Timbre ABE

Prof. Dr. A. A. Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e curadoria científica
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No. 89 (2004: 3)


 

titulo Coloquio 450 anos

    Entidades promotoras
    Academia Brasil-Europa
    I.S.M.P.S./I.B.E.M.: Instituto de Estudos Culturais do Mundo de Língua Portuguesa/Instituto Brasileiro de Estudos Musicológicos

    Em cooperação com
    Seminário de Musicologia da Universidade de Bonn, República Federal da Alemanha

    e apoios das seguintes instituições

    Secretaria de Cultura do Município de São Paulo
    Centro Cultural São Paulo
    Discoteca Oneyda Alvarenga
    Theatro Municipal de São Paulo
    Páteo do Colégio
    Philharmonia Brasileira
    Prefeitura e Câmara Municipal de Joanópolis
    Academia Brasileira de Música
    Fundação Casa Rui Barbosa
    Museu Casa Burle Marx, SPHAN
    Museu Imperial, MInC
    Instituto Politécnico de Coimbra
    Instituto de Estudos Clássicos da Universidade de Coimbra
    Associação Cante e Dance com a Gente RS
    Philharmonia Brasileira
    Instituto dos Meninos Cantores de Petrópolis

    Direção geral
    Dr. Antonio Alexandre Bispo

Recepção Joanópolis

 

Lírica da Terra

450 ANOS DE SÃO PAULO
COLÓQUIO INTERNACIONAL DE ESTUDOS INTERCULTURAIS
ACADEMIA BRASIL-EUROPA

Joanópolis, 17 e 18 de março de 2004

 

Jardins em JoanópolisRealizaram-se, nos dias 17 e 18 de março de 2004, em Joanópolis, São Paulo, sessões de estudo do Colóquio Internacional de Estudos Interculturais dedicadas ao tema "Lírica da terra".

Com essas sessões no interior de São Paulo procurou-se chamar a atenção aos elos que unem a cidade ao interior e às questões do relacionamento entre o urbano e o rural na história cultural.

O tema foi entendido no sentido sobretudo teórico, ou seja, os participantes deveriam tecer reflexões sobre a história do pensamento referente à terra, à música e as expressões culturais caipiras, as suas modificações no decorrer dos anos, a sua presença na atualidade da cidade e a razão dessas mudanças ou de sua intensidade.

Procurou-se inserir o tema em contextos globais, dada a internacionalidade do evento e a sua perspectiva intercultural.

A questão das relações entre o urbano e o rural em processos de urbanização e histórico-culturais deveria ser tratada também no seu aspecto teórico e na sua contextualização em diversos países.

Dever-se-ia considerar similaridades na conscientização, valorização, difusão e tratamento teórico de expressões rurais nos países latino-americanos, nos Estados Unidos e na Europa.
O escopo foi o de situar o debate relativo à cultura caipira e a sua presença na cidade de São Paulo nas diferentes fases de sua história inserindo-a em desenvolvimentos supra-regionais e até mesmo supra-nacionais.

Com essas sessões, deu-se prosseguimento a trabalhos já realizados em eventos anteriores. Debates relativos a expressões culturais sob enfoques internacionais já haviam sido desenvolvidos sobretudo no Colóquio Internacional de Antropologia Simbólica, em 1998, e nas sessões ali realizadas durante o Congresso Internacional de Estudos Euro-Brasileiros, em 2002. Nesses eventos, sobretudo a temática de uma cultura da viola havia sido particularmente tratada. Também agora foi um dos principais escopos o de considerar o papel simbólico e a inserção da viola em expressões culturais do passado e do presente. A atenção principal, porém, foi dirigida às perspectivas teórico-culturais do estudo específico.

O termo Lírica ou Lirismo foi entendido segundo o amplo complexo conceitual esboçado nas sessões efetuadas anteriormente em São Paulo.

