Prof. Dr. A. A. Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e curadoria científica
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N° 68 (2000: 6)


 

Congresso Internacional Brasil-Europa 500 Anos
Internationaler Kongreß Brasil-Europa 500 Jahre

MÚSICA E VISÕES
MUSIK UND VISIONEN

Evento especial integrado/ Integrierte Sonderveranstaltung

IV SIMPÓSIO INTERNACIONAL
"MÚSICA SACRA E CULTURA BRASILEIRA"


MÚSICA E VISÕES DO PONTO DE VISTA DA ESPIRITUALIDADE
MUSIK UND VISIONEN AUS GEISTIGER SICHT

Maria Laach, 5 de setembro de 1999

Institut für hymnologische und musikethnologische Studien e.V.

 

UMA VISÃO COM BASE NO CONVÍVIO COM ÍNDIOS KRAHÔ, POVO DA PAZ

Valber Dias Barbosa (Valber Kontxä)
Tocantins/Minas Gerais

 

EINE VISION AUF DER GRUNDLAGE DES ZUSAMMENLEBENS MIT DEN INDIANERN: KRAHÔ-VOLK DES FRIEDENS

Der Verfasser nimmt seit 19 Jahren am Leben der Krahô im heutigen Bundesstaat Tocantins teil. Er ist inzwischen dermaßen integriert, daß er sich als ein Krahô fühlt und sich mit den Indianern, ihrer Kultur und ihren Sorgen identifiziert. Er könne sagen, er gehöre bereits zu ihrer Geschichte, und diese sei Teil seiner eigenen Lebensgeschichte. Er sieht das Leben in der Gemeinschaft, die Gleichheit der Rechte, die Bedeutung des Gemeinsamen und die Freiheit der Menschen gegenüber materiellen Werten als vorbildhaft in der indigenen Kultur. Diese Werte würden den westlichen individualistisch und kapitalistisch geprägten Menschen als unverständlich und herausfordernd erscheinen. Gerade in diesen Werten sieht er jedoch die lebendige Gegenwart Gottes. Evangelisieren bedeutet demnach für ihn vor allem, den Indianern zum Bewußtsein zu bringen, daß ihre einfache, fröhliche, gemeinsame Art des Lebens Ergebnis der Wirkung und der Präsenz Gottes ist, die ihnen durch die Weisheit und die Lehre ihrer Ahnen, wahren Meistern und Propheten, offenbart wurde. Die Anerkennung und Rettung der Spiritualität der indigenen Kultur stellt eine dringende Aufgabe für die Gegenwart dar. Dafür ist jedoch die Schaffung geeigneter kirchlicher Strukturen notwendig.

A.A.B.

 

Participando desde 1973 de missões entre os indígenas, há 19 anos concentro minhas atividades indigenistas em aldeias da nação Meii, no norte do Brasil. Dentre as vários tribos Meji, com as quais venho mantendo contato naquela região, minha missão maior foi com o povo Krahô, com o qual me identifiquei muito, sobretudo a partir dos nove anos de inserção radical na aldeia de Kenpoikré. Atualmente, não estou mais permanentemente na aldeia, por força mesmo do meu projeto de vida em favor das culturas indígenas, da sua preservação e promoção. Entretanto, tenho passado eventuais temporadas na aldeia, mantendo assim sempre algum contato com o povo indígena. Acho muito forte dizer isto, mas afirmo que, de alguma forma, tomei-me como que índio com os Índios, Krahô com os Krahô, para os quais me chamo Kontxã. Posso dizer que faço parte da sua história, como eles fazem parte da minha história.

A Vida Religiosa Consagrada, levada a sério, é prenúncio e sinal do "Reino de Deus", não tanto pela consagração pessoal dos seus componentes, mas muito mais pelo exemplo de vida comum, pela igualdade de direitos, pela supremacia do bem comum e a liberdade dos componentes diante dos bens materiais. A vida comunitária Krahô é também perpassada por esses mesmos valores, tornando-se por isso incompreensível e desafiante para uma mentalidade impregnada de convicções capitalistas e propostas individualistas. Pela minha experiência, atesto que as vidas comunitária e familiar Krahô são muito exigentes.

Evangelizar ou anunciar o Reino de Deus no meio do povo Krahô é, acima de tudo, conscientizá-lo e convencê-lo, se possível, de que sua vida simples, alegre e bonita, sua cultura comunitária é proveniente da ação/presença mesma de Deus através da sabedoria e do ensinamento dos seus ancestrais anônimos, verdadeiros mestres e profetas. Daí, penso, o meio mais excelente desse anúncio é a participação na vida comunitária indígena, com a mente e o coração abertos para aprender e a disposição de ser evangelizado pelos pequenos.

