Timbre Correspondencia Euro-Brasileira

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N° 09 (1991: 1)


 

Literatura

 

Guiomar Alcides de Castro. Professor João Ulysses Moreira

Fundação Teatro Deodoro. Maceió: Sergasa/Serviço Gráficos de Alagoas, 1984. 80 pp., músicas, fotos.
Conteúdo: Gratidão; Abertura; A Genealogia; A Infância; A Vocação; Retreta; A Realização; Fechamento; Músicas Profanas compostas pelo Professor João Ulysses Moreira; Fontes de informação; Músicas para piano; Valsa Primeiro de agosto; Valsa Pérolas d'Alma; Valsa 12 de junho; Valsa Aida; Valsa Saudades de Alagoas; Valsa Sonhos de Virgem; Schottisch Amor Leal; Valsa Débora; Polka Saltitante; Valsa Carolina.

A autora pretendia publicar o seu trabalho para o centenário de nascimento do compositor João Ulysses Moreira (1882-1955), seu primo, ocorrido a 11 de junho de 1982. A sua convicção a respeito da necessidade da investigação histórico-musical é expressa na seguinte frase:

"O homem não veio ao mundo para mergulhar no nada negativo, nem cair no vazio que lhe apague as fulgurações do espírito, sob qualquer modalidade em que se apresente. A arte que não reflete para a posteridade morre nos instantes fugidios como instantâneos evanescidos no tempo. Nisso está o perigo do pensamento, que no sentido da reflexão histórica não mais atende ao passado e à tradição."

Por isso, o seu livro "não contém estudo polêmico, nem reconhecimento crítico com base do criticismo humanístico implicador de inquirições e conclusões que forcem argumentos dialéticos." (págs. 16-17).

Ressalta o problema que sempre teria prejudicado os músicos alagoanos:

"Se Carlos Gomes, o bolsista do Imperador, não houvesse saído de Campinas e estudado na Itália com a ajuda do Governo Imperial, não teria os triunfos obtidos com o Guarani e o Escravo (...). Sofreria então o mesmo destino dos músicos alagoanos, que não puderam desenvolver, lá fora, o talento sacudido pelos impulsos ínsitos da sensibilidade artística, à mingua de meio favorável." (pág. 18)

O compositor nasceu de família de origem galego-portuguesa, em 11 de junho de 1882. Viveu inicialmente no meio de espanhóis e portugueses que dominavam o antigo comércio de São Miguel dos Campos, regiões vizinhas e o interior sertanejo. O seu contacto com a música deu-se através da Banda da Sociedade Filarmônica Artística Miguelense. Órfão aos 7 anos, João Ulysses teve uma infância conturbada, fugindo para Maceió, onde foi obrigado a assumir diversas ocupações modestas. Foi lavador de cavalos na casa de Manoel Pinto do Amaral Lisboa Filho, cujo pai, de origem portuguesa, foi professor de dança (:L. Lavenère, "Recordando", Gazeta de Alagoas, 20 de dezembro de 1959).

Realizou o seu aprendizado de música na Banda da Escola de Aprendizes Marinheiros com o mestre Benedicto Raimundo da Silva (Benedicto Piston). Mantinha contactos com o lexicógrafo Isaac Newton de B. Leite, com Tavares de Figueiredo e com o mestre-capela José Barbosa de Araújo Pereira, atuante na Catedral e nas igrejas do Livramento e Martírios. O jornal "Gutenberg", de 28 de março de 1895, já anuncia uma composição de João Ulysses, o dobrado "Pugnadores da época".

A autora chegou a examinar a biblioteca musical do compositor:

"Boquiabri diante da quantidade de livros, de cadernos e de álbuns das óperas dos maiores compositores do mundo, que se avolumavam, já muito estragados, cheios de inúmeras anotações em tinta vermelha, denunciando constante manuseio. Havia, também obras sobre acústica, (...)." (pág. 46)

Como compositor, escreveu também música sacra e de câmara, sendo afamado regente de orquestra das festas da Igreja de Bom Jesus dos Martírios e da orquestra Odeon. Foi o fundador da Tuna Alagoana (1904) e o diretor de concertos do Círculo Musical, fundado em Maceió, em 1910. Colaborou ativamente com a Cruz Vermelha Portuguesa por ocasião da entrada de Portugal na Guerra (1916), regendo, entre outros, uma "Grande Fantasia" para piano e bandolins e o "Il Guarany" de Carlos Gomes em versão para piano, bandolins e cello, executado por 32 senhoritas (pág. 58).

O biografado teve numerosos discípulos, entre eles Maria Augusta Correia Monteiro, Venúzia de Barros Melo, Hilda Calheiros Teixeira e Joel Soares.

(A.A.B.)

 

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