Prof. Dr. A. A. Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e curadoria
científica
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N° 15 (1992: 1)
1822-1992: 170 anos da Independência do Brasil: Música nas relações
culturais - Mundo de língua alemã/Mundo de língua portuguesa AN DEN RÄNDERN DREIER ERDTEILE: EINE REISE DURCH DIE KÜSTENGEBIETE
SÜDAMERIKAS, SÜDEUROPAS UND AFRIKAS E.R.KEILPFLUG BERLIN, 1931
Materiais: Fontes gerais pouco consideradas
Obras de impressões gerais ou de percepção de ambientes
("NAS MARGENS DE TRÊS CONTINENTES: UMA VIAGEM ATRAVÉS DAS REGIÕES
COSTEIRAS DA AMÉRICA DO SUL, DO SUL DA EUROPA E DA ÁFRICA")
(Excertos)
O livro de E.R.Keilpflug, publicado pela Associação Popular dos Amigos do Livro (Volksverband der Bücherfreude) e distribuído somente a seus membros, deixa entrever idéias de cunho racial e a influência da situação político-ideológica da Alemanha na época. Passando por La Coruña, como o último bastião da Europa, e por Las Palmas, nas Canárias, o autor descreve a vida de bordo, com "música orquestral e de gramofone", (op.cit. 15) e faz críticas ao "comércio humano" da emigração alemã. O seu primeiro relato detalhado diz respeito a Santos:
"Especialmente no bairro do porto nota-se como brancos e pretos, misturados, realizam o mesmo trabalho; de resto, não se diferencia em nada de outros grandes portos: as mesmas lojas sujas, ruas ruins, casas discutíveis e bares duvidosos que divertem a sua clientela com a música de gramofones, aparelhos muitas vezes excelentes. Nesses passeios à hora do melancólico por-do-sol, em mundo estranho, é muito agradável ouvir de repente um famoso cantor de Jazz soar no meio de uma letárgica praça, uma melodia com a qual dançou-se dois anos antes na Europa [...]". (op.cit. 45)
A descrição de outras cidades, e do Brasil em geral, é em geral negativa e irônica neste livro. Do Rio de Janeiro, foi novamente a música de gramofones que mais impressionou o autor:
"E a cidade é bonita, e a cabeça do Cristo na tampa do motor é apenas sentimental, não ridícula ou blasfêmica; na Praça Marechal Floriano e na Avenida Rio Branco, com as suas guirlandas de lâmpadas, os prédios de arquitetura ambiciosa e fria são iluminados pelo sol, e o tráfego barulhento se movimenta mais intensamente que em Berlim; das lojas abertas nas ruas transversais da Avenida soam gramofones, - os mais perfeitos que até hoje ouví -, e, quando tocam Wagner, cujas melodias já batidas eu nem posso mais agüentar, então é para mim um pedaço da pátria, da Europa." (op.cit. 114)
Também Salvador não mereceu observações muito positivas do autor. As suas referências à música sacra, porém, já indicam que a reforma sacro-musical já estava em grande parte implantada:
"A outra Bahia, a cidade cristianíssima, fundada por brancos na
exótica costa que não lhes pertence, senão a Deus, às cobras venenosas
e aos colibrís, povoada antigamente por escravos negros pobres,
broncos e acorrentados da África, dos quais a metade já morria
durante o transporte pelo tratamento desumano, - a outra Bahia,
cidade nascida da dominação de reis distantes e padres, situa-se
na escura noite, cortada pelas golfadas húmidas do vento da tarde.
E por isso estão agora escancaradas as portas das igrejas como
bocarras, delas saindo a luz delas para a rua e um canto em menor
de monges, mortalmente cansado, finamente harmonizado e murmurante,
um ora pro nobis, um lamento em eco de tempos passados e um pedido
para as incontáveis almas que aquí morreram pela febre amarela
e pelas armas. No semi-escuro dos nichos sentam-se imóveis em
hábitos marrons, enquanto olhamos estarrecidos a grandiosidade
louca de ornamentos dourados, que irradiam de todas as colunas
e paredes [...]
[...] na cidade baixa, no porto, concentra-se a multidão à frente
de uma igreja iluminada com lampadas européias até a ponta das
torres, na qual o canto em honra a algum santo se mistura com
o barulho da feira do outro lado da rua." (op.cit. 139-139)