Sessão Lírica da TerraOs trabalhos foram abertos com uma recepção e uma sessão inaugural dedicadas ao tema "Cultura Urbana no Interior". Após palavras de saudação de autoridades municipais, o historiador Valter Cassalho salientou a importância de expressões culturais tradicionais para a identidade de cidades do Interior.

A seguir, procedeu-se a uma homenagem ao músico do interior na pessoa do Mtro. João Toledano, regente da Banda Joanopolense.

Nessa homenagem, emoldurada por execuções de um grupo de músicos locais, traçou-se uma história de vida do regente, considerando o seu contexto imigratório espanhol, a sua integração no meio de trabalho interiorano na década de 30 e 40, as suas atividades profissionais em serviços de transporte nos anos 50 e 60 e a sua dedicação à música.

Particular atenção deu-se à sua produção musical, por êle mesmo elucidada em breves palavras, sobretudo aos principais gêneros cultivados e à adaptação de modêlos por êle trazidos da Espanha às circunstâncias e possibilidades locais.

A seguir tomou a palavra o Sr. Décio Badari, personalidade local que se dedica à documentação visual e valorização dos bens naturais e culturais da região. Na sua palestra mostrou, com uma exposição de fotografias, as dimensões estéticas e ecológico-culturais do tema "Lirismo da terra" e o seu significado patrimonial. A sensibilização para esses valores representaria uma importante tarefa educativa.

A.A.Bispo, agradecendo em nome dos participantes do Colóquio e da Academia Brasil-Europa às autoridades municipais e aos músicos participantes, lembrou dos eventos ali já realizados e dos trabalhos preparatórios efetuados em seminários universitários na Europa e nos quais muitos dos estrangeiros ali presentes haviam tomado parte.

Lembrou, a seguir, da situação dos debates relativos à Lírica na literatura e a retomada desse tema sob a perspectiva dos estudos culturais no âmbito da reorientação teórica que se vivencia em várias áreas do saber.

Salientou que também os estudos relacionados com o símbolo da Lira apresentam um desenvolvimento quanto às aproximações e ao aprofundamento das análises. Em todo o caso, esse símbolo está, nas suas origens mitológicas, estreitamente vinculado com concepções filosófico-naturais relativas à terra. O elemento terra na sua inserção no complexo dinâmico da matéria segundo as concepções antigas da natureza apresentava um significado por assim dizer instrumental. Tais concepções relacionavam-se com o ciclo do ano e com concepções do homem.

Como tratado em eventos passados, sobretudo no Colóquio de Antropologia Simbólica de 1988, o símbolo da Lira surge como de fundamental importância para os estudos relacionados com a viola e suas implicações culturais e, assim, para estudos do interior. O processo de urbanização e de transformação cultural colocado em vigência pelos colonizadores e missionários pode ser analisado de forma privilegiada a partir desse símbolo.

Se hoje a viola surge como emblema de uma cultura caipira, sertaneja ou rural, não se pode esquecer que nos seus fundamentos simbólicos, é antes uma expressão de uma cultura da urbanidade. A instrumentalização simbólica da terra não significou, no antigo sistema de concepções, a sua destruição. Pelo contrário, as imagens se relacionam com o amor dos céus e do espírito pelo terra e o instrumento é produto da reconciliação de tensões causadas ao intelecto por esse amor, cujos frutos se manifestam na beleza da terra. Trata-se, aqui, de um símbolo relacionado com uma das partes da dinâmica elemental que é caracterizada pela fusão, contraparte do processo de individuação. A Lira, na ordem simbólica de fundamentação filosófico-natural foi invenção de Hermes, mas passou a ser instrumento de Apolo. Essa imagem pode ser interpretada no sentido de que são as forças do intelecto, as idéias, os pensamentos, a capacidade comunicativa e de informação do homem que devem superar animosidades para com a terra e utilizá-la como instrumento de um canto apolíneo, inaugurando uma fase que corresponderia a uma primavera para a comunidade.

 

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