Prof. Dr. A. A. Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e curadoria
científica
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N° 04 (1990: 2)
Antonio Alexandre Bispo
De há muito salienta-se o Estado de Alagoas pelo interesse dispensado
ao folclore por personalidades locais e órgãos oficiais dedicados
à cultura e ao turismo. Também na passagem de ano 1989/1990 realizou-se,
em Maceió, um conjunto de apresentações de grupos folclóricos
de particular interesse musical. Essas apresentações não podem
porém substituir o contexto de cunho religioso no qual se inserem
as diferentes tradições e que apresenta cada vez mais sinais de
profunda desintegração.
(Foto A.A.Bispo-Acervo ISMPS/IBEM)
Um exemplo da luta travada em inúmeras cidades do interior entre aqueles que dedicaram a sua vida, principalmente por motivos religiosos, ao cultivo de tradições e as autoridades civís e eclesiásticas que dizem representar a cultura popular oferece a pequena cidade de Taperaguá, cujas origens remontam ao início da colonização e catequese de Alagoas.
Um dos principais festejos da cidade e da região é o de Nosso
Senhor do Bonfim, realizando-se a procissão de encerramento no
dia 6 de janeiro. Os festejos contam com a participação de vários
grupos da vizinhança, principalmente de Marechal Deodoro. Esta
última cidade, antiga capital do Estado, conta com o bem organizado
"Pastoril Nossa Senhora da Conceição", sob orientação de José
Edmilson do Nascimento e Vandete Correa da Silva, além de outros
grupos musicais. Reorganizou-se o "Samba" local (o termo samba
não deve aqui ser entendido no sentido comum do termo), o que
mereceria uma investigação musical específica.
(Foto A.A.Bispo-Acervo ISMPS/IBEM)
Os festejos de Taperaguá do corrente ano contaram com a presença
da Banda da Polícia Militar de Alagoas e da Banda "Carlos Gomes"
de Marechal Deodoro (Corporação Musical Santa Cecília). Esta banda
local cultiva ainda a memória de um de seus antigos presidentes,
já há muito falecido, executando anualmente uma retreta à frente
da casa de familiares do inesquecido incentivador da corporação
em Taperaguá. Infelizmente, o seu repertório já acusa as marcas
da influência niveladora determinada pela difusão de partituras
para o gênero por órgãos oficiais e casas editôras.
(Foto A.A.Bispo-Acervo ISMPS/IBEM)
A Novena de Nosso Senhor do Bonfim em Taperaguá, a preparação
dos atos litúrgicos, os festejos e a procissão de encerramento
estão, há anos, a cargo exclusivo de José Vicente (*1923) que,
lutando contra a má vontade, o despreparo e a ânsia modernizadora
e educadora do clero vem mantendo, na medida das possibilidades,
o patrimônio musical local. Este ano, o Sr. José Vicente cantou
sozinho não só as antigas partes de solo e coro da música com
acompanhamento de orquestra (imitando até mesmo partes instrumentais!)
como as partes do celebrante em latim (!). Dispondo de excelente
memória, transmite oralmente vários hinos, ladainhas e outros
cantos religiosos locais. Particularmente de interesse é o seu
domínio do hinário dedicado ao Pe. Cícero Romão.
(Foto A.A.Bispo-Acervo ISMPS/IBEM)
Na concorrida procissão de Nosso Senhor do Bonfim de Taperaguá, o andor desse sacerdote, considerado popularmente como "santo", foi acompanhado por conjunto de flauta (de construção artesanal) e dois tambores. A cerimônia não contou com a presença de sacerdotes.