Timbre Correspondencia Euro-Brasileira

Prof. Dr. A. A. Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e curadoria científica
© 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1999 by ISMPS e.V. © 2006 nova edição by ISMPS e.V.
Todos os direitos reservados


»»» impressum -------------- »»» índice geral -------------- »»» www.brasil-europa.eu

N° 15 (1992: 1)


 

1822-1992: 170 anos da Independência do Brasil: Música nas relações culturais - Mundo de língua alemã/Mundo de língua portuguesa
Materiais: Fontes gerais pouco consideradas

1822-1922-1992: Memória de um empreendimento teuto-brasileiro pelo Centenário da Independência do Brasil

O Brasil e a Alemanha 1822-1922: Um livro dedicado às boas relações entre os dous paizes, com collaborações brasileiras e allemães mandado edictar pelo Dr. Alfred Funke. Berlim: Editora Internacional, 1923O Brasil e a Alemanha 1922

"A Editora Internacional, uma empreza de Berlim que procura construir as pontes de ligação e de Paz entre a Allemanha e a America latina, não poupando para tal, toda sorte de sacrificios, tenciona levar a além mar a cultura e o espirito allemão, afim fazel-o conhecido pela literatura e ajudar a grande obra da Paz no mundo e me incumbio, apezar (...)da grande deficiencia em material (...) de organizar o presente livro merecendo pois louvor o emprehendimento que levou a cabo o seu director Dr. Germano Kirchhoff (...).
Habent sua fata libelli disse Horacio, e assim queira que este livro seja recebido no Brasil como uma prova para o glorioso Paiz e Povo brasileiro, que festeja seu centenario de independencia festejado por todos os paízes do mundo e como um mensageiro da fortuna para os proximos cem annos, e ainda mais, para união pacifica e amistosa dos dois paízes. Ha vinte annos ou mais que trabalho pelo engrandecimento do nome do Brasil na Allemanha ou pelo valor do trabalho allemão no Brasil e isso, tanto verbalmente como por escripto e dahi não me poder ninguem tomar a mal se digo que 'Não pode haver melhor futuro para os dois paízes do que um ajudar ao outro, com a sua fortuna (...)."

 

 

Fabrica de Ferro de Ipanema

Porta monumental da Fábrica de Ferro Ipanema (Sorocaba)

Homenagem a D.Pedro II
Viagem de estudos do ISMPS: Alemães no interior de São Paulo. Sessão Centro Cultural de Ipanema (Foto: H.Hülskath, Acervo ISMPS)

A colonização alemã foi de fundamental importância na formação populacional e cultural dos Estados do Sul do Brasil. Colonos vindos de diversas regiões da Alemanha trouxeram consigo práticas musicais religiosas e profanas, repertório musical distinto daquele desenvolvido históricamente no contexto luso-brasileiro, instrumentos e tipos próprios de organização da vida musical. Nas regiões de colonização alemã desenvolveu-se intensa atividade musical. Uma verdadeira rêde de contactos entre associações, grupos corais e instrumentais, músicos e cantores possibilitou uma organização supra-regional de entidades e pessoas com interesses afins. Vínculos com o meio musical da Alemanha permitiram aquí um singular relacionamento internacional no âmbito da cultura. Duas nações que se orgulham de sua cultura musical, o Brasil e a Alemanha, estão assim ligadas entre si por estreitos elos histórico-musicais.

Embora podendo-se encontrar em livros e artigos referências a entidades, músicos e compositores que atuaram nos meios alemães dos Estados do Sul, o desenvolvimento musical dessas regiões ainda não foi integrado na História da Música do Brasil. Tem-se aqui importante tarefa para os estudos musicológicos.

O estudo histórico-musical das relações teuto-luso-brasileiras não pode, naturalmente, restringir-se à imigração alemã ocorrida desde o século XIX no Rio Grande do Sul (Col. São Lourenço, Col. São Feliciano- Lagoas dos Patos, Kroff, Silveira Martins, Santa Maria, Santo Angelo, Germânia, Santa Cruz, Montalverna, Teutonia, Taguary, Haburgerberg, São Leopoldo, Col. São Leopoldo, Nova Petrópolis, Mundo Novo, Col. Três Forquilhas, Colona São Pedro e outras), em Santa Catarina (São Bento, Annaburg, Dona Francisca - Joinville, Badenfurt, Blumenau, Brusque, São João, Desterro-Florianópolis, Santa Isabel, Theresopolis, Angelina, Santa Teresaa e outras) e no Paraná (Assugny, Curitiba e outras), embora esses estados exemplifiquem da forma mais evidente a grave lacuna existente no panorama musicológico do mundo de língua portuguesa.

