Timbre ABE

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No. 91 (2004: 5)


 

Edifícios dançantes. Programa

 

Impressões, imagens e mitos

a posteriori:
reflexões motivadas pelo

Colóquio Internacional de Estudos Interculturais

2004

Academia Brasil-Europa

 

 

Edifícios dançantes e imagem de cidades

Porto da Mídia, Düsseldorf, Trabalhos da A.B.E. 2004

 

Porto da Mídia DüsseldorfRealizou-se, no dia 12 de abril de 2004, uma visita ao Porto da Mídia, em Düsseldorf, Reno-do-Norte/Vestfália. As reflexões basearam-se nos trabalhos desenvolvidos no Colóquio Internacional de Estudos Interculturais pelos 450 anos de São Paulo.

Deu-se prosseguimento, em particular, à sessão levada a efeito em Guaratiba, RJ. Nessa jornada, como relatado, foram tratadas questões concernentes às relações entre a percepção do meio ambiente, a percepção urbana e a música, com especial consideração da politonalidade na história da música do século XX (veja texto em número anterior desta revista).

Os debates em Guaratiba se concentraram na experiência de Darius Milhaud no Rio de Janeiro, no início do século, na sistematização de suas impressões na obra criadora e de suas repercussões. O tema inseriu-se no escopo do projeto Poética da Urbanidade, desenvolvido em várias cidades da Europa e do Caribe. Essas discussões deram prosseguimento também a estudos desenvolvidos no seminário sobre Urbanística e Música da Universidade de Bonn.

Se no debate de Guaratiba a atenção foi dirigida à percepção acústica de movimentações em situações urbanas e suas repercussões na história cultural do século XX, agora considerou-se a questão do movimento na própria arquitetura.

Esse complexo temático, tratado sob o enfoque das relações entre a Dança e Arquitetura e a Coreografia e o Urbanismo já havia sido considerado sob diversos aspectos. Em Düsseldorf, porém, tratou-se da questão da participação criativa do observador e do participante na movimentação sugerida pelos edifícios.

A proposta partiu de participantes do Colóquio que constataram o papel singular e marcante, ainda que já histórico, do edifício Copam em São Paulo. Tratava-se de discutir as diferentes possibilidades de integração de linhas não-retilíneas e de sugestões de movimentos em edifícios "dançantes".

Porto da Mídia

O Porto da Mídia, em Düsseldorf, faz parte daqueles projetos que hoje procuram valorizar e vitalizar áreas degradadas ou que perderam a sua função original: fábricas, estações e, sobretudo, portos. Vários desses últimos têm sido refuncionalizados em cidades portuárias de diversos países, por exemplo em Hamburgo e em Buenos Aires. Dirigido à Mídia, o Porto de Düsseldorf representa uma espécie de correspondência ao Parque da Mídia na cidade vizinha de Colonia.

As reflexões foram dirigidas aqui à análise arquitetônica de alguns dos principais edifícios em si e na sua relação com o complexo urbano. Uma particular atenção foi dada às propostas pós-modernas do Porto da Mídia. As relações entre concepções arquitetônicas e musicais foram aqui retomadas sob o enfoque de propostas deconstrutivistas. O centro das atenções foi constituído pelos "prédios de escritório dançantes".

Imagem como estrategia

Particular consideração deu-se à importância do discurso referente à imagem para a própria concretização do projeto. A proposta partiu de um particular interessado na aquisição de um terreno municipal para a realização de um ambicioso projeto de revalorização urbana. Para conseguir o terreno da cidade, realizou-se um show de diapositivos, onde foram apresentadas obras que marcam a imagem de cidades do mundo todo, tais como a ópera de Sidney, a estátua da liberdade de Nova Iorque, e outras. Assim, demonstrou-se de forma expressiva e de imediata compreensão que uma cidade se define não apenas pelo seu nome, mas sim pela imagem de seus edifícios.

No concurso internacional então realizado, em 1989, o vencedor foi Zaha Hadid, uma arquiteta iraquiana-inglêsa. A sua proposta foi a da construção de um edifício transparente, caracterizado pela dinâmica e por um terraço sobre a água, sem o uso de materiais maciços. Por não preencher porém requisitos contra incêndio, e exigindo para a supressão de tal falha grande somas, o projeto não pode ser realizado. A partir, disso contratou-se diretamente Frank O. Gehry.

Percepção como ponto de partida

Após ter visitado o terreno e estudar um plano de distribuição espacial, Gehry utilizou-se de um procedimento também muito empregado por arquitetos brasileiros: o de uma primeira aproximação sensível com os espaços e volumes. Distribuindo módulos de madeira sobre uma superfície correspondente à área a ser construída, procurou perceber os espaços a serem criados. Primeiramente, portanto, não se tratou de função, mas sim de volumes e de espaços. A partir daí, então construiu-se um modêlo dos entornos no seu estúdio de Los Angeles.

No processo criador, a consideração dos elos com o meio urbano envolvente foi importante. As ruas não deviam terminar num muro edificado e, para isso, dividiu o volume em vários corpos, permitindo uma visão através dos mesmos. Do ponto de vista construtivo, merece ser lembrado especialmente o aspecto do desenvolvimento, num dos edifícios, do corpo construtivo a partir do contorno externo.

Quanto ao aspecto dançante dos edifícios, esse necessita ser considerado a partir do relacionamento e da interação das três unidades formadas pelo edifício vermelho, concebido como elo com o porto, pelo branco e por um de metal intermediário. O vermelho e o branco refletem-se no metal do edifício intermediário, fundindo-se num complexo jogo de movimentos e formas e constituindo um todo virtual. Com os reflexos de luz e o jogo de linhas e sombras, os edifícios parecem viver e dançar. Assim, a configuração espacial e a percepção dos espaços se interrelacionam, requerendo a participação criativa do observador.

Com a construção desse edifício marcante, conseguiu-se criar um novo significado para uma zona desprestigiada da malha urbana. O centro da cidade, já nos fins dos anos 80, encontrava barreiras físicas para a sua expansão. Uma delas era uma via de tráfego intenso, que unia a estrada que leva a Colonia ao estádio e à feira de exposição. Com a construção de um túnel, superou-se essa barreira, aproximando a cidade do rio Reno. Procurou-se, então valorizar a zona portuária em questão, na esperança que um dia se unisse ao centro. Construiram-se os primeiros edifícios, um centro de Mídia, um cinema e outros prédios. Entretanto, apenas o projeto de ali se criar uma "estrada de criativos", com edifícios de arquitetura inovadora poderia fazer supor que essas expectativas pudessem tornar-se realidade. A nova arquitetura surge maleável e instigante, fomentando uma transformação da própria percepção do habitante. Este realiza, em movimentação virtual quase que coreográfica, um todo que une o Porto refuncionalizado ao centro histórico.

Linhas ondulantes no Modernismo do passado

Nesse contexto, o pensamento foi direcionado à situação ao mesmo tempo similar e distinta de edifícios de linhas ondulantes conhecidos de outras cidades e ainda vinculados ao Modernismo do passado recente. Considerou-se os diferentes aportes e as possibilidade de interpretação de concepções modernas e pós-modernas da questão de edifícios emblemáticos e da movimentação na arquitetura. Sob esse aspecto, recordou-se o edifício Copam e o prédio Itália em São Paulo, no contexto de sua origem, na estrategia de ocupação e refuncionalização do espaço entre a cidade nova (além do Chá) de São Paulo e a zona da Consolação na época, assim como a função caracterizadora da imagem de São Paulo que desde então exerceu.

(...)

G.R.

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