Timbre Correspondencia Euro-Brasileira

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N° 11 (1991: 3)


 

ALGUNS ESTUDOS DE TRADIÇÕES ALAGOANAS DE ORIGENS PORTUGUESAS

 

Antonio Alexandre Bispo

(Excertos)

 

Em 1938/39, o pesquisador Dr. José Maria de Melo, em trabalho publicado no Jornal de Alagoas, apresentou aos leitores alguns cantos funerários recolhidos em Viçosa. Também o Pe. Ferreira Neto dedicou-se à recolha de cantos fúnebres em Pedra da Paciência e em Pão de Açúcar. A seguir, o folclorista Théo Brandão colheu cantos funerários em Viçosa (1942), Pilar (1945 e 1954), São Miguel dos Campos (1952 e 1955), Maceió (1955), muitos dos quais gravados. Com base nesse material, Théo Brandão publicou na Rivista Folklore (Napolis X/!-IV, 1956) o detalhado estudo "Pesquisa de cantos e ritos funerarios de Alagoas", no qual demonstra a aproximação da excelência de Alagoas a um canto religioso português registrado por Jaime Lopes Dias em Etnografia da Beira (III,59):

"Ora, tal cântico existe igualmente em outras regiões de Portugal, por exemplo na região do Entre Douro e Minho, onde o anotou o prof. Augusto Cesar Pires de Lima, no terceiro volume de seus alentados e preciosos Estudos Etnográficos, Filológicos e Históricos (...)" (págs.7-8)

Theo Brandão, em estudo de 1955, colocou a questão da origem da melodia e do texto de "La Condessa":

"De Espanha, diretamente, como estava a indicar o nome, ou através de Portugal como tantas outras peças folclóricas que vieram até nós de outras regiões da Península? (...) Duas coisas, entretanto, podíamos perceber a vista desarmada: o brinquedo era realmente um romance e o romance relatava um episódio típico da vida medieval: a escolha da noiva. // (...) nunca nos abandonou o desejo de metermo-nos também a rastrear os caminhos que trouxeram a cantiga de terras de Aragão e Castela para as matas e sertões do Nordeste do Brasil. // (...) ao deparar no número 11 do Boletim Trimestral da Comissão Catarinense de Folclore o trabalho do meu erudito amigo e mestre Prof. Fernando Pires de Lima, um dos maiores folcloristas vivos da pátria lusitana, não pudemos resistir à atração de compendiar as versões que desde há alguns anos, com a lentidão e as dificuldades inherentes a quem vive em província pobre e afastada dos grandes centros, vimos coligindo sobre o velho brinquedo de La Condessa."

O autor chega à seguinte conclusão:

"Cremos (...) que em Espanha se tenha formado o jogo ou primitivamente o romance, e daí, deterras de Aragão e Castela se tenha difundido para as regiões circunvizinhas e sobretudo para os países latino-americanos que receberam da Península suas mais caras tradições e que ainda hoje as conservam tanto ou melhor que suas pátrias de origem."

Já os títulos dos primeiros trabalhos publicados no século XIX indicam o contexto religioso do qual a cultura tradicional da região faz parte e seus vínculos de origem com Portugal, como o fortemente enraizado culto a São Gonçalo de Amarante o demonstra. Acertadamente, o primeiro Boletim Alagoano de Folclore foi dedicado ao período de Natal, particularmente rico de tradições na região, o segundo ao da Festa de São João, tendo-se posteriormente editado um caderno exclusivamente relacionado com a Semana Santa em Alagoas (Ano V e VI/N° 1 e 2, 1960-61). Neste último boletim, republicou-se artigo sobre "A Quaresma na Velha Cidade das Alagoas", de Pedro Paulino da Fonseca, primeiramente apresentado na Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas (XII, 1942/43, 18-26). As recordações do autor demonstram que a antiga capital da Província foi uma das cidades do mundo de língua portuguesa onde se conservou por mais tempo um complexo de tradições relacionadas com esse tempo do calendário litúrgico. Digno de especial menção é o costume da assim chamada "Serração da Velha" em várias cidades de Alagoas, já alvo de vários estudos em Portugal e nas ilhas atlânticas. O próprio Boletim republicou antigo estudo (1932) de Luís Chaves com indicações a respeito ("O Ciclo Quaresmal em Portugal", 37-40).

(...)

 

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