Timbre Correspondencia Euro-Brasileira

Prof. Dr. A. A. Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e curadoria científica
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N° 16 (1992: 2)


 

VIAGEM DO CZAR FERDINANDO DA BULGÁRIA (1927-1928) PELO BRASIL: ECOLOGIA E CULTURA
DER KÖNIG REIST: TAGEBUCH VON DER SÜDAMERIKAFAHRT DES ZAREN FERDINAND VON BULGARIEN
Dez. 1927-April 1928 (München/Berlin 1929)

Antonio Alexandre Bispo

(Excertos)

 

Czar Ferdinando da BulgariaFerdinando (Viena 1861 - Coburg 1948), da família Sachsen-Coburg-Koháry e oficial do exército austríaco, foi eleito em 1887 a rei da Bulgária, então sob a égide do Império Otomano. Em 1908, proclamou-se Czar do reino independente dos búlgaros e, durante a Primeira Guerra Mundial, tomou o partido das forças centro-européias, abdicando a favor de seu filho, Boris III., em 1918. Procedendo de família ligada por estreitos vínculos à casa real portuguesa e à família imperial brasileira e tendo visitado na sua juventude Portugal e o Brasil, o rei Ferdinando manteve vivo interesse por tudo o que se relacionasse com a Península Ibérica e a América do Sul. No Brasil tinha ele visitado quando jovem o príncipe Augusto de Sachsen-Coburg, genro de D. Pedro II e admiral da Marinha brasileira.O seu relacionamento com a área luso-brasileira deu-se sobretudo na tradição católica da casa Sachsen-Coburg, o que se manifestou nos seus elos com abades alemães de mosteiros beneditinos do Brasil. Como entomólogo e ornitólogo, o principal interesse do Czar Ferdinando no Brasil disse respeito à conservação da natureza; por diversas vezes manifestou-se publicamente contra a devastação das florestas e a dizimação dos pássaros brasileiros pelos colonos, sobretudo italianos. A sua maior preocupação era de que o Brasil viesse a ser uma segunda área mediterrânea, onde a falta de compreensão e cultura florestal destruíram no passado o originariamente rico meio natural. Com a finalidade de realizar estudos e contribuir à proteção da natureza, realizou ele, de dezembro de 1927 a abril de 1928, uma viagem particular, incógnito e com pequena comitiva científica, à América do Sul.


Die Orgel setzte ein - kannte der Organist die Wagnerverehrung des Königs?- mit dem Pilgerchor aus Tannhäuser. Leise zuerst, in zarten, warmen Tönen. Leise zuerst, in zarten, warmen Tönen. Allmählich gewaltiger, in dem langsamen, mächtigen Rhythmus, in dem das Gefäß durch die Kirche schwang. Höher und höher flog das Weihrauchfaß, aromatische Wolken verbreitend. Atemlos starrte die Menge. Mit höchster Anstrengung zogen die Mönche an dem Seil, das über eine Rolle lief. (...) Eine helle Flamme brach daraus hervor, donnernd setzte die Orgel ein mit allen Registern - Ein furchtbares Schauspiel, das alle in Bann hielt, lähmend und unabwendbar.

Roselius, op.cit. 14

Uma pequena orquestra acompanhou-o no navio. As principais notícias de interesse histórico- musical transmitidas pelo diário de viagem relacionam-se, porém, com os países visitados. Em Santiago de Compostela, celebrou-se missa solene na catedral. A dramaticidade do emprêgo de música de Wagner (!) indica que a reforma sacro-musical ainda não estava totalmente implantada nesse principal centro de peregrinações do Ocidente:

"A missa desenvolveu-se em profunda compenetração. De repente, os sinos voltaram a tocar. Do alto, do teto da catedral, pendia numa longa corda um incensório artísticamente trabalhado e muito pesado. Lentamente começou a movimentar-se, como um pêndulo, puxado por 10 monges. O órgão executou o Coro dos Peregrinos de Tannhäuser - será que o organista sabia da paixão do rei por Wagner? Inicialmente com sonoridade leve e quente, tornou-se gradualmente de maior potência, seguindo o rítmo grandioso com o qual o incensório se movimentava através da igreja. O incensório atingia cada vez maiores alturas, soltando nuvens aromáticas. A multidão estarrecida nem respirava. Os monges, com extremo esforço, puxavam a corda que corria de um rolo.O incensório movimentava-se quase até o teto, soltando fumaça branca e passando com assustadora força por cima das cabeças da multidão. Dele saía uma chama clara e o órgão trovejava com todos os registros. [....] Por fim, o pêndulo arrefeceu e a música tornou-se mais serena e baixa, até terminar com o alleluia, quase inaudível. Aí a tensão esvaiu-se e a multidão soltou a respiração." (op.cit. 14)

Da estadia do rei em Lisboa cumpre salientar a visita ao Jardim Botânico e ao Palácio das Necessidades e a seu parque, onde lembrou-se do trabalho de reflorestamento feito em Portugal pelo marido de D. Maria II da Gloria, D. Ferdinand, também da família de Coburg. Do ponto de vista musical, o relato referente a Lisboa e a Funchal não oferece interesse especial.

