Prof. Dr. A. A. Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e curadoria científica
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N° 31 (1994: 5)


 

Foto A. A. Bispo. Acervo I.S.M.P.S.

1994: 100 anos de Renato Almeida

Ciclo de estudos

Música nas relações culturais euro-brasileiras

Sistematização e integração dos estudos culturais

- Amazônia e Brasil Central -

projeto do ISMPS e.V. /I.B.E.M.
com o apoio de diversos órgãos oficiais e particulares, universidades e museus
desenvolvido concomitantemente com o
projeto
As culturas musicais indígenas no Brasil
do
Institut für hymnologische und musikethnologische Studien
realizado com o apoio do
Serviço das Relações Exteriores da Alemanha
sob a direção de

A. A. Bispo

Roraima

agradecimentos

Biblioteca do Estado
Diocese de Roraima
Universidade Federal de Roraima
Instituto de Antropologia
Escola de Música
Conselho Indigenista Missionário CIMI-Norte
Associação do Índio
Comunidade Makuxi-Fazenda São Marcos

 

HISTÓRIA DAS RELAÇÕES CULTURAIS EUROPA-RORAIMA

(tradução de aula)

Antonio Alexandre Bispo

(partes, sem notas e bibliografia)

 

A historiografia indígena de Roraima ainda se encontra em estado incipiente, embora existam valiosos escritos já do século XIX. À historiografia etnológica e social-econômica tem-se dedicado, desde 1982, a antropóloga Nádia Farage da Universidade de Campinas, entre outros estudiosos. Ela desenvolve pesquisas entre os Wapixana desde 1988. Na sua contribuição à volumosa coletânea "História dos Índios no Brasil", publicada em 1992, ela fala de um estado de sítio para caracterizar a situação das terras indígenas dessa região e sua identidade. A fim de dar à problemática indígena profundidade histórica, a Diocese de Roraima publicou um texto histórico produzido em trabalho de grupo, nele salientando a existência de diferentes avaliações dos fatos históricos.

Em primeiro lugar, deve-se levar em consideração as dificuldades da pesquisa de fontes e da metodologia. Essas dificuldades resultam sobretudo no fato de que o território do atual Estado de Roraima situava-se, de acordo com o Tratado de Tordesilhas, em região que fora entregue à esfera de influência da Espanha. Somente pela extensão gradual e tardia do espaço de língua portuguesa na América é que a região passou a fazer parte do Brasil atual. Sendo o domínio espanhol contestado por várias outras nações européias - Inglaterra, França, Países Baixos -, que souberam fixar-se na região das Guianas como em nenhuma outra parte da América do Sul, o desenvolvimento do território foi visto do ponto de vista de diferentes perspectivas européias. Além do mais, o protestantismo foi introduzido nas Guianas pelos inglêses e holandeses, o que também levou a diferentes acentuações nas descrições e nas avaliações dos fatos históricos. Essas complexas relações com a Europa levam a dificuldades especiais no concernente ao levantamento das fontes. A literatura inglêsa relativa à antiga Guiana Inglêsa precisa ser considerada ao lado de fontes portuguesas e brasileiras, assim como trabalhos procedentes da Venezuela.

Não se pode também deixar de reconhecer que a situação dos povos indígenas dessa região antes da chegada dos europeus não fora de forma alguma simples, pois esses encontravam-se em múltiplas relações recíprocas. Indícios dessa situação são estudados em pesquisas históricas e arqueológicas. Assim, os Caribes, que teriam sido muito hábeis na navegação marítima e fluvial, teriam mantido relações comerciais a partir do médio Orinoco, atingindo rios que hoje se encontram na divisa entre o Brasil e a Guiana. Eles teriam seguido a partir do Orinoco o Caura e o Paragua e alcançado os rios Uraricoera e Branco, regiões então habitadas por numerosos povos, em parte caçadores e coletadores, em parte agricultores. As condições naturais dessa região teriam determinado assim uma ampla nivelação cultural dos diversos povos, tanto dentro da família Caribe como também na Aruak. A necessidade de defesa contra os Caribes parece ter levado a uma aproximação mútua dos povos dessa região. Com a chegada e a entrada dos espanhóis, grupos indígenas deslocaram-se das regiões costeiras às margens de rios de regiões interioranas de difícil acesso. Esse processo determina naturalmente dificuldades para uma pesquisa de cunho etno-histórico. Por outro lado, ele criou condições de suma relevância para a Etnologia, uma vez que aqui se trata de região de refúgio de grupos populacionais que já há muito desapareceram do espaço do Caribe.

