Prof. Dr. A. A. Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e curadoria
científica
© 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1999 by ISMPS e.V. © 2006
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N° 01 (1989: 1)
Um programa permanente de estudos do ISMPS São Tomé e Brasil - Referencial da cultura ocidental na tradição
popular Em memória de Balthasar Dias Programa de estudos Introdução aos estudos da música na cultura de São Tomé e Príncipe Agradecimentos Biblioteca Municipal, Funchal
África-Europa e Brasil: Música e paradigmas científicos
Comemorações dos 100 anos do Teatro Balthasar Dias de Funchal
Estrutura e significado das Tragédias de São Tomé
Estudo comparativo com as tradições vivas no Brasil
Revisões nos estudos dos Romances e dos Autos
Da discussão sobre a origem do Tchilôli
Teatro Balthasar Dias, Funchal
Real Gabinete Português de Leitura do Recife
Erzbischöfliche Diözesan-und Dombibliothek Köln
Missionswissenschaftliches Institut, St. Augustin
Pontificia Università Urbaniana, Roma
Archivio e Biblioteca della Congregazione per l'Evangelizzazione
dei Popoli, Roma
Centro de Estudos Históricos Ultramarinos, Lisboa
Antonio Alexandre Bispo
(Excertos)
"Quando em 1470/71 João de Santarém e Pêro Escobar com os seus
pilotos Martim Vaz e Álvaro Esteves acharam São Tomé e Príncipe,
as ilhas desertas viveram ainda durante quinze anos a sua milenária
quietude, até que D. João II entregou São Tomé ao primeiro donatário,
João de Paiva (1486) (...) E um dos maiores testemunhos dessa
longínqua aculturação, cujas raízes mergulham na lonjura dos séculos,
está bem patente nos dias de hoje através dos seus autos medievais:
o 'São Lourenço', do Príncipe, como os seus naturais chamam ao
'Auto de Floripes' - (...) e o 'Tchiloli' de São Tomé, a que o
povo também chama 'Tragédia do Marquês de Mântua e do Imperador
Carloto Magno', ambas do ciclo das histórias de Carlos Magno,
levadas pelos portugueses nas suas naus até à Madeira, aos Açores,
a São Tomé e Príncipe e ao Brasil." Fernado Reis, "Teatro Medieval em São Tomé e Príncipe", Panorama
23(1967),46
De particular interesse na publicação comemorativa dos 100 anos do Teatro de Funchal (ed. Câmara Municipal de Funchal, org. Luís Francisco de Sousa
Melo e Rui Carita) são as referências ao "poeta cego da Madeira",
Baltazar Dias, que viveu provavelmente no reinado de D. João III
e deixou obras sobre assuntos ainda representados em Portugal,
no Brasil e em São Tomé e Príncipe. Os autores são da opinião
que
"a sua integração popular terá surgido da condição de cego e de
vendedor de suas próprias peças. (...) Algumas peças de Baltazar
Dias, como 'A Tragédia do Marquês de Mântua', muito provavelmente
levadas da Madeira na rota do açúcar, ainda se representam em
versões de cariz popular e folclórico no interior do Brasil e
em São Tomé e Príncipe, assim como em algumas outras regiões influenciadas
pelos portugueses.O Tchiloli, nome por que em dialeto santomense
se denomina qualquer representação teatral, da peça de Baltazar
Dias, é das maiores glórias da cultura portuguesa (...) cabendo
assim à Madeira, uma boa parte da responsabilidade desse fato."
O leitor deve considerar, neste contexto, as opiniões manifestadas
em outras obras dedicadas a Baltazar Dias, entre outras na introdução
de Alberto Figueira Gomes a Baltasar Dias: Autos, Romances e Trovas, Lisboa: Imprensa Nacional, Casa da Moeda, 1985 (Auto do Nascimento
de Nosso Señor Jesu Christo; Auto de Santa Caterina; Auto de Santo
Aleixo; Auto do Principe Claudiano; Emperatriz Porcina; Tragédia
do Marquez de Mantua; e do Emperador Carlos Magno; Malícia das
Mulheres; Conselho para Bem Cazar).
Sobre o "Tchilôli", veja-se Tomás Ribas, "O 'Tchilôli' ou as tragédias de São Tomé e Príncipe", Boletim Cultural da Guiné Portuguesa (Bissau), 28/109 (1973), 23-33.
Embora as obras impressas de Baltazar Dias possam ter realmente colaborado para uma ampla divulgação de certos autos, representam, em grande parte, evidentemente reelaborações de assuntos já tradicionais. Somente um estudo comparativo por parte de pesquisadores com conhecimento das tradições brasileiras pode levar a uma melhor compreensão desses fenômenos culturai.s
Sistema referencial da cultura cristã-ocidental nas tragédias
de São Tomé As tradições musicais católicas da esfera de antigo direito do
Padroado português - transmitidas por missionários ou assimiladas
de forma espontânea no contacto cultural - vinculam-se a costumes
medievais e são impregnadas de conceitos que, por último, levam
à epoca da cristianização do mundo antigo. Através dos séculos,
como expressão de identidade cultural cristã, esse patrimônio
da Antiguidade foi submetido a um processo de contínua metamorfose.
