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No. 91 (2004: 5)


 

Cultura/Natureza. Programa em Neersen

 

Impressões, imagens e mitos

a posteriori:
reflexões motivadas pelo

Colóquio Internacional de Estudos Interculturais

2004

Academia Brasil-Europa

 

 

DE BURLE-MARX À EUROGA

Cultura/Natureza em estudos comparativos de concepções

Neersen, Trabalhos da A.B.E. 2004

 

Jardins do palácio de NeersenRealizou-se, no dia 12 de abril de 2004, uma visita de estudos ao Castelo de Neersen, Reno-do-Norte/Vestfália.

As reflexões basearam-se nos trabalhos desenvolvidos no âmbito do Colóquio Internacional de Estudos Interculturais, em particular naqueles da sessão levada a efeito no Sítio Burle-Marx, em Guaratiba, RJ.

Naquela jornada, como relatado (veja texto em número anterior desta revista), foram tratadas questões concernentes às relações entre Cultura e Natureza. O tema inseriu-se no escopo do projeto Poética da Urbanidade, desenvolvido em várias cidades da Europa e do Caribe.

Após o encerramento do evento, os participantes alemães realizaram um encontro para troca de impressões e discussão de seus resultados na sede européia da Academia Brasil-Europa (veja relato nesta edição). Para a discussão dos trabalhos relativos ao projeto Cultura e Natureza, porém, escolheu-se a oportunidadade de uma visita aos jardins do Castelo de Neersen.

Euroga e o Parque dos Sentidos

No ano de 2002, realizou-se ali uma parte da exposição de parques do Estado do Reno-do Norte/Vestfália. Para a exposição, os jardins foram recuperados segundo modêlos do século XVIII.

Uma singularidade foi a concretização de um projeto denominado Parque dos Sentidos. Em labirintos, caracóis e outros tipos de ordenação espacial da vegetação, procura-se oferecer possibilidades para o exercício de acuidade perceptiva e de fruição da Natureza. A instalação de esculturas que possibilitam perspectivas e focalizações representou um dos aspectos do projeto.

A exposição de jardins do Estado do Reno do Norte/Westfália refletiu uma política caracterizada por intuitos de decentralização.

O projeto foi estruturado segundo sete parques já existentes, de interesse histórico. Com isso, as verbas existentes puderam ser empregadas na recuperação, na valorização e na atualização desses jardins. O projeto inseriu-se em complexo temático destinado ao estabelecimento de vínculos entre Natureza, Cultura e Paisagem. Um dos objetivos principais foi o da manutenção permanente, ou seja, da criação e fomento de estruturas de conservação a longo prazo em zonas de proteção natural. A conectação de instituições e projetos de diferentes regiões e até mesmo países deveria contribuir para um emprêgo mais efetivo de forças e possibilidades materiais. A partir da Natureza dar-se-ia mais um passo no sentido da integração.

Numa exposição denominada de Euroga 2002 plus, inserida na 2. Regionale do Estado do Reno-do-Norte/Vestfália, conseguiu-se a participação de 58 cidades e comunidades, tanto do lado alemão como do holandês. Aqui, procurou-se salientar a interligação de bens culturais e naturais da região fronteiriça a partir de uma nova encenação dos parques. Para a intensificação de percepção e uso desse patrimônio segundo normas de sustentabilidade e preservação por parte dos habitantes instalou-se uma rêde de 600 km de caminhos para bicicleta.

No projeto, renunciou-se à criação de novos parques, concentrando-se a atenção ao já existente. Este foi então reconstruído, remodelado e atualizado. O empreendimento teve, assim, uma orientação fundamentalmente ecológica, embora tratada sob o aspecto cultural. O patrimônio cultural dos jardins históricos, ao mesmo tempo um patrimônio natural, deveria ser trazido à consciência, salientando-se a sua presença e atualidade.

Sendo parques históricos, o seu conjunto possibilita uma visão geral da história da arte de jardins dos últimos séculos. Também permite um panorama das transformações que ocorreram quanto à concepção de Natureza e de suas relações com a Cultura. O objetivo, porém, não foi apenas restaurar disposições históricas, mas sim estabelecer relações com a atualidade, ainda que em contraponto.

Por essa razão, amostras florais e sobretudo obras de arte contemporânea foram realizadas com o sentido de dar presença atual e permitir focalizações particulares de aspectos paisagísticos. Durante sete noites de verão, os parques transformaram-se em espetáculos de luz e som. Os jardins puderam ser percebidos a partir de outras perspectivas e conotações, superando-se o conhecido e o convencional. Tratou-se, assim, de fazer da visita aos parques uma experiência sensorial e cultural, ou melhor renová-la. Os sete parques deveram transformar-se em emblema de um Renascimento da arte de jardins da região.

