Prof. Dr. A. A. Bispo, Dr. H. Hülskath (editores) e curadoria
científica
© 1989 by ISMPS e.V. © Internet-edição 1999 by ISMPS e.V. © 2006
nova edição by ISMPS e.V.
Todos os direitos reservados
»»» impressum -------------- »»» índice geral -------------- »»» www.brasil-europa.eu
N° 07 (1990: 5)
Antonio Alexandre Bispo
(Excerto)
Paul Marcoy salienta com desapontamento que pouco restava da situação
florescente do Alto Amazonas no século XVIII, cujas missões teriam
feito "bater mais forte o coração do verdadeiro cristão". Principalmente
o interior do rio Negro, que teria até mesmo recebido o nome de
"Côrte do Solimões", era, na época, "silencioso como uma tumba".
O artista, no relato de sua viagem de Nauta a Tabatinga, faz referências
a índios que viviam nessa região de limites nacionais, sobretudo
aos Ticunas. Uma de suas primeiras observações refere-se à língua:
"Os sons guturais do hebraico, as duplas consoantes do quechua,
os g, os j e os x do castelhano são sílabas aveludadas em comparação
com o gagarejo vocal dos Ticunas; mais tarde tentei anotar musicalmente
algumas palavras, no desespêro de tentar escrevê-las".
Como a maior parte das tribos ribeirinhas, os Ticunas compreendiam
o Tupi.
O visitante colecionou flautas e tambores. Registrou a redução populacional desses indígenas: a nação Ticuna, que já fora mencionada nos relatos do séculol XVII, ocupava, na época em que Pedro Teixeira subiu o rio, a margem esquerda do Amazonas entre os rios Ambiacu e Atacoari. Esses limites territoriais permaneciam os mesmos, o número dos indígenas era porém menor. Catequizados várias vezes por carmelitas portugueses e jesuítas espanhóis, tinham sido vítimas de epidemias. Paul Marcou salienta que já viviam sem chefes, organizados simplesmente em famílias, e que no sistema religioso era notória a mistura de concepções (uma das esferas da duplicidade cosmogônica havia passado a ser considerada como região do mau-olhado).
Durante a sua viagem no Atacoari, Paul Marcoy foi testemunha de uma prática demonstradora da coragem feminina na qual um "etnólogo conservador de velhas doutrinas" teria visto prova irrecusável da existência de amazonas no rio Nhamondas, uma idéia difundida por Orellana e, na França, por La Condamine.