Prof. Dr. A. A. Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e curadoria científica
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N° 69 (2001: 1)


 

Congresso Internacional Brasil-Europa 500 Anos
Internationaler Kongreß Brasil-Europa 500 Jahre

MÚSICA E VISÕES
MUSIK UND VISIONEN

Colonia, 3 a 7 de setembro de 1999
Köln, 3. bis 7. September 1999

Sob o patrocínio da Embaixada da República Federativa do Brasil
Unter der Schirmherrschaft der Botschaft der Föderativen Republik Brasilien

Akademie Brasil-Europa
ISMPS/IBEM

Pres. Dr. A. A. Bispo- Dir. Dr. H. Hülskath

em cooperação com/in Zusammenarbeit mit:

Deutsche Welle
Musikwissenschaftliches Institut der Universität zu Köln
Institut für hymnologische und musikethnologische Studien

 

OS APORTES HISTÓRICO-MUSICAIS PORTUGUESES AO CONGRESSO INTERNACIONAL "BRASIL-EUROPA 500 ANOS"

Nazir Bittar
BA em Regência pela UNICAMP (Universidade Estadual de Campinas - Sao Paulo )

 

Portugal figura no cenário histórico europeu como um dos grandes conquistadores do além mar. Como parte da cultura deste povo, os descobrimentos e colonizações criaram uma relação simbiótica entre a Pátria mãe e os filhos por ela gerados, havendo portando um intercâmbio não só humano mas principalmente cultural. Mestres na arte da navegação e concomitantemente na Matemática e na Astrologia, os portugueses enviavam suas caravelas com a incumbência de desbravar novos mundos, no afã imediato de melhorias para o Reino Português.Entretanto, ainda mais complexo do que cruzar o oceano há 500 anos atrás em pequenas embarcações de madeira sem uma infraestrutura que os protegessem das intempéries da natureza, é tentar explicar e entender hoje em dia as ligações eternas que essas naus provocaram, e que, por um lado, representam as bases de uma identidade nacional conquistada com o decorrer do tempo pelas ex-colônias, e por outro lado, encarnam a ponderação do povo português em torno do papel que este país exerce até hoje no panorama sócio-cultural em suas terras conquistadas. Estas ligações, que há muito são temas de simpósios e congressos do I.S.M.P.S. e.V. são novamente levadas à baila pelo Congresso Internacional Brasil-Europa 500 Anos realizado em Colônia - Alemanha nos dias 3 a 7 de setembro de 1999, abordando aspectos musicais e históricos no intuito de rememorar o descobrimento, o crescimento da nação brasileira, o processo de desenvolvimento ao lado das potências mundiais e, principalmente, reconsiderar as já tão antigas relações luso-brasileiras.

Aproveitando o ensejo, peço licença para recorrer às minhas raízes portuguesas, buscando em algum recanto longínquo da minha constituição genética alguma noção de navegação, para que eu possa com sucesso navegar e aportar seguramente através das 10 contribuições lusitanas que abrilhantaram este Congresso, e solicitando do meu âmago o astrolábio da verve, rogando à Vênus, que me dê um de seus principais atributos - a síntese: para que eu possa, em poucas palavras, comentar estes trabalhos (sem que haja avarias ou naufrágios), fazendo jus à qualidade dos mesmos.

O primeiro dos 10 trabalhos, "Zur Bedeutung des Themas aus musikhistorischer Sicht" vem da Universidade Nova de Lisboa, mais precisamente escrito pelo professor Gehard Doderer. De uma forma bastante objetiva, o autor percorre em poucas páginas toda a história brasileira desde o descobrimento até os tempos atuais. Os fatos históricos são abordados um a um e assim apresentam a realidade brasileira da época fazendo deste trabalho um pano de fundo bastante propício para os trabalhos seguintes, pois Doderer, ao mencionar os acontecimentos de forma cronológica, aventa já as ligações musicais Brasil-Portugal, porém sem entrar em méritos mais profundos, deixando esta tarefa ao encargo das contribuições dos outros professores.

Complementando o que a priori chamei de pano de fundo, Armindo Borges, vice-presidente do I.S.M.P.S e.V., se encarrega de mostrar em seu trabalho "Vokalpolyphonie in Portugal von den Anfängen bis zur Goldenen Epoche und seine Ausstrahlung in Brasilien", a situação musical portuguesa no período dos descobrimentos. O autor analisa e propõe soluções no que diz respeito às poucas evidências da música polifónica durante a fase Cisterciense, abrandando a idéia quiçá errônea de que a severa forma de vida religiosa desses presbíteros tivesse influenciado na produção musical religiosa da época. Borges também apresenta uma apreciação de alguns compositores, cujas formações e, por conseguinte, produções musicais tiveram influências ora franco-flamenca, ora românica. Alguns deles como Damião de Góis, músico e intelectual de peso, amigo de Erasmus de Rotterdam e Heinrich Glareanus; Pedro de Cristo, considerado como um dos principais baluartes da polifonia vocal do século XVI; e, finalmente, Duarte Lobo, um dos maiores compositores e mestres de capela de Portugal, têm destaque em sua análise, onde o autor mostra, encerrando o seu trabalho, que a música polifónica sacra portuguesa teria, tempos mais tarde, um grande papel na maior colônia deste país. A situação musical do Brasil-colônia é abordada, analisada e, finalmente, dada como exemplo bem sucedido do trabalho da igreja no arrebanhamento de novos fiéis, dando a música sacra como fator que contribuiu veementemente para esse processo.