Aqui serão lembrandos alguns dados relativos ao encontro dos europeus com os índios dessa região. Após Diego de Ordaz ter alcançado o Orinoco, em 1531, - tendo sido conflitante o encontro entre espanhóis e caribes -, os espanhóis penetraram gradualmente no território do atual Roraima a partir do Norte e pelo Sul (do Amazonas), sempre à procura do lendário El-Dorado, suposto existir às margens de um lago nas proximidades da Serra Parima (hoje Pacaraima com o rio Uraricoera, antigamente chamado Parima). Em 1540, Orellana realizou a sua viagem, em 1560, Pedro Orsua.

A história do encontro ou confronto euro-indígena é caracterizada por diversas alianças que se alternaram no decorrer da história. Assim, em 1588/1590, parte dos Caribes se aliaram aos espanhóis contra os Ipurugotos que viviam na região dos rios Caroni e Paragua e que foram obrigados de retirar-se a sul para o Uraricoera. Nessas lutas, Antonio de Berrió adquiriu certo renome, denominando-se Governador de "Trinidad, la Guyana, El Dorado y la Gran Manoa". Ele foi um dos principais exploradores do território do Orinoco; entre 1584 e 1591 empreendeu três viagens exploratórias a partir de localidades de Nueva Granada, tentando obter informações a respeito do interior.

À época da união pessoal entre a Espanha e Portugal (1580-1640) ocorreu também a penetração de portugueses na região. Assim, o governador do Maranhão, Alejandro de Morera, ordenou em 1615 que se realizasse uma expedição ao território sob a direção de Francisco Caldeira. A foz do Rio Branco foi alcançada entre 1639 e 1655. De 1639 são as notícias da viagem de Pedro Teixeira, ao qual parece que se remonta a denominação Rio Branco e que fundou a Capitania de São José do Rio Negro.

Essa época deve ser considerada no contexto das tentativas realizadas pelos inimigos da Espanha de estabelecimento na região do Caribe e no Norte da América do Sul. Assim, as relações dos índios com os holandeses e os inglêses adquirem um significado histórico e cultural de extraordinária importância. Entre os inglêses, cumpre mencionar sobretudo Sir Walter Raleigh (1552-1618). Esse aventureiro, que atuou na armada huguenote sob Coligny e contra os rebeldes na Irlanda, fundou a colonia Virgínia na América do Norte; tendo esta se revelado como não lucrativa, deslocou-se, em 1595, de Plymouth em direção à Guiana, conquistando a colonia espanhola S. José em Trinidad. Ali libertou indígenas que se encontravam presos, entre eles cinco caciques que o ajudariam nos seus empreendimentos. Ele fêz amigos sobretudo entre os Aruaks; um cacique entregou-lhe até mesmo o seu filho, Cayorako, um índio que foi trazido para a Inglaterra e ali recebido com grandes honras, sendo batizado com o nome Gvaltero. Aliás, vários indígenas dessa região foram levados para a Inglaterra no século XVII. Raleigh escreveu um texto de título "The Discoverie of the Large Rich and Bewtiful Empyre of Guiana, with a relation of the Great and Golden City of Manoa (which the Spaniards call El Dorado)".

Com a finalidade de fortalecer as suas povoações perante o perigo inglês, os espanhóis procuraram conseguir braços de trabalho e promoveram indiretamente a escravização de índios e, assim, a depopulação do interior da região, que passou a ser ocupado por outros grupos que se encontravam em fuga. Relações comerciais com os inglêses e com os holandeses eram mantidas provavelmente pelos Muchikeriens (talvez os Makuxis de hoje), relações que surgem no mapa "Guiana sive Amazonum Regio" da coleção de impressões de Blaeus, de 1630. Nesse mapa aparece o lago Parima (Parime lacus) como um grande lago entre as serras ao norte do território do Amazonas. Na sua margem noroeste está indicada a cidade Manoa, identificada expressamente com o lendário El Dorado.

