Prof. Dr. A. A. Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e curadoria
científica
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N° 10 (1991: 2)
Antonio Alexandre Bispo
(Excerto)
Como tradicional centro religioso às margens do São Francisco, conhecido pela devoção popular a São Gonçalo e pelo aparato das procissões do Santíssimo Sacramento, patrocinadas pela Câmara, Penedo distinguiu-se pela excelência de seu cultivo sacro-musical. Também aqui fêz-se sentir no decorrer do século um desenvolvimento estilístico na composição sacra, criando uma situação que passaria a ser encarada posteriormente como "exteriorizante" ou "decadente".
Traços indicativos de brilhantismo instrumental e concepção dramática
do texto religioso podem ser encontrados por exemplo no Tantum
ergo de Joaquim Natividade de Reis (Laço? Colaço?), mestre já
em plena atividade em fins da década de 30.
Como em numerosos outros centros musicais do Brasil, também em Penedo foram escritas ladainhas com melodias fáceis de serem memorizadas e que passaram a pertencer ao repertório considerado próprio da cidade. Um exemplo é o solo de baixo da "Ladainha em Fá" do compositor acima citado. (Exemplo abaixo)
Figura importante da vida musical de Penedo pela passagem do século
foi Henrique Thomáz, cujo nome hoje denomina uma das ruas centrais
da cidade. De sua produção sacro-musical, até o presente não estudada,
salienta-se também uma popular Ladainha composta na Festa de São
Tiago, em 25 de julho de 1899. O exemplo apresenta a melodia da
introdução instrumental e o início da parte de violino do Kyrie
eleison.
Representativo exemplo da produção sacro-musical de caráter mais severo de Henrique Thomáz é o seu "Exaudi nos Domine" (Ps. 68,17), de 19 de janeiro de 1894. O texto, hoje Intróito para o sábado posterior à Quarta-feira de Cinzas, era cantado durante a benção e distribuição de cinzas. Trata-se, em longos trechos, de um canto em terças paralelas, de cunho popular.
O "Pueri hebraeorum para a Distribuição de Ramos (suprano a 4,
alto, baixo, tenor, piston em sol, trombone, cello,clarinete,
dois violinos, flauta)" de Henrique Thomáz, de 1895, denota técnica
pouco atenciosa na condução de vozes, pelo que tudo indica característico
dessas obras menores do compositor penedense.
Com a vinda de novos frades para o Convento Franciscano de Penedo
e sobretudo após a elevação da cidade a Diocese (1916), os ideais de reforma da música sacra receberam novos impulsos.
Nesse trabalho distinguir-se-ia o coro do convento sob a regência
de Frei Flaviano O.F.M. (E. Mero, op.cit., 13). O primeiro bispo
diocesano de Penedo, D. Jonas de Araújo Batinga, tornou-se conhecido
como orador sacro e musicista, sendo obras suas amplamente conhecidas
em outras cidades de Alagoas, como Maceió e Marechal Deodoro.
A música sacra com acompanhamento de orquestra permaneceu porém sendo a principal expressão da cultura musical local. Nas grandes execuções por ocasião dos ofícios de Semana Santa salientaram-se, na primeira metade do século XX, entre outros, os cantores Manuel Chico, Jonas Sales, José Martins e Mariinha Leite, assim como a maestrina Amélia Papini Goes à frente do coro da Igreja de São Gonçalo Garcia dos Homens Pardos (E. Mero, op.cit. 13).