Prof. Dr. A. A. Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e curadoria científica
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N° 56 (1994: 6)


 

Viagens, Descobrimentos e Conhecimento

Colóquio Internacional

Anthropos ludens

Questões de Conhecimento relacionadas com a

Música e dança no culto de São Gonçalo de Amarante

Joanópolis e Ubatuba

24 a 28 de setembro de 1998
dir. A. A. Bispo

Instituto Brasileiro de Estudos Musicológicos
ISMPS/Akademie Brasil-Europa
Sociedade Brasileira de Antropologia da Música
Comissão dos Descobrimentos de Lagos

sob o patrocínio da
Prefeitura e Câmara Municipal de Joanópolis
Prefeitura de Ubatuba - FUNDART

 

Comunicação da Prefeitura Municipal de Bom Jesus dos Perdões

REZA E DANÇA DE SÃO GONÇALO

 

A dança e reza de São Gonçalo em Bom Jesus dos Perdões em geral é realizada da seguinte maneira:

A pessoa que tem promessa com o Santo acerta com o(s) folgazão (ões) a data da realização da festa.

O promesseiro monta em algum lugar de sua residência ou sítio o altar, que é uma espécie de nicho feito com taquaras de bambu, forrado com pano branco e enfeitado com flores coloridas, geralmente feitas de papel crepon. Esse nicho é colocado sobre uma mesa, pois deve ficar a uns 80 cm. do chão.

São colocados no altar todos os santos disponíveis na casa, sendo que São Beneditio e Nossa Senhora Aparecida são indispensáveis.

Quando a dança é realizada durante o dia, os folgazões fazem três voltas, e antes do início da dança rezam o terço em fila dupla diante do altar. Os puxadores do terço ficam ao lado do altar e dois em dois, os homens fazem uma pequena genuflexão, alguns se benzem, beijam as fitas ou imagens expostas e se deslocam para o final da fila.

Geralmente na primeira roda (volta), as mulheres não entram. Ficam ao lado do(s) altar(es), numa distância de aproximadamente quatro metros, apenas como expectadoras.

Quando todos os homens participantes já tiverem passado pela frente do altar, os puxadores da dança voltam para frente, mudam o ritmo da viola, e começam a puxar a roda. Neste momento, as pessoas que tiveram promessa para pagar, quando passarem pela frente do altar, apanham uma imagem ou vela acesa e dançam com o santo na mão.

O folgazão (o mestre), fica à esquerda do altar, é ele que comanda o início e o final de cada roda. O folgazão (contra-mestre) geralmente canta a segunda voz (uma terça abaixo da voz principal).

A dança é uma alternância de batidas rítmicas e vigorosas dos pés com o palmado, definida como cururu ou cajuru. O grupo de dançadores é composto de no mínimo 15 pessoas, mas em alguns locais chegam a 50 componentes por altar, os quais entram na hora da dança por devoção ou para pagar promessa.

Quando termina a primeira volta há intervalos para descanso dos cantadores/dançadores, é quando o dono da casa ou festeiro oferece um caré, suco de frutas ou água, com pão, bolo ou outro alimento. A oferta de alimentos depende muito do poder aquisitivo do promesseiro/festeiro.

Depois da pausa, que pode ser de 15 minutos a uma hora, voltam os cantadores à frente do altar. Nesta volta, algumas mulheres podem entrar e ficam no final das filas, depois de todas as duplas de homens.

Quando as pessoas seguram os santos, retirados do altar, os quais são disputados pelos devotos, esses seguram colocando-os em locais definidos, isto é: na cabeça, na barriga, ao lado do fígado, na costela. Isto significa o pagamento da promessa de alguma doença curada no lugar indicado.

A segunda volta é semelhante à primeira, sempre os cantadores e os dançadores repetindo parte dos versos a duas, três ou mais vozes. Durante a dança, sempre aparecem promesseiros que dançam com os santos na mão. Exceto Nossa Senhora Aparecida, que não sai nunca do altar, pois é proibido dançar com ela.