No século XVII tardio e no século XVIII foram intensificados os esforços do lado português em fortalecer e desenvolver a Capitania do Rio Negro para, ao mesmo tempo, suster o perigo representado pelos vínculos dos índios com ingleses e holandeses no interior. De forma crescente desceram-se índios das regiões mais afastadas do território do Rio Branco para as povoações portuguesas no Rio Negro. Ao mesmo tempo, intensificaram-se os esforços de missão católica dos indígenas do Rio Branco. Em 1692, o conselho de Belém solicitou ao rei de Portugal que remetesse missionários à região; a missão foi entregue aos carmelitas. Com triste fama ficou a expedição de 1720, que explorou esse território à procura de braços de trabalho; um dos mais conhecidos líderes de expedições dessa época foi o capitão Francisco Ferreira, do Pará, que estabeleceu-se numa aldeia Caburi na desembocadura do Rio Branco. Há também menções de revoltas e resistências do lado indígena. Um líder indígena de nome Ajuricaba parece que conseguiu, em 1723, reunir os Manáos contra os portugueses, percorrendo a região do Rio Branco a partir do Amazonas à procura de contactos com os holandeses do Suriname. Em 1729, esse líder foi preso e os Manáos dispersos. A depopulação do território foi acelerada com as expedições de Cristóvão Ayres Botello, de 1736, e a de Lourenço Belforte e Xavier de Andrade, de 1740, uma tropa bem armada, levando vários grupos de indígenas e que conseguiu trazer para Belém mais de 1000 nativos. A última expedição foi feita sob a direção de José Miguel Ayres, em 1748. Pela lei de 6 de junho de 1755, foram elas proibidas. Também do lado espanhol realizaram-se expedições na região, intensificadas ao redor de 1770 (Nicolao Martines).

A problemática indígena no século XVIII parece, assim, sobretudo ter sido marcada pelo fato de que os Caribes, inimigos dos espanhóis, com armas obtidas dos holandeses, procuravam conseguir aliados no território do Rio Branco. Os espanhóis da Venezula procuravam pacificar os indígenas com o auxílio dos missionários, a saber dos Franciscanos ao norte e dos Capuchinhos a oeste. Os Caribes retiraram-se para o território que ainda não tinha sido povoado pelos espanhós e fixaram-se ao redor de 1760 na região superior do Caroni e Paragua e abaixo do Uraricoera. Aqui alcançaram a margem da zona de influência dos portugueses, que penetravam no interior a partir do Rio Negro.

Através dessa penetração por diferentes lados, aumentaram os conhecimentos a respeito da região. Tem-se notícia de que o território foi atravessado já em meados do século XVIII: em 1741, o holandês Nikolau Hostman foi enviado ao Parima à procura de ouro; atravessou o Rio Branco em direção do Pará, onde foi preso. Em 1753, a autoridade inglêsa de Essequibo menciona os Makuxis. Os missionários Benito de la Garrida e Tomás de Mataró registraram, em 1772, informações obtidas sobre a região. Eles constataram que o procurado lago Parima não era um lago, mas sim um rio, e encontraram índios fugidos das "encomiendas" da Venezuela. Eles mencionam os seguintes povos: Sapará, Paraguayana (=Paravilhana), Matisana (=Wapixana), Barinagoto, Cuicuicoto e Ipurugoto, este possuindo armas que obtinha dos holandeses em troca de braços de trabalho.

Em 1773, no decorrer de uma expedição oficial espanhola, fundou-se um povoado (Santa Rosa) na região do Uraricoera, assim como, mais a sul, a aldeia de São João Batista. Outras tropas procuraram consolidar essas conquistas. Como reação, o govêrno do Pará enviou tropas a Barcelos - a capital do Rio Negro - , a fim de reconquistar o território sob o comando do oficial alemão Philipp Sturm. Os portugueses levantaram, em 1755, segundo planos de Sturm, a fortaleza de São Joaquim, na confluência do Uraricoera e do Tacutu. Com isso, pretendia-se também intensificar o ajuntamento dos indígenas em povoações.