Os sete parques escolhidos foram: 1) o castelo Dyck (Jüchen), centro da exposição decentralizada, com uma combinação do histórico com o moderno, com 24 jardins novos; 2) o parque do castelo Linn e Greiffenhorst, em Krefeld, próximos ao núcleo medieval de Linn, em estilo inglês, de autoria do paisagista Maximilian Friedrich-Weyhe; 3) o parque do palácio de Benrath, em Düsseldorf, do barroco tardio, com disposição simétrica de jardins, sebes e espelhos d'água; 4) o jardim da Côrte, em Düsseldorf, também em estilo de parque inglês, um dos primeiros jardins populares da Alemanha, no centro de uma grande cidade; 5) o jardim do palácio de Wickrath, com a sua disposição em forma de coroa e combinações de águas paradas e correntes; 6) o parque de Marienburg, em Monheim, disposto em terreno elevado, com panorama sobre a planície renana, e, finalmente, 7) o parque do palácio de Neersen, em Willich, celebrado como o mais íntimo de todos.

Neersen

O castelo de Neersenfoi, na Idade Média, sede de um patronato hereditário da jurisdição eclesiástica de Colonia. Menção documental encontra-se em fonte de 1371. O domínio encontrava-se nos limites de Colonia com o Ducado de Jülich. Os soldados ali estacionados protegiam as passagens do rio Niers por ocasião de guerras. Em 1487, com a extinção da linha masculina da família, o patrimônio passou para Anton von Palant. Uma de suas descendentes, Agnes von Palant, casando-se com Ambrosius von Virmond zu Nordenbeck, de Hesse, fundou a linha von Virmond. Essa família, por méritos alcançados durante a Guerra dos Trinta Anos (1618-1648) foi nobilitada, e o castelo passou por reformas que tiveram o objetivo de aumentar as suas novas funções representativas. Adrian Wilhelm von Virmond transformou o burgo medieval, entre 1661 e 1669, em palácio barroco com três asas e quatro torres. Após a extinção da família, em 1744, o edifício foi revendido ao Arcebispado de Colonia. A sua separação da Igreja deu-se apenas com a secularização de bens eclesiásticos no período de ocupação bonapartista. A história do edifício no século XIX é burguesa: foi comprado inicialmente por um funcionário local, posteriormente transformado em fábrica de algodão e de tecelagem. Destruído por um incêndio, em 1859, foi reconstruído em parte por um industrial, em 1896 e, em 1928, comprado por um particular. Após a Segunda Grande Guerra, o edifício abrigou uma divisão das forças americanas e, a seguir, utilizado como casa de férias para crianças e, por fim, como sede da prefeitura da cidade Willich, para o qual a sua asa ocidental foi reconstruída.

Com a implantação do Parque dos Sentidos, a área de Neersen ganhou nova expressão. Essa valorização, que traz conseqüências para a própria conservação do parque e do edifício, apenas tornou-se possível com a inserção do mesmo no conjunto global de parques. A sua história cultural, por si sem maior força para a criação de imagens e identidades marcantes, perde o seu aspecto fragmentário no mosaico criado pelo conjunto dos jardins regionais.

Reflexões sobre a aplicação da concepção a metrópoles

No decorrer das reflexões, exercitou-se a idéia da aplicação de concepção paisagístico-patrimonial similar no caso de uma grande cidade como São Paulo. Também aqui poder-se-ia imaginar uma conectação dos vários jardins, com as suas histórias e características particulares, representativas de diferentes épocas histórico-culturais e de desenvolvimento urbano-social. Tal visão de conjunto contribuiria para a criação de um complexo que possibilita novas experiências para a população, para o fortalecimento de uma imagem integrada inter- ou supra-bairral da metrópole. Considerou-se, como exemplo, o valor histórico-cultural e paisagístico de vários parques paulistas, entre êles o do Jardim da Luz, o do Ipiranga, o da Aclimação, o da Praça Buenos Aires, o do Parque Siqueira Campos assim como de outros infelizmente sacrificados, tais como o da Praça Marechal Deodoro e do Largo São Paulo.

(...)

G.R.
Observação: o texto aqui publicado oferece apenas um relato suscinto de trabalhos. Não tendo o cunho de estudo ou ensaio, não inclui notas e citações bibliográficas. O seu escopo deve ser considerado no contexto geral deste número da revista. Pede-se ao leitor que se oriente segundo o índice desta edição (acesso acima).

 
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