Quanto à estadia na Argentina, cumpre salientar a referência do diarista a respeito do Presidente Marcelo T. de Alvear (1922-28) como incentivador do tango:

"O Presidente Alvear, cuja presidência termina este ano, é uma poderosa personalidade. A sua cortesia e a forma tranqüila com que fuma o seu charuto o fazem muito simpático. Assim como a sua espôsa, que foi artista, também ele tem muitos pendores para a arte. Ele segue de perto as discussões européias a respeito da Arte e do Artesanato. Na sua casa ele tem obras de artistas argentinos que muito prometem e que são muito melhores do que o Kitsch monumental italiano de Buenos Aires. As obras de arte desses talentosos jovens argentinos são modestas e sinceras, e aí é que reside o seu valor.// O Presidente Alvear foi também aquele que reconheceu o valor do Tango Argentino como música popular argentina. A alma do povo vive no Tango. Sem o Tango não se compreende o argentino. Tudo o que é vivido, tudo o que se passa na alma do jovem artista, mesmo que seja de natureza prosaica, tudo e expresso no Tango, e todo o povo, do presidente até ao gaúcho e ao peon nele toma parte. Os textos são na sua maioria de conteúdo trágico. O presidente Alvear foi o primeiro que fez realizar concursos de tangos, que se realizam anualmente no Teatro Colon, o mais famoso da América do Sul.// Ao iniciar a estação no Teatro Colon, o mais alto acontecimento social da Argentina, não há uma única ópera de maior relêvo que o Presidente e sua mulher não assistam. As apresentações são exclusivistas. O público, em trajes de gala, é constituído quase que exclusivamente por criollos, as famílias mais antigas. As entradas para as filas e os camarotes ficam esgotadas para toda a temporada. É um acontecimento social de primeira grandeza, quando Kleiber levanta a sua famosa batuta, e os olhos de centenas das mais belas mulheres da Argentina se dirigem à cantora ou ao cantor cujo nome corre o mundo." (op.cit. 116)

Czar Ferdinando da Bulgaria no BrasilNo dia 26 de fevereiro, aniversário do rei, quando o navio entrou no porto de Santos, a orquestra executou o Hino Nacional Búlgaro. Esperado pelo abade Kruse do Mosteiro de S. Bento de São Paulo, o Czar Ferdinand assistou à missa solene na Catedral de Santos, celebrada pelo bispo local.

Da estadia no Rio de Janeiro, cumpre salientar a missa solene em gregoriano realizada no Mosteiro de São Bento, com a presença do abade de S. Paulo e do Rio de Janeiro. Assim como em Buenos Aires, o interesse da delegação foi dirigido à música popular:

"Como o Copacabana- Palace era mais internacional do que brasileiro, nós nos dirigimos mais tarde a clubes locais situados nas proximadades da Avenida Rio Branco e onde quase só se dança Maxixe. O Maxixe é para o Brasil o que é o Tango para a Argentina. Mas o rítmo é diferente. É uma dança rápida de tipo polca, com constantes síncopes, eletrizante, extasiante e excitante. Quem se movimentou no Tango com gestos soltos e com economia de energias, transforma-se de repente, deixando-se cair no rítmo selvagem, insinuante e balançado do Maxixe. O público é bem misturado, constitui-se porém em grande parte de brancos. Apesar disso, lá encontrei uma preta bem bonita do Estado de Santa Catarina, que falava muito bem o alemão. No Sul há muitos pretos que falam alemão." (op.cit. 165)

 Da der Copacabana-Palast jedoch mehr international als brasilianisch ist, fuhren wir später noch zu einem der einheimischen Lokale oder Klubs, die in der Nähe der Avenida Rio Branco liegen, und wo fast nur Maxixe getanzt wird. Die Maxixe bedeutet für Brasilien, was für Argentinien der Tago. Aber der Rhythmus ist ein anderer. Es ist ein schneller, polkaartiger Takt in dauernden Synkopen, elektrisierend, aufreizend, berauschend. Was sich am Tage mit lässigen, energiesparenden Lebensäußerungen bewegt hat, ist jetzt auf einmal wie umgewandelt, hineingerissen in den wilden, aufpeitschenden, schaukelnden Rhythmus der Maxixe.

Roselius, 165

 

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