Prof. Dr. A. A. Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e curadoria científica
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N° 30 (1994: 4)


 

Rio Branco
Foto A. A. Bispo. Acervo ISMPS e.V.

Ciclo de estudos

Música nas relações culturais euro-brasileiras

Sistematização e integração dos estudos culturais euro-brasileiros

- Amazônia e Brasil Central -

um projeto do ISMPS e.V. /I.B.E.M.

com o apoio de diversos órgãos oficiais e particulares, universidades e museus
desenvolvido concomitantemente com o
projeto
As culturas musicais indígenas no Brasil
do
Institut für hymnologische und musikethnologische Studien
realizado com o apoio do
Serviço das Relações Exteriores da Alemanha

sob a direção de

A. A. Bispo

- Acre - 

 

INTRODUÇÃO AO ESTUDO DAS RELAÇÕES CULTURAIS EURO-ACREANAS

CONDICIONAMENTOS GEOGRÁFICOS

(tradução de texto de curso, Akademie Brasil-Europa)

Antonio Alexandre Bispo

(Excertos)

 

O nome desse Estado brasileiro relaciona-se com o rio do mesmo nome e é, em geral, explicado como resultado de um mal-entendido e da deformação portuguesa na pronúncia do nome do rio Aquiry (Aquiri) na segunda metade do século XIX. O termo português Acre desperta associações que podem ser elucidadas terminologicamente (lat. acer, acris, acre) e que, possivelmente, fez com que a palavra parecesse adequada para designar essa região, caracterizada por condições de vida amargas e duras.

Esse Estado, que ocupa uma posição especial na Federação brasileira devido à situação geográfica e à história, apresenta também do ponto de vista etnológico uma feição especial, com os seus muitos grupos indígenas tão pouco conhecidos em outras partes do Brasil. A região do Acre, que despertou interesses internacionais na época do apogeu da borracha pela passagem do século XIX ao XX, chamou a atenção nacional e internacional nas últimas décadas devido a graves ocorrências de destruição ecológica, acompanhada por problemas sociais e culturais.

O Estado Federal do Acre, no Oeste da região do Amazonas (152.589 km2, maior comprimento 750 km, maior largura 300 km), até 1962 apenas Território Federal, é a unidade federativa mais ocidental do Brasil, localizada a noroeste da Amazônia brasileira, separada dos estados do Amazonas e da Rondonia não por ocorrências naturais mas sim por linhas de demarcação geodésica traçadas artificialmente (Linha Beni-Javari, Linha Cunha Gomes, de acordo com o acordo de Ayacucho de 1867, protocolado em 1895, fixado em 1905 e, em parte, modificado em 1940). Faz fronteiras com a Bolívia e o Peru. A região, úmida e plana, ainda é em grande parte coberta por pujantes florestas tropicais, sem campos naturais ou regiões de vegetação rasteira, de modo que o Acre é um "Estado florestal" por excelência. Ele compreende as regiões das cabeceiras e do curso alto de importantes rios do Amazonas ou de seus afluentes, sobretudo dos rios "gêmeos" Juruá e Purus. Do norte para o sul devem ser citados o Juruá com os seus afluentes (Amonia, Tejo, Grajaú, Humaitá, Juruá Mirim, Moa, Liberdade), o Gregório, o Tarauacá e seus afluentes (Muru, do Ouro, Envira, Jurupari), o Purus e seus afluentes (Chandless, Caeté, Macauá, Iaco); o Acre, que deságua no Purus, no Estado do Amazonas; o sul é cortado pelos rios Iquiri e Ituxi; a divisa é feita pelo rio Abuanã.

Os sistemas fluviais do Juruá e do Purus com os seus afluentes principais Tarauacá e Acre devem ser considerados dentro de um contexto geográfico que é maior do que o território do Estado Acre. Esse complexo é determinado pelos rios existentes entre o Ucayali e o Madeira: correntes relativamente lentas de água, cujas fontes encontram-se nas encostas da cordilheira (Andes Conomanas, 350 m de altura). Entre eles contam-se, - além do Juruá e do Purus -, o Javari (antigamente denominado Jacarandá), que deságua no Amazonas na região de Tabatinga, no Estado do Amazonas, e o Jutaí. Da paisagem do Purus - e assim, da região do Acre - P. Ehrenreich publicou em fins do século XIX uma plástica descrição: uniformidade opressora, nada mais do que água e floresta, o rio lamacento que escorre com inumeráveis contorções pela planície, massas compactas flutuantes de capim e de enormes troncos de árvores; região em geral plana na parte inferior dos rios, elevando-se somente ao redor de Labrea (no Estado do Amazonas).

Esses rios foram os caminhos naturais para a penetração do homem nesse território coberto de florestas naturais. Nas suas margens encontram-se hoje as principais cidades (Mâncio Lima no Moa; Cruzeiro do Sul no Juruá; Tarauacá - antigamente Seabra - no Tarauacá; Feijó no Envira; Manuel Urbano no Purus; Sena Madureira no Iaco/Purus; Rio Branco, Xapuri, Brasiléia, Assis Brasil no Acre; Plácido de Castro no Abunã). Essas cidades determinam a divisão política do Acre em 12 unidades administrativas. O tráfego fluvial - no território do Acre apenas possível no período das cheias - possibilita a ligação com Manaus e Belém. Só com o desenvolvimento do tráfego aéreo e a construção de aeroportos é que foi facilitada a ligação com as demais cidades do Estado e com as outras regiões do Brasil. No quadro do projeto de construção de um eixo de ligação com a capital do Brasil (Brasília-Acre, BR-364) batalhões de engenharia e construção abriram, em 1977, uma estrada entre Cruzeiro do Sul e Rio Branco, a qual não é apropriada para o tráfego do período das chuvas, entre Sena Madureira e Cruzeiro do Sul. A ligação entre essas duas cidades já tinha sido planejada em 1909, no âmbito de um projeto de construção de uma estrada de ferro.

Há também um projeto de criação de uma via até Pucallpa no Peru e que, através da Panamericana, possibilite a ligação com as outras capitais do continente. Há também planos internacionais de abertura de uma ampla rêde rodoviária entre o Peru, o Equador e o Brasil, o que viria servir sobretudo para a exportação de madeiras tropicais. Muitos temem conseqüências negativas múltiplas, entre outras a do incremento descontrolado do comércio de drogas. A capital Rio Branco está ligada por estradas com Porto Velho na Rondônia, com Boca do Acre no Estado do Amazonas e com outras cidades Acre (Plácido de Castro, Xapuri, Brasiléia, Guanabara, Assis Brasil).

O Atlas do Instituto do Meio Ambiente do Govêrno do Acre, de 1991, divide o Estado em sete zonas sócio-ecológicas: zona oriental ao redor de Plácido de Castro; zona ao redor de Rio Branco; Zona do Alto Acre no Xapuri; zona da bacia do Alto Purús; bacia do Envira e Tarauacá; bacia do Alto Juruá e serra de Moa. As situações ecológicas mais favoráveis encontram-se nas regiões onde também se situam as reservas indígenas, sobretudo na região da bacia do Alto Purus, com a sua estação ecológica, nas bacias do Envira e Tarauacá, onde, porém, já se explora a madeira, desde 1987, no Alto Juruá, apesar das fazendas de pecuária que se alastram às margens da estrada, e na serra Moa, onde há o parque nacional da Serra do Divisor ou Contamana.

(...)

 

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