Depois de não poucos anos de experiência e de dedicação aos indígenas, a sua causa, a sua preservação cultural e promoção de seus valores, cheguei à conclusão de que, dado o abandono em que, geralmente, estão as populações indígenas por parte da Igreja ou os erros cometidos no seu modo de pensar a questão indígena e considerando ainda a quase impossibilidade de aquelas populações serem absorvidas pelas instituições locais da Igreja, dioceses e paróquias tradicionais - a não ser quando os indígenas se tomam desfigurados culturalmente ou sob formas disfarçadas de sincretismo religioso de conveniêncioa social ou política - é chegado o momento ou já quase passou de buscar alguma alternativa mais consistente no trato com as Culturas Indígenas. Por isso, estou defendendo, junto aos bispos brasileiros, a idéia e conveniência da criação de uma Prelazia Pessoal para as populações indígenas e os que se dedicam a elas. Imagino, entretanto, que a, "Prelazia" seria apenas uma solução viável dentro das limitações circunstânciais da Igreja institucional, hoje; seria desejável que fosse além disso, quem sabe propiciando-se o surgimento de um como que, "Rito Amerindio", conm um jeito peculiar de expressar-se na espiritualidade, na teologia e na liturgia. Os documentos do Magistério da Igreja, "Diálogo e Missão" e "Diálogo e Anúncio" abrem espaços novos de compreensão que precisam sair do papel e compor, esta sim, uma verdadeira nova evangelização do próximo século. Realmente, a Igreja necessita de atitudes mais arrojadas e proféticas para entrar no 3° milênio sendo uma luz para os povos, inclusive para os povos indígenas. Se a Igreja se recusar a isso, Deus pode fazer dos povos indígenas uma luz para a Igreja e para os demais povos, isto é, para os que têm olhos e vêem, para os que tem ouvido e ouvem.

A "Prelazia Pessoal para os Índios" seria um grande gesto de respeito e de acolhimento da Santa Igreja aos Povos Indígenas, junto à comemoração dos 500 anos de contato com o Cristianismo ocidental.

A Prelazia poderia incrementar uma alternativa de caminhada da Igreja, anunciando uma novidade ao mundo, mostrando um aspecto diferente da face da Igreja segundo a inspiração de João XXIII e o espírito do irredutível documento Evangelii Nuntiandi. A Prelazia Pessoal para os índios e os indigenistas abriria um novo forum de compreensão das Culturas Indígenas e das Espiritualidadas Indígenas do Brasil e, quiçá, da América Latina.

A Prelazia significa, acima de tudo, um voto de confiança da Igreja no Índio, abrindo-lhe um novo caminho de esperança. Talvez, o melhor canal para levar aos quatro cantos da terra a voz indígena e o que essas culturas milenares sobreviventes como, "reliquias de humanidade" encerram de ensinamento ao velho mundo engolido por uma ambígua globalização.

Facilmente, se podem delinear algumas iniciativas e benefícios afins com o fato de uma Igreja Particular de rosto indígena: o respeito às peculiaridades culturais levadas realmente a sério; procura de formação adequada dos indígenas vocacionados à vida religiosa ou a ministério ordenado, bem como oferecer suficiente espaço à preparação especializada dos agentes não-índios, pensando-se, inclusive, numa necessária atenção às áreas culturais indígenas e à distinção entre os principais troncos linguísticos - delineadoras das coincidências ou particularidades das espiritualidades e outras características fundamentais das diversas culturas indígenas.

Enfim, a perspectiva de abertura ao surgimento de um ou mais "Ritos Ameríndios" seria capaz de reverter previsões pessimistas de ameaças à sobrevivência cultural indígena e, mais ainda, resgatar a própria história da Igreja no Brasil de tantos percalços no trato com o índio nestes 500 anos.

O meu voto pela preservação das Culturas Indígenas e pelo reconhecimentto e promoção das suas espiritualidades - que sejam estas objeto de diálogo iluminado pelos critérios evangélicos e pela imprevisibilidade pneumática dos sinais do Reino de Deus, renovadores da face da terra.

 

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Artigos completos nos Anais do Congresso "Brasil-Europa 500 Anos: Música e Visões".

Text ohne Anmerkungen, Bibliographie, Notenbeispiele und Illustrationen.
Vollständige Beiträge im Kongressbericht "Brasil-Europa 500 Jahre: Musik und Visionen".

 

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