Ainda que produto da recepção cultural, essas tradições representam
o vir-a-ser cultural próprio das comunidades cristãs surgidas
em regiões não-européias desde a época dos Descobrimentos. Nelas
se manifesta a consciência histórica dessas comunidades. Quando,
porém, se coloca a questão da "origem" dessas tradições, então
deve-se sempre ter em mente a continuidade geral do desenvolvimento
histórico global. Os documentos da época dos Descobrimentos testemunham
a transferêencia de costumes do ciclo de festas do ano religioso,
como, por exemplo, os de lutas e combates simbólicos. Estes, remontando
nos seus fundamentos a visão do mundo já vigente em época anterior
ao Cristianismo - relacionam-se, na sua metanoia cristã, com a
experiência ibérica da Reconquista e adaptam-se às novas situações
da história da implantação do Cristianismo nas regiões extra-européias.
Nas tradições cristãs do Brasil, de São Tomé e de outras regiões,
que mesmo como expressões lúdicas relembram sempre a escatologia
geral, recapitulam-se ocorrências marcantes da formação e da história
do povo, combinando-as com elementos imaginários, fantásticos,
simbólicos e alegóricos. Ainda que essas expressões necessitem
ser consideradas no âmbito dos respectivos contextos, devem ser
interpretadas globalmente no conjunto das tradições cristãs e
também na sua relevância para a vida interior do indivíduo. Esse
relacionamento dialético manifesta-se, por exemplo, nos episódios
de autos que atualizam conteúdos e formas de romances difundidos
em Portugal, em complexa combinação com fatos históricos. Podem
ser citados aqui, entre outros, os romances "O Cego", "Capitão
da Armada", "Bela Infante", "Donzela que vai à guerra". As tragédias de São Tomé (Tchilôli) oferecem também atualizações
de assuntos medievais, mesclados com elementos africanos. Nos
últimos anos, a pesquisa tem dado atenção sobretudo ao papel exercido
pela Madeira na história da recepção cultural das ilhas de São
Tomé e Príncipe. Sobretudo as obras do cego Balthasar Dias parecem
ter experimentado grande difusão no século XVI. (...) A.A.Bispo, Abertura dos trabalhos ("Referencial da cultura do
Ocidente nas Tragédias de São Tomé", publicado 1987/88)
Bezugssystem der abendländischen Kultur in den Spielen von São
Tomé Die katholischen Musiktraditionen des Raumes des ehemaligen portugiesischen
Patronatsrechtes -seien sie durch die Missionare gezielt übertragen,
seien sie spontan übernommen worden - knüpfen an mittelalterliche
Bräuche an und sind von Auffassungen durchdrungen, die auf die
verchristlichte Antike zurückweisen. Durch die Jahrhunderte wurde
das antike Erbe aus christlicher Kulturidentität heraus einem
Prozeß der stetigen Umformung unterworfen. Wenn auch rezepiert,
stellen diese Traditionen die eigene Kulturentwicklung der in
der Neuzeit entstandenen christlichen Gemeinden dar und in ihnen
kommt das christliche Geschichtsbewußtsein dieser Gemeinschaften
zum Ausdruck. Wenn aber die Frage nach dem "Ursprung" dieser Traditionen
gestellt wird, so muß das Kontinuierliche in ihrer Entwicklung
stets vor Augen gehalten werden. Die Dokumente der Entdeckungszeit
sprechen von der Übertragung von Bräuchen des religiösen Festkreises,
u.a. von Scheinkämpfen, welche - auf ein weit ins Vorchristliche
zurückweisendes Weltbild gründend - die historische Reconquista-Erfahrung
der iberischen Halbinsel ausdrückten und der neuen geschichtlichen
Situation in den außereuropäischen Regionen angepaßt wurden. Bei
den christlichen Traditionen Brasiliens, São Tomés u.a. Regionen,
die selbst beim spielerischen Feiern an die allgemeine Eschata
erinnern, werden vielfach sowohl die das geschichtliche Dasein
des Volkes prägenden Ereignisse als auch Imaginäres, Fantastisches,
Symbolhaftes, Allegorisches rekapituliert; auch wenn sie bei der
Kulturbetrachtung im Einzelnen berücksichtigt werden müssen, sollten
sie ebenso als in das Spannunsfeld des Ganzen wie auch in die
Eschata des Individuums integriert angesehen werden. Dieses dialektische
Verhältnis kommt beispielsweise in der vielfach als Episode von
Autos erscheinenden Vergegenwärtigung der in Portugal weitverbreiteten
Romane zum Ausdruck, die sich mit historischen Begebenheiten in
komplexer Weise vermischen. Erwähnt seien u.a. die auf der iberischen
Halbinsel weitverbreiteten Romane "O Cego", "Capitão da Armada",
"Bela Infante", "Donzela que vai à guerra" u.a. Die "Tragédias de São Tomé" (Tchilôli) auf São Tomé und Príncipe
bieten ebenfalls Vergegenwärtigungen alter europäischer Romanstoffe,
die mit afrikanischen Elementen vermischt sind. In den letzten
Jahren wird in der Forschung zunehmend auf die Rolle Madeiras
in der Rezeptionsgeschichte dieser Inseln hingewiesen. Vor allem
die Werke des blinden Baltasar Dias (16. Jh.) sollen eine weite
Verbreitung genossen haben. (...) A.A.Bispo, Abertura dos trabalhos ("Referencial da cultura do
Ocidente nas Tragédias de São Tomé", publicado 1987/88)