Timbre ABE

Prof. Dr. A. A. Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e curadoria científica
© 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1999 by ISMPS e.V. © 2006 nova edição by ISMPS e.V.
Todos os direitos reservados


»»» impressum -------------- »»» índice geral -------------- »»» www.brasil-europa.eu

No. 90 (2004: 4)


 

Titulo Coloquio Parte II

Entidades promotoras
Academia Brasil-Europa
I.S.M.P.S./I.B.E.M.: Instituto de Estudos Culturais do Mundo de Língua Portuguesa/Instituto Brasileiro de Estudos Musicológicos

Em cooperação com
Musikwissenschaftliches Seminar der Universität Bonn

e apoios das seguintes instituições

Museu Imperial
Instituto de Meninos Cantores de Petrópolis
Academia Brasileira de Música
Fundação Casa Rui Barbosa
Museu Casa Burle Marx
Secretaria de Cultura do Município de São Paulo
Centro Cultural São Paulo
Theatro Municipal de São Paulo
Páteo do Colégio
Philharmonia Brasileira
Prefeitura e Câmara Municipal de Joanópolis
Escola Superior de Educação, Instituto Politécnico de Coimbra
Instituto de Estudos Clássicos e Brasileiros da Universidade de Coimbra

Agradecimentos especiais
Mercedes de Moura Reis Pequeno, Edino Krieger, Marco Aurelio Lischt dos Santos

Direção geral
Dr. Antonio Alexandre Bispo

vista a partir de Santa Teresa
© Foto: A.A.Bispo 2004
Arquivo A.B.E.

 

Poética da Urbanidade e identidade de bairros

450 ANOS DE SÃO PAULO
COLÓQUIO INTERNACIONAL DE ESTUDOS INTERCULTURAIS
ACADEMIA BRASIL-EUROPA

Santa Teresa
Rio de Janeiro, 20 de março de 2004

 

Bonde Santa Teresa No âmbito da jornada do Rio de Janeiro do Colóquio Internacional de Estudos Interculturais pelos 450 anos de São Paulo organizado pela Academia Brasil-Europa, realizou-se um passeio cultural pelo bairro de Santa Teresa.

O objetivo dessa visita não foi porém simplesmente turístico. Como em outras ocasiões, a A.B.E. fêz questão de incluir esse bairro na programação do evento para o Rio de Janeiro.

O bairro de Santa Teresa oferece motivações múltiplas para reflexões teórico-culturais, sobretudo no caso de um colóquio dedicado a questões de interculturalidade, de poética da urbanidade e das relações entre a Cultura e a Natureza.

Com relação às questões interculturais, lembrou-se, entre outros aspectos, do fato de que os visitantes estrangeiros do Rio de Janeiro, no passado, quase sempre se hospedavam no bairro de Santa Teresa, e a imagem que transmitiram da cidade, inclusive em publicações, foi marcada pelas suas impressões e experiências de sua estadia. Obras importantes sobre o Brasil, tais como a da Princesa Teresa da Baviera, incluem referências à pujança da natureza e às pesquisas que ali realizou da vida vegetal e animal.

Pode-se afirmar que poucos bairros do mundo há que melhores condições oferecem para o tratamento contextualizado de questões referentes à relação entre Cultura e Natureza. Considerando-se, de outro lado, a história cultural do bairro, o papel que desempenhou e que desempenha na vida cultural do Rio de Janeiro, compreende-se a sua relevância dentro de um programa dedicado à Poética da Urbanidade.

O Colóquio de Estudos Interculturais, porém, sendo dedicado aos 450 anos de São Paulo, levantava a questão dos elos mais próximos entre Santa Teresa e a motivação do evento. A justificativa aqui residiu no fato de Santa Teresa possuir, como última comunidade do Brasil, uma quase que intacta rêde de bondes em funcionamento, permitindo um contacto mais real com um meio de transporte que foi de extraordinária importância para São Paulo e cujo significado de muito superava a sua mera função prática de locomoção.

São Paulo possuiu uma rêde de bondes que foi, na sua extensão e diversificação, única na América Latina. Ela foi não apenas foi instalada na malha viária existente e reforçou estruturas urbanas; serviu também para a ocupação e o desenvolvimento de novos espaços urbanos. Esse tipo de transporte estava estreitamente vinculado com a identidade e a imagem de São Paulo, tanto do seu centro como de muitos bairros. A percepção dos espaços era determinada pelos trajetos, e o entendimento da cidade, do seu vir-a-ser, de uma lógica interna do meio urbano era em grande parte determinado pela ótica do passageiro dos bondes.

A falta de estudos mais pormenorizados da longa história desse meio de transporte em São Paulo não representa apenas uma lacuna de menor significado. É uma falha bastante sensível nos estudos culturais, pois diz respeito, entre outros aspectos, a questões de percepção de espaços, de compreensão de lógicas urbanas, de identidades de comunidades e imagens de bairros.

A extinção desse sistema de transporte não apenas deve ser considerado como resultado de uma exigência da modernização e da racionalização, e uma questão a ser tratada sob aspectos exclusivamente pragmáticos e técnicos. Deve ser analisada também nas graves conseqüências que trouxe para a organização espacial, para a sua desagregação histórico-cultural na percepção urbana por parte de seus habitantes, enfim como perda de um dos bens patrimoniais da urbe.

A rêde de trilhos, tal como ainda se observa em Lisboa e como está sendo reimplantada em várias cidades européias, representou para São Paulo uma estrutura na estrutura de suas ruas e logradouros: linhas e entrelaçamentos superpostos e criadores de significados, elementos enriquecedores da partitura urbana.

Em muitos bairros de São Paulo, o estudioso que procura realizar exercícios de leitura urbano-cultural necessita ainda hoje, após tantas décadas, seguir mentalmente as antigas linhas de bonde. Vias rápidas, cortadas sem maior sensibilidade através de situações urbanas, abalaram em muitos casos estruturas de significado para a identidade de comunidades, para imagens diferenciadoras de bairros, contribuindo para uma perda de vínculo histórico-cultural e emocional do homem para o meio e o micro-espaço, agora perdido na massa amorfa da metrópole. Trata-se, assim de uma questão cultural e de qualidade de vida.

Santa Terese. Bonde 2

 

ao indice deste volume (n° 90)
à página inicial
Editor