Prof. Dr. A. A. Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e curadoria
científica
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N° 06 (1990: 4)
Vias de comunicação e o estudo da música nas relações culturais 20 anos do projeto "Música e evolução urbana no Brasil" - Nova Difusão Musical e
estudantes da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade
de São Paulo
Antonio Alexandre Bispo
(Excerto)
Joaquim Ribeiro "Difusionismo e convergência Conferência de abertura do Círculo Folclórico Luso Brasileiro
do Liceu Literário Português, 1952, Mariza Lira, Estudos de Folclore
Luso-Brasileiro, Rio de Janeiro, s/d, 6ff.
É preliminar, para o estudo das fontes do Folclore Brasileiro,
o esclarecimento dos processos de difusionismo e convergência.
As tradições populares (...) podem se enquadrar nessas duas modalidades
de manifestações culturais. Fixar o que é obra de pura convergência
e o que nos chegou pelo processo difusionista constitui tarefa
essencial (...). Uma simples consideração, que com demasiada freqüência
se tem descuidado, é que a difusão e a imitação indiscutivelmente
têm lugar em grande escala na cultura. Raros ou frequentes, os
desenvolvimentos independentes é seguro que estão mais ou menos
entrelaçados com as disseminações."
A investigação histórico-musical do mundo geograficamente não-europeu de língua portuguesa pressupõe de início a consideração das rotas de navegação que possibilitaram os primeiros contactos culturais entre diversos povos da África, da Ásia e da América com a Europa. No caso de determinadas regiões africanas e asiáticas, já existiam ligações por terra na Idade Média que necessitam ser levadas em consideração nas reflexões pertinentes à difusão de elementos da cultura musical ibérica.
No caso do Brasil, o estudo da ocupação da terra através de vias fluviais e de caminhos já foi reconhecido como de importância para a compreensão do florescimento musical de determinadas regiões e de certas características da vida musical determinadas pela área de influência de personalidades e instituições.
Esse estudo do processo de difusão músico-cultural em relacionamento com o estabelecimento, a manutenção, a decadência e até mesmo o desaparecimento de rotas e caminhos entre povos, regiões e localidades é complexo e exige naturalmente estudos específicos do ponto de vista espacial e temporal que só podem ser efetuadas gradativamente e por vários pesquisadores.
Ainda hoje, a consideração do processo cultural desencadeado pela abertura de estradas não perdeu de todo a sua relevância para estudos relacionados com a música, o que vale para o problemático desenvolvimento observado em várias regiões e localidades do Pará, do Amazonas, da Rondônia, do Rio Branco e do Acre.
É necessário observar, porém, que o aparecimento do rádio (e mais tarde da televisão) como poderoso meio difusor relativou há muito o papel quase que determinativo desempenhado no passado pelas vias marítimas, fluviais e terrestres no processo cultural em questão.
Talvez um dos últimos fenômenos históricos de difusão musical de grandes dimensões e de importância para todo o mundo de língua portuguesa que podem ser esclarecidos através de uma consideração humano-geográfica de vias de transporte é o do florescimento das bandas de música na segunda metade do século XIX no seu estreito relacionamento com a implantação de ferrovias. Com a supressão de linhas ferroviárias nas últimas décadas, a importância da ligação que uma vez existiu entre determinadas cidades e regiões tende a desaparecer da consciência dos habitantes - e dos pesquisadores. O estudo dos repertórios das corporações musicais e da vida de músicos do passado local ou regional - que exige quase sempre a comparação de acervos de diferentes instituições - torna-se então particularmente difícil.
Dedica-se o primeiro artigo do noticiário deste caderno, que traz referências a diversas cidades baianas, à discussão de alguns aspectos da questão.