Realizou-se, no dia 15 de março de 2004, no foyer do Teatro Municipal de São Paulo, sessão solene da Academia Brasil-Europa e de seus institutos por motivo dos 450 anos de São Paulo.

A sessão foi musicalmente emoldurada pelo tenor português Felipe Garcia, acompanhado ao piano pela Profa. Isolda Bassi-Bruch.

Abrindo a sessão, a direção do Teatro Municipal apresentou as boas vindas aos participantes, salientando o papel desempenhado pelo teatro na história cultural da cidade e do Brasil. Lembrou-se sobretudo que a casa foi sede da Semana de Arte Moderna de 1922, marco na história das artes e da cultura do país.

Agradecendo a essas saudações, o Dr. A. A. Bispo salientou que o Teatro Municipal não apenas tem um significado relevante na história cultural da cidade por ter sido sede principal de eventos culturais, alguns deles marcos de desenvolvimentos de dimensões transcendentes, mas sim também por ser um marco de um determinado período da evolução urbana da cidade, tendo caracterizado profundamente a imagem urbana.

Além do mais, o edifício tem um valor simbólico-cultural e que pode ser estudado sob diversos aspectos. Um deles ´r pelo fato de dirigir a atenção à Lírica nas suas múltiplas dimensões. Não se trata aqui apenas de uma questão referente à ópera na história cultural da cidade. A Lírica compreende aspectos muito mais profundos, sendo de excepcional relevância para os estudos culturais.

Como salientou, as próprias representações da Lira, de Orfeu e de Apolo na decoração da sala onde se desenvolviam os trabalhos denotavam os elos com um edifício de concepções transmitido pelas imagens mitológicas de remotas origens. O símbolo da Lira, presente no edifício, fora através dos séculos um símbolo de natureza antropológico-simbólica, profundamente vinculado com a cultura. Como resultado de invenção de Mercúrio, mas oferecido a Apolo, apresenta conotações com personificações divinizadas de tipos humanos e de processos de aperfeiçoamento interior.

Sob esse aspecto, toda a história da implantação urbana dos primeiros séculos, do processo de expansão da rêde viária, da transformação cultural poderia ser analisado segundo o paradigma da Lira, uma vez que até mesmo figuras da história paulista foram designados no passado como Orfeus. Os estudos da Lírica e do Lirismo estariam relacionados profundamente com as relações entre a matéria e o espírito e com o complexo de concepções vinculado à figura de Orfeu.

Os elos entre Orfeu e Cristo, documentados nas antigas catacumbas, já tinha sido estudado sob vários aspectos e tratados também no Simpósio Internacional realizado em São Paulo, em 1981, e que incluiu uma sessão musical levada a efeito no Teatro Municipal. Cumpre aos estudiosos da cultura na atualidade, analisar e reler esses símbolos do passado de acordo com as necessidades do presente, oferecendo subsídios para, se necessário, possíveis reorientações interpretativas.

		Programa Palavras de saudação da Diretoria do Teatro Música e evolução urbana de São Paulo Dr. Antonio Alexandre Bispo Música e evolução urbana de Milão à época de A. Carlos Gomes Dr.a Martina Grempler, Universidade de Bonn Estudos culturais São Paulo-Goiás Profa. Dra. Maria Augusta Calado Rodrigues, UFG Poética da Educação Musical para a urbanidade Profa. Dra. Helena de Souza Nunes, UFRS Poesia e música nos estudos culturais Profa. Dra. Rose Marie Agrifoglio, UFRS

A seguir, a Profa. Dra. Maria Augusta Calado Rodrigues proferiu uma conferência sobre elos histórico-culturais que vincularam e vinculam São Paulo com o interior do Brasil, em particular com o Brasil-Central, aqui sobretudo Goiás. Tratou também de aspectos supra-regionais da recepção de Antonio Carlos Gomes recentemente estudados.

Os vínculos de São Paulo com o Sul do Brasil foram considerados nas conferências da Profa. Dra. Helena de Souza Nunes e da Profa. Dra. Rosemarie Reis Agrifoglio, respectivamente sob os aspectos da formação muso-educativa e dos estudos culturais. A Dra. Martina Grempler, da Universidade de Bonn, tratou de vida musical de Milão à época de Carlos Gomes.

Terminando a sessão, o presidente da A.B.E. salientou as perspectivas e as dificuldades do trabalho de cooperação internacional no âmbito dos estudos culturais, em particular musicológicos. Leu, nessa ocasião, um manifesto dirigido a autoridades e instituições sobre procedimentos questionáveis por parte de algumas instituições e círculos universitários alemães.