Quando a dança é realizada durante o dia, realizam-se três voltas, quando à noite, quatro voltas. A última volta é chamada cururu ou cajuru, momento em que o dono da casa ou sítio (festeiro/promesseiro) deve cumprir sua promessa. Com o santo na mão, é acompanhado de alguns dançadores que trazem uma vela acesa. Eles ficam no meio da roda e todos os dançadores em dupla chegam a eles e fazem o ritual realizado diante do altar-mor nas voltas anteriores. Depois que todos efetuam esse ritual para realizar a dança, que é alegre, com grande movimentação em fila, num significado de que a promessa foi cumprida e que São Gonçalo está alegre e contente com os fiéis.

Quando a dança é realizada à noite, ela só pode terminar quando o dia estiver raiando. Muitas vezes, ao final da dança, estão apenas os dançadores e os pagadores de promessa, ficando os outros participantes cochilando pelos lados, em redes, dentro de carros ou mesmo, em noites quentes, debaixo de árvores.

Para finalizar a dança, todos voltam à frente do altar, em filas duplas. Os que estavam dormindo são acordados imediatamente com os rojões e morteiros, e todos repetem a cerimônia das outras voltas, repetindo durante a cantoria que a festa "-promessa está cumprida" e a dança está terminada.

Nesta hora, com grande emoção por parte de todos, a festa está finda, o dia está amanhecendo e todos vão se despedindo do dono da casa/do sítio e dos folgazões de São Gonçalo. Há quem veio a pé, os que vieram de jipe, kombi, caminhão, a cavalo, e aos poucos, com o sol já brilhando, vão indo embora, para se encontrarem novamente em outra residência ou sítio, numa outra ocasião para mais uma vez renovarem sua devoção ao glorioso São Gonçalo de Amarante.

Como são freqüentes nos finais de semana, em algum lugar do município de Bom Jesus dos Perdões ou mesmo nas cidades vizinhas ocorre as "função", festas de São Gonçalo na zona rural como é de costume. Com intuito de resgatar a nossa cultura popular, ou seja, essas manifestações folclóricas e culturais de nosso povo e da região, para um maior apreço e incentivo da comunidade urbana, com a permissão do pároco local, essa manifestação/festa foi associada com as festas religiosas realizadas na paróquia, como a festa de São Sebastião (último fim de semana de janeiro) (obs.: na década de 30 era realizada a cavalhada).

Assim, no sábado foi introduzia a festa de São Gonçalo, na zona urbana, onde são montados e ornamentados os altares nas ruas onde se concentrarão os folgazões ao lado da igreja matriz. A proporção da festa se dá com a quantidade de altares. Aqui são montados quatro altares, três em homenagem aos vivos, todos decorados com detalhes alegres, e um em homenagem aos mortos, todo decorado com elementos fúnebres. A festa se inicia à noite, com o término da novena de São Sebastião no interior da igreja. Logo após inicia-se, em praça pública, a reza e dança de São Gonçalo com os folgazões da cidade e convidados com suas comitivas, ao som de suas violas de dez cordas e coreografia ritimada, com batidas dos pés e palmas. Dançam e louvam São Gonçalo até o amanhecer, finalizando com o tradicional cururu ou cajuru. Atualmente, com aconcentração de eventos, como a XXX prova pedestre de São Sebastião e Festa do Milho Verde, realizadas neste mesmo dia, o evento "Festa de São Gonçalo" foi transferido para o primeiro fim de semana de outubro, adjunto à festa de São Benedito, com novas atrações, como as concentrações das confrarias de São Benedito, congadas, moçambiques, caiapós e brincadeiras populares, como pau de sebo, boi bravo, porco ensebado e outros folguedos.

Obs. Nota-se uma certa desaprovação da igreja em realizar essa dança, por ser um evento externo, acompanhado de cantigas, danças e grande consumo de bebidas alcoólicas nos bares dos arredores, fazendo com que homens e mulheres, entorpecidos pelo álcool, se entreguem a atos sensuais. Segundo a lenda, São Gonçalo é padroeiro de "moças" velhas e "raparigas", tendo sido famosas as da Sé do Porto, nas "festas das Regateiras". (...)

 

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