Subestimada parece ter sido até o momento a importância de instituições musicais dos alemães de São Paulo, sobretudo em Campinas e na Capital, ignorando-se uma particular história musical que apresenta diversificadas fases no seu relacionamento com a vida musical paulista e paulistana desde meados do século XIX.

Também a contribuição alemã ao Rio de Janeiro (Petrópolis, Teresópolis, Nova Friburgo, Cantagalo e outras) mereceria um cuidadoso estudo, dos esforços destinados ao desenvolvimento da música de câmara e sinfônica no Império, - recorde-se também a origem alemã do último mestre da Capela-Imperial, Hugo Bussmeyer (1842-1912) -, aos concorridos cursos de férias de Teresópolis das últimas décadas.

O Espírito Santo, praticamente desconhecido do ponto de vista histórico-musical, não poderá prescindir da consideração da vida musical de suas colonias de língua alemã. (Col. do Rio Novo, Col. Santa Isabel, Col. Santa Leopoldina e outros).

Práticamente não lembrada foi até agora a prática musical dos meios alemães em Minas Gerais (Filadelfia e outras localidades) e na Bahia (Caravelas, Colonia Leopoldina, Santa Clara e outras localidades), sobretudo em Cachoeira de São Félix, com repercussão em todo o Recôncavo.

Outras regiões e localidades do Brasil poderiam ser citadas. A história da vida musical mais recente e da criação contemporânea em várias cidades do Brasil foi além do mais influenciada por atividades desenvolvidas por entidades culturais alemãs, entre elas o Instituto Goethe.

Varnhagen Sorocaba
Estudos: Pensamento alemão no Brasil: análise e crítica de obras de A.Varnhagen. Trabalhos do ISMPS- Vista da antiga Fábrica de Ferro de Ipanema, hoje Centro Cultural
O estudo histórico-musical das relações teuto-luso-brasileiras não diz respeito somente às regiões onde houve fixação de alemães. Ele inclui a consideração de personalidades individuais de músicos, regentes, professores e compositores que atuaram no Brasil e exerceram influência no seu meio e época. Deve-se lembrar também dos muitos nomes de brasileiros que realizaram estudos na Alemanha ou que lá atuaram artísticamente. Muito pouco foi até agora considerado das relações assim desenvolvidas e dos elos que podem ser esclarecidos através das mesmas no âmbito das conceituações musicais. Vários vultos da música brasileira seriam assim melhor compreendidos nas suas idéias e ações. Ao lado de personalidades de excepcional renome que exerceram subida influência no ensino musical do Brasil, como Alberto Nepomuceno (1864-1920) e Leopoldo Miguez (1859-1902),- este particularmente entusiasmado pela Neudeutsche Schule -, deve ser aqui lembrado, entre outros, Pedro Irineu Jatobá (1895-1948), fundador da Escola Normal de Música da Bahia, e cuja formação não pode ser entendida sem a consideração das concepções do Abade Basilius Ebel de Maria Laach, famoso gregorianista. (A "Enciclopédia da Música Brasileira: Erudita, Folclórica, Popular, São Paulo 1977, 374 fala errôneamente de Basílio Ettel da Universidade Marl Laach!)

Entre vários outros nomes da história da música do Brasil particularmente ligados ao mundo musical alemão podem ser aquí citados, em arbitrária e incompleta série, Paulo Florence (1864-1949) que, assim como Félix de Otero (1868-1946), foi professor do Instituto Musical de São Paulo, Antônio Sá Pereira (1888-1966), personalidade-chave da Pedagogia Musical no Brasil e Frutuoso de Lima Viana (1896-1976), colaborador musical ativo dos alemães de São Paulo.

A música sacra católica de grande parte do século XX no Brasil não pode ser estudada sem a consideração da tradição ceciliana de Ratisbona. Os principais agentes desse movimento reformador sacro-musical foram os franciscanos de Petrópolis, em primeiro lugar Frei Pedro Sinzig (1876-1952). Também a prática do canto gregoriano nos mosteiros beneditinos brasileiros vincula-se históricamente com determinadas abadias alemãs, sobretudo de Beuron.

