Prof. Dr. A. A. Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e curadoria científica
© 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1999 by ISMPS e.V. © 2006 nova edição by ISMPS e.V.
Todos os direitos reservados


»»» impressum -------------- »»» índice geral -------------- »»» www.brasil-europa.eu

N° 12 (1991: 4)


 

Solene marcha de "heróis-guerreiros na conquista dos louros no Parthenon":
O "Hymno a São Paulo" de Paulo Florence

(Excerto)

 

Paulo Florence Hino a Sao PauloO Instituto Musical de São Paulo foi uma das instituições particularmente ligadas com o movimento cívico de São Paulo. Sob a direção de João Gomes de Araújo Júnior (1868 ou 1871-1963), essa instituição empenhou-se na divulgação de um hino composto por um de seus professores, Paulo Florence (1864-1949), talvez o exemplo musicalmente mais valioso do hinário da época. O produto da vendo do hino deveria reverter integralmente em favor da "Assistência às famílias dos Combatentes".

O "Hymno a São Paulo", com letra de Fagundes Varella e música de Paulo Florence, foi publicado sob os auspícios da "Liga das Senhoras Catholicas" de São Paulo pela Off. Typo-Lytho-Calcographica Musical CEMB e cantado em primeira audição na Rádio Cruzeiro do Sul, em 26 de julho de 1932, sob a regência do Mtro. João Gomes Júnior. Nessa data já haviam ocorrido as sérias operações militares no Vale do Paraíba (semana de 13 a 20 de julho):

"Examinando-se a situação militar das Fôrças Constitucionalistas ao fim da 1a. semana de operações militares, no Vale do Paraíba, e levando-se em conta as informações conhecidas sôbre o adversário, pode-se ver que o ocorrido neste lapso de sete dias deteve definitivamente a progressão da 2.a D.I.O. para Este, direção Barra do Piraí-rio de Janeiro. Daqui por diante, o que se vai passar serão lances de bravura, transes amargurados pela deficiência de reservas e fraca dotação de munições, dificuldades de tôda a sorte (...)" (Euclydes Figueiredo, op.cit. 183).

Ostentando a bandeira paulista com 21 faixas (11 negras e 10 brancas) na sua capa, o hino decanta São Paulo como "terra de liberdade, Pátria de heróes e berço de guerreiros". São Paulo surge como "o louro mais brilhante e puro, O mais bello florão dos Brasileiros!" O movimento paulista é comparado dramáticamente com o quebrar das algemas de escravos:

"É no teu solo, em borbotões de sangue / Que a fronte erguem destemidos bravos, Gritando altivos, ao quebrar dos ferros: Antes a morte que um viver de escravos!"

Relacionando a ânsia de São Paulo pela liberdade com o ato da Independência do país na colina do Ipiranga, o hino dacanta esse caráter como intrínseco à natureza da região:

Hymno a Sao Paulo"Foi nesses campos de mimosas flores, A voz das aves, ao soprar do norte, Que um rei potente as multidões curvadas bradou, soberbo: - Independência ou morte!": "Foi do teu seio que surgio, sublime, Trindade eterna de heroismo e gloria / Cujas estatuas cada vez mais bellas / Dormem nos templos da brasilea historia! // Pejaste os ares de sagrados cantos / Ergueste os braços e sorriste á guerra / Mostraste, ousado, ao murmurar das turbas, Bandeira imensa da cabralia terra". O hino termina com o imperativo do combate, com o incentivo à luta dos paulistas quais novos atenienses para a conquista dos louros no "Parthenon":
"Ei-a caminha! O parthenon de gloria Te guarda o louro que premia os bravos / Vôa ao combate, repetindo a lenda: Morrer mil vezes que viver escravos!"

A idéia de um templo grego aos heróis da pátria lembra a concepção do templo de mármore branco construído por Luís I da Baviera (Donaustauf perto de Regensburg, 1830-1941). O compositor, natural de Campinas, que havia realizado estudos na sua juventude na Alemanha (Kassel, Leipzig) e posteriormente na Itália, autor de obras de envergadura que não deixam de manifestar o espírito de seus mestres alemães (Prelúdio e fuga em lá maior, para piano; Sonata fantasia, para piano e violino, etc.), concebeu para o hino uma melodia de caráter austero, que procede sobretudo por graus conjuntos, sustentada magestosamente por acordes. Procurou dar à sua composição uma solenidade quase que religiosa, por assim dizer inspirada na concepção germânica de hinos pátrios. O climax do texto, nas palavras "Gritando altivos ao quebrar dos ferros" e "Vôa ao combate, repetindo a lenda!" é alcançado musicalmente com o enriquecimento da harmonia em vigoroso crescendo, tendo o seu apogeu num dramático salto de oitava em fortíssimo, para terminar patéticamente em retardando nas palavras: "Antes a morte que um viver de escravos!"

 

zum Index dieser Ausgabe (Nr. 12)/ao indice deste volume (n° 12)
zur Startseite / à página inicial