêmico no Laboratório de Patologia
Geral ( tese "Os grupos sangüineos na Bahia", 1926). No seu trabalho
apresentado ao 1° Congresso Afro Brasileiro, reunido no Recife,
em 1934 ("Grupos sanguineos da raça negra", Estudos Afro-Brasleiros,
1° Vol., Rio de Janeiro, 1935 [ed. facs. Recife, 1988), 171),
diz o autor:
"Nota otimista: (...) Se as pessoas fossem más por razões inatas
de caráter, pela genes, pelo seu "sangue ruim", pouca coisa haveria
a fazer. Mas se o problema se encontra primàriamente na adaptação
de padrões culturais ou na adaptação a padrões culturais, muito
poderá ser alcançado. (...) Finalmente, quando se percebe como
o autor (...) está êle próprio prêso à cultura, por um paradoxo
curioso, aí é que se encontra mais liberto de seus laços. Pode
olhar acima dos muros de sua própria cultura e ver os outros povos
no mundo por trás de seus próprios muros. Pode, pela primeira
vez na vida, compreender povos de uma cultura alienígena.
Como é estranho que seja a ciência a causa de tão profunda experiência
ética!"
"Os typos sanguineos podem substituir, talvez, a sabedoria do velho e inesquecível rei Salomão ( ) . / No que toca a applicação dos typos sanguineos as pesquizas ethno-anthropologicas, e um capitulo novo que se abre ao estudo da biochimica racial. ( ) Do estudo dos grupos ou typos sanguineos dos brasileiros conclue-se que cada um dos elementos formadores da nossa população actual legou aos seus descendentes as propriedades de iso-hemo-agglutinação que os caracteriza. ( ) O nosso negro conserva, pois, no sangue o teor iso-agglutinico que Ihe legaram os seus antepassados, o que vem mais uma vez provar que os grupos sanguineos "são hereditarios na familia e na raça. / como ja se chamou 'a voz do sangue."
Significativamente, Abelardo Duarte escolheu o titulo de "Folclore
Negro" para a sua mais representativa obra nesse campo ( Folclore Negro das Alagoas: Áreas da cana-de-açúcar, Maceió, 1974). A escolha desse título para uma obra que inclui
fatos na sua maioria de indiscutivel origem européia já foi alvo
de justificada crítica de Rossini Tavares de Lima:
"Seria preferível que não houvesse menção ao negro no título da obra. Se é verdade que apresenta algumas expressões que pademos considerar de aculturação africana, grande parte é constituída de dados sobre o folclore de aculturação européia, havendo inclusive o de crítica ao negro." (A Ciencia do Folclore, São Paulo, 1978, 39)
Tudo indica que o fato antes sociológico-histórico da manutenção conservadora de tradições por parte de africanos e seus descendentes seja confundido aqui - como em muitas outras obras - como documento demonstrativo de origem histórica.