Prof. Dr. A. A. Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e curadoria
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N° 08 (1990: 6)
Comentários à Nota Pastoral da Comissão Episcopal Portuguêsa de Liturgia
O Prof. Dr. José Augusto Alegria, Cónego da Sé de Évora, conhecido
por vários trabalhos fundamentais para a História da Música de
Portugal, sócio honorário da Sociedade Brasileira de Musicologia,
publicou, no volume X do Boletim do Arquivo da Universidade de
Coimbra (págs. 161-173) um artigo denominado "Comentários respeitosos
à nota pastoral da Comissão Episcopal de Liturgia datada de 22
de novembro de 1985". Nesses comentários, o autor, segundo o qual
a Igreja em Portugal permanecem "como verdades axiomáticas, a
vulgaridade de mãos dadas com a mediocridade" (pág.162), examina
detalhadamente a referida Nota Pastoral. Diz que "quando a Igreja
em Portugal quis, de facto, valorizar a Liturgia com música de
qualidade, fundou escolas junto das catedrais e dos mosteiros
nas quais recolhia os aprendizes da arte, fornecendo-lhes o respectivo
ensino perfeitamente disciplinado e protegido com regulamentos,
alguns dos quais nos são conhecidos revelando o altíssimo conceito
em que, nesses tempos, era tida a função da Liturgia. (pág.164)
O autor corrige a Nota Pastoral: "O que já não é de todo correcto
é a referência aos nossos seminários apontados como alfobres do
ensino da música quando a verdade, salvo honrosas excepções, é
totalmente ao contrário". (pág.165) Segundo ele, "o que aconteceu
também em Portugal, foi exactamente o contrário do estabelecido
na letra e no espírito do articulado conciliar. (...) Todos foram
juízes competentes na matéria, introduzindo, ao arrepio de toda
a prática musical nas igrejas, os mais variados instrumentos (...).
Aproveitando o silêncio da Autoridade, deu-se início ao reinado
das violas que passaram em muitos seminários e casas religiosas,
a ser o instrumento por excelência na prática da Liturgia (...).
Mas, como era novidade e assumia uma forma de contestação da Tradição
da Igreja, o processo violeiro propagou-se perfeitamente à vontade
acompanhado de livrinhos, impressos ou policopiados com o título
bizarro de Ritmos Religiosos destinados à cobertura de todas as
ocorrências litúrgicas" (pág. 170). O autor recorda que "só a
colecção Portugaliae Musica da Fundação Calouste Gulbenkian, já
fez publicar até agora, nada menos do que 2774 (...) páginas de
música litúrgica de autores portugueses! E todo este monumental
acervo de música, pelos vistos, está condenado às salas de concerto
e classificado como impróprio para o uso de tão badalado Povo
Cristão (...) (pág.172). Em novo trabalho, ainda a ser publicado,
o Con. José Augusto Alegria analisa as falsas interpretações de
conceitos que levaram à atual situação calamitosa da música nas
igrejas de Portugal. Entre os conceitos errôneamente interpretados
está o conceito de "Povo", no qual misturou-se indevidamente conceitos
bíblicos (Povo de Deus) com concepções sociológicas.