Esse processo de "urbanização" não decorreu sem dificuldades e retrocessos. Os indígenas tinham, de início, pelo que tudo indica, uma atitude amiga com relação aos portugueses, pois, entre eles, tinham encontrado refúgio dos temidos espanhóis. Em fins de 1777, já estavam fundadas cinco povoações: São Felipe, Nossa Senhora da Conceição, Santa Bárbara, Santa Isabel e Nossa Senhora do Carmo (hoje Boa Vista). Os povos contrários aos portugueses (entre outros os Cariponá, Makuxi, Uaicá, Securi, Carapiu, Seperu, Umaiana), continuaram a manter relações comerciais com os holandeses; eles pertenciam provavelmente aos povos Caribes que haviam fugido dos espanhóis no passado. Os índios - na maioria talvez Aruaks - dirigiram-se de livre e espontânea vontade para as povoações fundadas pelos portugueses. Entretanto, logo houve movimentos de fuga (1780). Em 1781, estourou uma revolta, que logo se alastrou, motivada pela prisão de índios das redondezas do Forte de São Joaquim e que foram levados para Barcelos, no rio Negro. A insatisfação dos índios também pode ser explicada pelo fato de os portugueses terem tentado suprimir os antigos costumes, tais como a queima de cadáveres nas casas, a poligamia, a pintura corporal com urucu, etc..

Em fins do século XVIII, a ocupação portuguesa da região intensificou-se sobretudo por meio da pecuária extensiva, o que determinaria marcantemente o futuro desenvolvimento da região. O comandante do Forte São Joaquim fundou a Fazenda São Marcos, um capitão do Rio Negro a Fazenda São José e Lobo d'Almada a Fazenda São Bento. No relato de viagem de Manuel Sá Gama Lobo d'Almada pode-se encontrar dados a respeito das povoações do território do Rio Branco. Nele viviam, ao redor de 1787, 931 índios, governados respectivamente por um diretor, auxiliado por um único soldado. Vários grupos indígenas, fugindo dos espanhóis, tinham penetrado o território: o grupo Arina, o Quinon, o Procoto e o Auaqui; os povos Gucuripi, Guajura e Chapero encontravam-se em extinção. O povo Macú, ao contrário, mantinha-se em contacto com os espanhóis.

A característica particular das relações com o grupo Makuxi parece que já se delineava: em 1784, soldados portugueses entraram em contato amigável com esse povo; um cacique de nome Annanaly dirigiu-se ao forte, não se mudou, porém, com o seu povo para a povoação dos portugueses. Em fins do século XVIII, tentou-se, é verdade, atrair Makuxis do Norte para as redondezas do forte. Em 1790, entretanto, estourou uma revolta. Os europeus procuraram acalmar a tensão entre os grupos Wapixana e Makuxi, deslocando-os freqüentemente dentro da região ou entre o Rio Negro e o Rio Branco. Em 1798, vários grupos indígenas foram dizimados em uma batalha no contexto de uma expedição enviada ao Rio Branco para o restabelecimento da ordem.

Também registraram-se recuos de indígenas. Os índios no Norte intensificaram os seus relacionamentos com os holandeses e inglêses no decorrer do século XIX, tendo início um movimento migratório em direção da Guiana. A catequese desses índios por parte dos protestantes intensificou-se. Nos anos trinta, esses missionários também atuaram junto aos Makuxis do rio Pirara e mantinham distância com relação aos portugueses.

Do lado católico, a história missionária do século XIX foi sobretudo marcada pela substituição dos Carmelitas pelos Franciscanos. Estes concentraram várias tribos (Makuxi, Purucotó, Sapará, etc.) numa aldeia missionária no Uraricoera e que durou apenas cerca de 5 anos.

Em 1858, por força da lei N° 92, de 9 de novembro, as regiões do Amazonas foram reordenadas; a localidade Boa Vista, situada acima das cachoeiras do Rio Branco, foi elevada a sede da Freguesia do Carmo. Nessa futura capital da região viviam índios da tribo Paravilhana, segundo a tradição oral. Boa Vista era já a denominação de uma fazenda, estabelecida em 1830 por um oficial português do Forte São Joaquim.

Assim como outras regiões da Amazônia, também o Rio Branco recebeu imigrantes do Nordeste do Brasil (sobretudo do Ceará e do Maranhão) na época da grande sêca da década de setenta do século XIX, fato determinante para o futuro desenvolvimento da região.

