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No. 92 (2004: 6)


 

Amparo. Ciclo de estudos

 

Economia e cultura de imigrantes católicos no Estado de São Paulo e a ação de Franciscanos da Saxônia

Amparo. Trabalhos da A.B.E. 2006

 

AmparoNo âmbito do ciclo de estudos dedicado ao tema Economia - História Colonial - Allegoria, realizaram-se sessões de estudos em cidades européias e brasileiras. Entre elas, considerou-se a cidade de Amparo, no Estado de São Paulo, exemplo do desenvolvimento econômico experimentado pela região de Campinas na época do florescimento das plantações de café no século XIX e do papel nela exercido por imigrantes, na sua maioria italianos.

Amparo insere-se entre as cidades que testemunham, no seu patrimônio arquitetônico, de forma mais expressiva os elos entre o desenvolvimento econômico da região, a colonização européia e as imagens culturais. Os seus monumentos e bens construídos, ainda que pouco estudados, pertencem aos mais significativos da época do historicismo e do ecleticismo no Brasil. No seu patrimônio pode-se estudar diferenças entre os diversos grupos de imigração e as formas de expressão escolhidas para a sua representação cultural.

O historicismo neo-renascentista e neo-barroco italiano apresenta outras conotações do que o neo-gótico eclético representado no edifício do Grêmio Português de Beneficiência da colonia portuguesa. O neo-gótico português, conhecido de construções da época de diversas cidades portuguesas e brasileiras, não pode ser considerado apenas como um simples exemplo de orientação historicista. A romântica valorização da Idade Média une-se aqui de forma muito mais evidente com a reintensificação do Catolicismo no sentido de sua restauração litúrgica e de interiorização.
O catolicismo restaurativo dos portugueses no Brasil diferenciou-se nesse sentido daquele dos imigrantes italianos que preferiram modos de expressão neo-renascentistas e neo-barrocos. Também nos meios católicos italianos sentiu-se a tendência restaurativa, essa, porém, orientou-se mais pelo período do Concílio de Trento no século XVI. Pode-se constatar, assim, diferenças quanto aos paradigmas religioso-culturais e seus meios de expressão segundo os grupos de imigrantes. Tais diferenças dizem respeito a processos de formação e transformação de identidades. Os edifícios possuíam em grande parte cunho de representação, ou seja, manifestavam a auto-imagem dos diferentes grupos e a imagem com que pretendiam ser identificados.

Cumpre lembrar, porém, que Amparo possui um dos poucos exemplos no Brasil de arquitetura de inspiração mourisca. Aqui as questões do historicismo se colocam de foma menos evidentemente relacionadas com grupos de imigrantes. Elas dirigem a atenção para o fato de que nem todas as expressões que surgem como indicadoras de processos identificatórios de comunidades necessitam ser vinculadas com grupos, o de imigrantes no caso. Também podem ser resultados de iniciativas pessoais e de instituições.

Franciscanos da Saxônia

A história cultural de Amparo, na sua fundamentação religiosa, não foi apenas marcada pelo catolicismo dos imigrantes, sobretudo italianos. Recebeu também a influência de religiosos alemães. Embora não sendo uma cidade de marcante presença alemã, a sua vida religioso-cultural foi determinada pela presença e pela ação desses religiosos.

Com a proclamação da República e com a repopulação dos conventos e mosteiros brasileiros, colocava-se a questão dos religiosos que poderiam revivificá-los e constituir outros núcleos de vida espiritual segundo os critérios restauradores fomentados por Roma. Os Franciscanos da Província de Santo Antonio no Norte do Brasil, através do Provincial Frei Antonio de São Camilo de Salis de Carvalho, dirigiu-se ao Pontífice com o pedido de revitalização da agonizante Província brasileira através do envio de missionários europeus.

Escolheu-se, para essa revitalização a Província de Santa Cruz da Saxônia. Tendo a Congregação de Propaganda Fide encarregado a Ordem Franciscana através do seu General, P. Aloysius a Parma, da missão brasileira, este, por decreto de 18 de dezembro de 1889, confiou o envio de missionários ao P. Gregor Janknecht, Provincial da Saxônia. Os primeiros quatro franciscanos saxões, Amandus Bahlmann, Xystus Meiwes e os irmãos Hubertus Themann e Mauritius Schmalor embarcaram em Bremen no dia 25 de maio de 1891 pelo vapor Graf Bismarck, então na sua última viagem. Após ter visitado as casas no Norte e no Sul do Brasil, o fundador da missão, P. Gregorius Janknecht, publicou uma circular, a 5 de fevereiro de 1896, onde explicava que não podia ser efetivada a intenção da Província em enviar primeiramente religiosos para o Sul, a fim de se acostumarem com o clima e com a língua. Os imigrantes católicos que ali viviam eram pobres demais para que pudessem construir e sustentar conventos. Apesar dessa visão pessimista, foi possível organizar uma rêde de estabelecimentos franciscanos nessas regiões.