Quase como um enredo novelístico, os dois trabalhos que se seguem reforçam a teoria da importância da música sacra no processo de colonização brasileira. A professora Elisa Lessa - Universidade do Minho (Braga) com o aporte "Os Beneditinos portugueses e o voto de 'Passar o mar': a música nos mosteiros do Brasil" e o professor José Maria Pedrosa Cardoso - Universidade de Coimbra com "Reflexos da música litúrgica portuguesa no Brasil colonial" discutem os motivos que levaram ao Brasil tantos sacerdotes, assim como o trabalho desempenhado por eles, não só de catequização como também de construção de um alicerce musical que a posteriori aliado às influências étnicas que viriam formar o que chamamos hoje de música brasileira.

"A música na documentação histórica portuguesa respeitante ao Brasil: alguns elementos" é o trabalho oferecido por Ana Balmori, membro da Comissão Municipal dos Descobrimentos (Lagos). A autora aponta materiais históricos onde indícios do exercício da música são mostrados. O primeiro grande documento Luso-Brasileiro é certamente a carta de Pero Vaz de Caminha, onde a autora relembra os resultados de pesquisas de outros autores que ali acharam os primeiros elementos esclarecedores das hipóteses de como e quando realizou-se no Brasil os primeiros sons da música sacra portuguesa.

Encerrando a temática religiosa, João Paulo Janeiro (Évora) traz em seu trabalho "Imagens da música sacra em Portugal na primeira metade do século XVIII" , mostrando por sua vez a situação da música sacra portuguesa dois séculos após o descobrimento do Brasil; como se compunha e quem figurava no cenário musical da época.

Com "Visões e perspectivas de investigação da música e personalidade de Marcos Portugal (1762-1830)" traz Bárbara Villalobos - Centro de Estudos de Sociologia e Estética Musical (Lisboa), uma série de considerações a respeito da vida e da obra de um dos mais considerados compositores portugueses. Deveras polêmico, o trabalho abre margem à uma série de outras pesquisas sendo o tema de bastante interesse para musicólogos e historiadores.

A Universidade de Coimbra sempre foi tema presente nas obras dos grandes romancistas brasileiros do séc.XIX , seja como sonho almejado de uma personagem, seja como experiência do próprio escritor vivida nos tempos de formação literária. E é justamente esse o assunto que dá procedimento a esse verdadeiro manancial de informações sobre a música em Portugal. "Considerações a respeito das relações musicais entre Coimbra e o Brasil" escrito por Maria do Amparo Carvas Monteiro, obviamente de Coimbra, é um levantamento dos brasileiros que tiveram a oportunidade de burilar seus conhecimentos nesta Universidade. O intercâmbio cultural promovido por essa relação se mostra, segundo a autora, até nos chamados "Fados de Coimbra", onde músicos brasileiros e portugueses, num gesto de mútua influência, compunham de maneira peculiar a música seresteira portuguesa.

Teresa Cascudo - Museu da Música Portuguesa (Estoril), dá o pré arremate desta parte do Congresso. "Brasil como tópico, Brasil como espelho, Brasil como argumento: As relações de Fernando Lopes-Graça com a cultura brasileira" é na verdade a síntese de toda a idéia originária deste Congresso. A autora aborda o intercâmbio cultural-musical deste compositor português com seus contemporâneos brasileiros, mostrando, como já antes dito, que as ligações Brasil- Portugal se dão nos níveis mais diversos, rejeitando a idéia de que as maiores relações se dão no nível político. A história deste compositor com seus colegas brasileiros é baseada no interesse lato da música em si, mostrando mais uma vez que o oceano que separa Portugal e Brasil nunca se apresentará como barreira intransponível.

Finalmente fecha-se esse cíclo histórico com o trabalho de Paul Terse, de título "Some short comments reflecting upon the transcendental idea regarding american art music of the 20th century". O autor busca, através de exemplos sucedidos nos Estados Unidos, uma compreensão maior dos padrões musicais onde ex-colônias se enquadrariam, fomentando assim elocubrações a respeito da música do séc. XX, que por si só já é bastante polemizada.

É impressionante ver o quão vasto é o campo da musicologia, mesmo que ela se restrinja a um período, a um país ou mesmo a um tema, são praticamente inesgotáveis as possibilidades de pesquisa, de aprofundamento. Oportunidades como o Congresso Brasil-Europa 500 Anos sublinham sobretudo que a riqueza cultural de um país só é realmente reconhecida a medida em que é levada ao conhecimento público através de palestras, artigos, documentários e eventos como este que trazem à publicação de material de estimado valor para estudiosos da música.

 

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Texto sem notas, bibliografia, exemplos musicais e ilustrações.
Artigos completos nos Anais do Congresso "Brasil-Europa 500 Anos: Música e Visões".

Text ohne Anmerkungen, Bibliographie, Notenbeispiele und Illustrationen.
Vollständige Beiträge im Kongressbericht "Brasil-Europa 500 Jahre: Musik und Visionen".

 

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