Um quadro da situação no Rio Branco em fins do século XIX oferece o relato de viagem de H. Coudreau. Havia 32 fazendas na região; o gado era transportado por embarcações pelo Rio Branco e Rio Negro até Manaus. As viagens passaram a ser regulares e, desde 1881, forjou-se o plano de construção de uma ferrovia entre Manaus e Boa Vista. Coudreau descreveu a situação dos indígenas no Rio Branco e a vida na capital Boa Vista. Enquanto que diminuia o número de índios Wapixana, - integrados em grande parte na população geral -, e recuava o grupo Aturaiú para regiões afastadas, crescia o número de Makuxis, ou seja, justamente daqueles índios que até então tinham-se mantido distantes da civilização. Os Makuxis permaneciam, sobretudo na Guiana, em boas relações com os inglêses, com os quais faziam comércio. Os Franciscanos mantinham nessa época sete missões no território do Rio Branco. Boa Vista, com cerca de 10000 habitantes, foi elevada a paróquia.

No início do século XX, vários pesquisadores percorreram a região. Em 1908 decorreu a viagem do botânico Ernst Ule, em 1911 a de Theodor Koch-Grünberg, em 1912 aquela do botânico J.G. Kuhlmanan e do geógrafo J.D.Hasmann e, desde 1913, a do geógrafo William Curtis Farabee. Entre os grandes empreendimentos de pesquisa salienta-se a viagem de Hamilton Rice e que levou à fundação, em Nova Iorque, de um sindicado para a exploração das riquezas minerais do Rio Branco. Mais uma vez pensou-se na construção de uma ferrovia ligando Manaus a Boa Vista.

No campo eclesiástico, deve-se salientar sobretudo a atuação dos beneditinos, extraordinária no panorama missionário brasileiro. Em 1909 chegaram os primeiros monges, enviados para a Prelatura do Rio Branco; em 1911/12 fundaram uma missão no rio Surumú. Entretanto, houve sérios problemas com os políticos locais, o que prejudicou o trabalho missionário.

A história dos índios do território do Rio Branco esta intimamente vinculada com o desenvolvimento das chamadas fazendas nacionais, nas quais os indígenas trabalhavam no pastoreio. Das três fazendas da região formou-se a imensa Fazenda Nacional São Marcos, na qual vivem representantes dos povos Makuxi, Wapixana e Taurepang. Essa fazenda foi arrendada a um particular; após o término do contrato, foi dividida em várias partes e ocupada por criadores de gado particulares. Uma firma de Manaus, pertencente à família portuguesa Araújo, defendeu direitos de propriedade adquiridos. Tensões entre o administrador da fazenda nacional, políticos da região e a Igreja já eram comuns ao redor de 1910.

A partir de 1916, a fazenda foi colocada sob a administração do Serviço de Proteção aos Índios (SPI), recentemente criado. Esse Serviço construiu uma escola e forneceu aos indígenas formação artesanal e agrícola. A fazenda transformou-se em modêlo de produtividade. Em 1921, criou-se um sanatório que servia não apenas aos Makuxís mas também aos índios de regiões afastadas do Amazonas.

O General Cândido Mariano da Silva Rondon visitou em 1927 o território e encontrou-se com representantes dos povos Makuxi, Taurepang e Wapixana. Em 1931, o Serviço de Proteção dos Índios entrou em contacto com as tribos Wapixana, Makuxi, Taurepang, Ingaricó e Shiriana, estando essas duas últimas já quase extintas. Em 1940, os indígenas foram fortemente assolados por uma sêca. Os maiores problemas resultaram, porém, da penetração de forasteiros no norte do território, à procura de ouro.

Desde 1968, a Fazenda São Marcos passou a ser administrada pela FUNAI como "Colonia agrícola". Quando, nesse ano, os inglêses se retiraram do govêrno da Guiana Inglêsa e a situação dos indígenas de língua inglêsa piorou, vários grupos de Makuxi e Wapixana imigraram para o Brasil. Os maiores problemas, porém, surgiram a partir dos anos setenta com a descoberta de cassiterita em Roraima no contexto do projeto de levantamento de riquezas do solo (RADAMS).

 

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