A cidade de Amparo foi uma daquelas escolhidas como centro de atividades dos Franciscanos da Saxônia:

"A cidade Amparo é uma das maiores e mais florescentes cidades da diocese de Campinas no Estado de São Paulo. No ano de 1820 ali se estabeleceram os primeiros colonos, atraídos pela localização magnífica e pela fertilidade do terreno. Após ter-se criado uma pequena comunidade, começou-se a construir uma capela sob a invocação de Nossa Senhora do Amparo. Amparo permaneceu como nome da amável localidade até hoje. As favoráveis condições do terreno fizeram com que se desenvolvesse rapidamente e já em 1865 pode ser elevada à categoria de cidade. Hoje pode-se ver, onde há cem anos dominavam florestas impenetráveis, magníficas plantações de café, que se extendem por milhas sobre montanhas e vales e que fazem a prosperidade da população. O municipício atual conta com ca. de 60000 habitantes, dos quais 15000 vivem na cidade. Até a chegada dos franciscanos, a vasta paróquia estava a cargo apenas de um vigário e de um sacerdote auxiliar. Esse foi a razão porque o bispo de Campinas, Dom Nevy, na sua preocupação pela cura de almas, dirigiu-se repetidamente aos superiores da Província para conseguir colaboradores para a paróquia." (P. Cletus Espey, Festschrift zum Silberjubiläum der Wiedererrichtung der Provinz von der Unbefleckten Empfängnis im Süden Brasiliens 1901-1926, Werl i. Westf.1926,71)

Em 1911, chegaram a Amparo o P. Ägidius Schweckhorst e o Pe. Dismas Wolff. Assumiram a direção da Igreja de São Benedito. Até a construção de um convento próprio, instalaram-se em celas nas salas laterais da igreja. Além dos trabalhos na própria igreja, celebravam missas em quatro igrejas filiais aos domingos e numa série de capelas nas redondezas. Também ajudavam nos trabalhos paroquias e assumiram as missas e a direção religiosa das dominicanas no Pensionato que possuíam, assim como das Franciscanas no seu Orfanato. Essas religiosas dirigiam também uma Escola de meninos com ca. de 300 crianças e tinham fundado uma escola noturna para jovens.

A partir de 1913, os franciscanos passaram a ter um convento próprio. O edifício foi construído segundo planos do arquiteto da Ordem, Irmão Felician Schlag. Em 1914, o Pe. Gregorius Kürpick foi nomeado a primeiro guardião do Convento. O seu sucessor, P. Lucinius Korte, construiu um colégio para jovens e um vasto edifício para a associação cristã de moços. Posteriormente, os franciscanos fundaram uma Liga da Modéstia Cristã para o fomento da dignidade, entre outros da forma de trajar de mulheres católicas, e que logo possuiu mais de 4000 sócios. Essa associação foi bem vista por muitos bispos e apresentada como modêlo para outras regiões.

Os primeiros superiores do Convento de Amparo foram: P. Ägidius Schweckhorst, de 1911 a 1913, P. Gregorius Kürpic, de 1914 a 1917, P. Lucinius Korte, de 1917 a 1923, e P. Agnellus Toppheide, a partir de 1923. (págs. 71-72)

Repercussões na Europa e história paulista

No Definitorium de 1924, no Rio de Janeiro, decidiu-se a compra de uma nova casa de estudos para os canditados europeus à Ordem. O Convento de Moresnet fora colocado à disposição dos religiosos brasileiros por algum tempo. A seguir, a Congregação dos Padres do Santíssimo Sacramento ofereceram o seu colégio em Garnstock, na Bélgica. O edifício foi comprado e colocado sob o patrocínio brasileiro.

Esse ano, porém, foi marcado por graves dificuldades para a Ordem, em especial em Amparo. A Revolução de 1924, que estourou no dia 5 de julho, atingiu a vida religiosa. O convento do Pari, em São Paulo, inseria-se na área de luta, assim como o de São Francisco, no centro da cidade. O convento de Amparo foi logo de início ocupado por forças revolucionárias. O Padre Guardião colocou a escola à disposição da comissão de auxílio para a colocação dos fugitivos de São Paulo. Mesmo assim, os religiosos continuaram com os seus exercícios. (págs. 63-64)

(...)

G.R.

 

Observação: o texto aqui publicado oferece apenas um relato suscinto de trabalhos. Não tendo o cunho de estudo ou ensaio, não inclui notas e citações bibliográficas. O seu escopo deve ser considerado no contexto geral deste número da revista. Pede-se ao leitor que se oriente segundo o índice desta edição (acesso acima).

 

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