Henriqueta Rosa Fernandes BragaNão é possível, sobretudo, estudar a história da música religiosa evangélica n Brasil sem a consideração de seus elos com a Alemanha. A própria tolerância do culto evangélico no Brasil do século XIX deu-se no contexto do incentivo imperial à imigração. Para a história da música religiosa evangélica no Brasil tem-se significativos documentos até mesmo dos séculos XVI e XVII, como já salientou Henriqueta Rosa Fernandes Braga. (Música Sacra evangélica no Brasil: Contribuição à sua história, Rio de Janeiro, 1961) A própria difusão do Protestantismo no Brasil da atualidade, embora mais caracterizado pela influência norte-americana, exige que se dedique uma maior atenção ao relacionamento histórico-musical do Brasil com o país da Reformação. Amplos círculos da população brasileira não podem ficar, - também sob o ponto de vista musical -, sem a possibilidade de um aprofundamento histórico de sua cultura.

O outro lado do estudo dos relacionamentos histórico-musicais teuto-luso-brasileiros diz respeito à visão do Brasil e sua música na Alemanha. Sob este aspecto, impõe-se um levantamento de fontes (artigos de jornais e revistas, cartas, documentos de arquivos de instituições oficiais e particulares, etc.), assim como uma consideração das menções feitas à música em obras dedicadas ao Brasil.

 Dr. M. de Oliveira Lima

Die deutschen Bücher über Brasilien sind unter uns viel weniger bekannt als die französischen und englischen, weil de Zahl derjenigen Brasilianer, welche das germanische Idiom sprechen, eine beschränkte ist; jedoch gerade unter ihnen finden sich die interessantesten. Kein Reisender des sechzehnten Jahrhunderts erreicht Hans Staden in realistischer und gleichzeitig malerischer Schilderung, kein Gelehrter des neunzehnten Jahrhunderts übertrifft Spix und Martius in Fülle, Gründlichkeit und Originalität der Beobachtungen, kein Historiker kann Handelmann an die Seite gestellt werden (...)

Ein Geleitwort Seiner Exzellenz des brasilianischen Gesandten und bevollmächtigten Ministers (...) in Brüssel, Heinrich Schüler, Brasilien: Ein Land der Zukunft, Stuttgart u. Leipzig (3. Aufl. 1912), V

O significado dessa literatura foi salientado por M. de Oliveira Lima, em 1911:10

"Os livros alemães sobre o Brasil são muito menos conhecidos entre nós do que os franceses e os ingleses, pois o número daqueles brasileiros que falam o idioma germânico é limitado; entretanto, é justamente entre eles que se encontram os de maior interesse. Nenhum viajante do século XVI chega à altura de Hans Staden na descrição realística e ao mesmo tempo pictórica; nenhum erudito do século XIX supera Spix e Martius na quantidade, exatidão e originalidade das observações; nenhum historiador pode ser colocado ao lado de Handelmann [...].
Eu cito esses nomes, ao azar, da rica literatura teuto-brasileira, que levou Canstatt a relacionar criticamente os mais interessantes estudos. [...] alguns viajaram oficialmente, vários publicaram livros e brochuras com ataques que culminaram em ofensas, o que demonstrou superficialidade [...] Outros foram, como se sabe, escritos com grande consciência, como os do Freiherrn von Eschwege e muitos outros [...]. A essa espécie pertence o livro do Sr. Heinrich Schüler [...].
O Brasil tem um vivo interesse de ser conhecido pelos estrangeiros, mas exige, de forma justa, que tal ocorra nos limites da verdade e da justiça. Os louvores exagerados são logo desmascarados.[...]".
(Prefácio de Heinrich Schüler, Brasilien: Ein Land der Zukunft, Stuttgart e Leipzig, 1912.)

Esta obra, de um autor que viveu várias décadas no Brasil e que procurou entender a "alma do povo luso-brasileiro" e do "Deutschtum" no Brasil, não inclui, infelizmente notícias musicais. Apresenta porém, ilustrações de interesse, como do carnaval no Rio de Janeiro, dos teatros municipais da antiga capital e de São Paulo).

(...)

 

zum Index dieser Ausgabe (Nr. 15)/ao indice deste volume (n° 15)
zur Startseite / à página inicial